– Então o quê? – Lele insistiu.

– Nós somos... Nós estamos... – parei para pensar no assunto. – Estamos namorando, não é?

Tão confuso quanto eu, Homero assentiu meio atrapalhado.

– É, estamos.

Papai nos observou com olhos estreitos.

– Tá, mas como o namorado dela, quais são suas intenções com a minha filha?

– Tudo bem, olha a hora! Acho que o programa já começou – eu me levantei e liguei a televisão, depois voltei para o lado de Homero, ansiosa para mudar de assunto.

– Não acredito que a Lizzie deu sua primeira entrevista! – Scarlett bateu palminhas animada, arrastando o corpo mais para frente.

– E não foi a Oprah quem me entrevistou – lembrei desse fato com tristeza, murchando no sofá. A Oprah tinha se aposentado, e eu meio que esqueci desse detalhe enquanto sonhava em ser entrevistada pela minha ídola.

Foi estranho estar do outro lado pela primeira vez, ser a pessoa que responde as perguntas e não a que as faz. No entanto, eu teria de me acostumar, porque desde que Slender estava preso, esperando o julgamento, eu recebi inúmeros convites de talkshows e programas de televisão. As pessoas queriam desesperadamente ouvir a história da minha boca, mas não era fácil dizê-la, afinal, não foi só uma aventura de filme, foram momentos que marcaram a minha vida em sentidos bons e ruins.

O programa não tinha começado ainda, estava no comercial.

– O que está lendo, Gabi? – Ray perguntou para a garota que estava com o nariz enfiado em um livro.

– Biografia de Gustave Coubert – ela murmurou sem tirar os olhos do livro. – Sabia que ele vendia obras de artes para um árabe rico que morava em Paris? E que esse árabe foi o primeiro dono do quadro A Origem do Mundo? Ele mantinha o quadro em seu banheiro, por baixo de uma cortina, e quando tinha convidados os levava até o seu banheiro e subia a cortina, mostrando A Origem do Mundo... Isso não é interessante?

– É bizarro – corrigiu Lele.

– Mas por que está lendo sobre esse cara? – Ray questionou.

Gabi balbuciou.

– Ah... Eu fiquei curiosa. Quero estar preparada quando encontrar aquele tal do Jacob.

Um sorriso malicioso surgiu nos lábios de Lele.

– Ah, sei.

– Não faça essa cara, não é nada do que está pensando! – Gabriela garantiu e voltou ao seu livro.

– Começou! – Scarlett chamou a atenção de todos para a televisão.

Homero passou os braços ao meu redor e sua mão pousou em minha cintura. Era tão bom tê-lo ali, pertinho de mim, preenchendo o ambiente ao meu redor com seu aroma, o meu preferido de todo o mundo. Finalmente podíamos agir como um casal normal. Sem casamento, sem Slender... Fiquei imaginando por quanto tempo a minha vida daria aquela trégua pacífica. Fazia algumas semanas que estava tudo calmo demais... Não que eu estivesse reclamando! Que continuasse assim por todo o mês que eu ganhei de férias, aproveitando o tempo. Logo Homero recomeçaria a sua faculdade de Arquitetura e eu voltaria ao trabalho, estávamos aproveitando o máximo o nosso tempo juntos. 

Quanto a minha primeira entrevista, ela foi bem tranquila. O apresentador era divertido e sabia como quebrar o gelo. Ele não insistiu em perguntas desconcertantes. Na verdade, ele estava mais interessado na minha relação com Homero do que com a reportagem em si. Uma das suas primeiras perguntas foi: "Então, me conta, Elizabeth, como foi que você e o Homero Smith se apaixonaram?"

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