Quem sou eu, quem é ele

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 Bom, o primeiro capítulo propriamente dito da história. Espero que gostem.


Enfim, divirtam-se!

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Escuridão. Era tudo o que conseguia distinguir. As pálpebras estavam pesadas e ela não conseguia abri-las. Um cansaço, uma letargia tomava conta de seu corpo.

Silêncio. Não escutou nenhum ruído a princípio, mas, pouco a pouco, o som de uma voz alcançava seus ouvidos. As palavras ininteligíveis formavam estruturas reconhecíveis:

-... tem que acordar, Letícia. Eu... não suporto te ver assim.

Uma voz masculina.

-Nunca me perdoarei se você...

O som de um choro interrompeu a frase, deixando-a incompleta.

Súbito, uma luminosidade entrou no seu campo de visão. Os olhos queriam enxergar além.

- Juro que...

Sua consciência estava quase à tona. Um arquejo involuntário que soltou fez a voz se calar.

- Letícia...

A inflexão era um misto de surpresa e expectativa. Ela estava mais consciente, embora não conseguisse sair do estado letárgico. Mexeu os lábios, mas não conseguiu emitir som. Sentiu pela primeira vez o contato de sua mão com alguma coisa, outra mão, forte... a de um homem. O perfume dele, cítrico, invadiu suas narinas.

- Não, por favor... não se esforce. Não tente falar nada, nem se mexer – havia na voz uma mescla de alegria, ansiedade e preocupação – Vou chamar a enfermeira. Eu... eu já volto, Letícia, juro que só me afasto por um momento.

A mão quente e forte largou a sua; escutou passos que corriam se afastarem, apenas permaneceu a fragrância no ar. Sentiu-se desamparada, era alguém que parecia se importar e não estava mais ali. Só que... não conseguiu reconhecer o dono da voz. Estranho.

E ele citou um nome. Letícia. Era o seu? Não conseguia associar. Ela se chamava... Como se chamava mesmo?

Uma forte dor de cabeça a fez arquejar outra vez. Passos se aproximavam; talvez fosse o homem com a enfermeira. Mas ela... começava a afundar de novo naquele estado letárgico, inconsciente, embora sua vontade quisesse flutuar.

A última coisa do qual teve consciência foi da mão forte tocando em seu ombro e o som abafado da voz proferindo o repetitivo nome:

- Letícia...

- 0 –

Sua consciência voltou. E de vez, por fim. Abriu os olhos lentamente imersos na escuridão e a luz os invadiu. A primeira coisa que viu foi um teto branco com uma lâmpada fluorescente.

Havia uma superfície macia debaixo de seu corpo: lençóis e colchão. Aos poucos, tomou ciência do lugar em que estava. Um quarto. Escutou um barulho de um bip. Olhou para sua esquerda, havia um aparelho, um desses que serviam para detectar os batimentos cardíacos.

Então estava num hospital.

Sentiu um incômodo na mão direita, virou a cabeça e viu que era uma agulha presa em um de seus dedos, talvez para conduzir algum medicamento em sua corrente sanguínea. O movimento repentino com a cabeça lhe causou dor no pescoço; gemeu baixinho. Uma voz masculina se pronunciou:

- Letícia!

Com a metade do corpo inclinado para a frente por causa da parte superior erguida da cama, vislumbrou o homem branco que a chamou; estava sentado numa poltrona do outro lado a pouca distância de frente para ela. O cabelo liso e castanho bem cortado; o cavanhaque e bigode da mesma cor; a expressão ansiosa no rosto e o corpo inclinado para a frente. Ele se levantou de imediato, foi até ela, posicionou-se à sua direita, inclinou metade do corpo e estendeu o braço em direção ao dela; deteve-se, como se temesse tocá-la.

Perigosas LembrançasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora