Reflexões e Resoluções

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Bom, espero que ainda tenha leitoras depois de um bom tempo sumida. Boa leitura!

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 Após saírem do elevador, no saguão da empresa Velmont, Letícia devolveu o lenço para Igor e agradeceu-lhe pela gentileza de emprestá-lo, além de pedir desculpas pela atitude e ofensa de Marcos.

- Não precisa me agradecer, dona Letícia. É o meu trabalho cuidar da sua segurança e do seu bem-estar – disse com polidez sem esboçar nenhuma expressão no rosto – Quanto ao seu pai, não tem que me pedir desculpas a respeito. Faz parte.

- Faz parte você aguentar ofensas e humilhações? – ela tentou sorrir, mas sem sucesso, ainda mais por Igor não lhe responder e manter a postura neutra e fria – Ainda assim, peço desculpas em nome dele.

O segurança se limitou a perguntar se Letícia desejava voltar a ONG. Ela decidiu ir para a mansão, não tinha a menor condição emocional de retornar ao seu local de trabalho. Pediu a Igor que falasse com Pedro para levá-la de volta para a casa e entrou na limusine.

No carro, ligou para a Laura e apenas disse que não se sentia bem, mas não quis dar maiores detalhes à amiga preocupada; talvez em outro momento em que suas ideias estivessem mais organizadas.

Aproveitou a vantagem de ter um painel na limusine que a separava das vistas dos dois empregados para se entregar ao choro mais uma vez.

Eu me casei com Ricardo por dinheiro! Eu me casei por dinheiro!

Sua mente lhe gritava o tempo todo. Que espécie de pessoa ela era? Sempre pensou que fosse uma mulher incrível pelo pouco que lhe diziam, pelo que via nas fotos e pelo reconhecimento de seu trabalho na ONG. Pelo visto, era apenas uma fachada, uma que seu pai conhecia.

Ao se lembrar de Marcos, a raiva e a decepção fervilharam em Letícia. Como ele era hipócrita! Julgava e ofendia Ricardo, sendo que devia a ele a salvação da própria empresa. Seu esposo, como boa pessoa que era, ajudou a erguer a multinacional e a manter o emprego de milhares de pessoas.

Será que Ricardo desconfiava do real motivo de ela ter se casado com ele? Afinal, quase não falava sobre a relação deles. Por outro lado, os olhos dele brilhavam ao comentar sobre a lua de mel, dando a entender que foi perfeita. Ela mesmo teve a breve recordação em que estavam dançando num luau. Além disso, havia aquela foto dela ainda na lua de mel em que parecia mais feliz, em contraste com as do dia de seu casamento.

As fotos do casamento. Aquela expressão triste...

Talvez por ter aceito se casar com Ricardo por dinheiro, no dia da união não conseguisse disfarçar o quanto a situação a contrariava. Ou talvez àquela altura ela tenha se apaixonado pelo esposo e estivesse com peso da consciência por tê-lo enganado.

Não sabia o que pensar; havia um contraste de fotos e de lembranças. Em pouco tempo talvez teria se apaixonado pelo marido? Ou estava fingindo que o amava? Havia ainda aquela primeira lembrança com ele em que fizeram amor no banho e a sensação não era de desprazer; tampouco aquela dança no luau; ela desejava mesmo o marido.

Balançou a cabeça. Quanto mais tentava encaixar as peças do quebra-cabeça, mais tudo ficava confuso. Sobressaltou-se quando seu smartphone vibrou. Era Marcos; pensou em ignorá-lo, não sentia a menor vontade de falar com seu pai. Porém, não deveria julgá-lo, afinal, ela própria havia decidido cumprir a vontade dele. Com um suspiro, atendeu.

- Fale, pai.

- Letícia, você está bem?

- Não. – admitiu seca – Estou indo para casa. Não posso ir para a ONG depois do que lembrei.

Perigosas LembrançasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora