Tudo Pela Reportagem

4.

A partir daquele momento, eu iria começar a evitar duas coisas: Brócolis e tomate. Não são uma boa combinação, e já tive minha taxa de ambos os alimentos para o ano todo.

O Chelsea, o bairro em que morava, é conhecido por ser um gaybourhood*. Então é claro que Ray morava a algumas quadras da minha casa. Despedi-me dele quando tivemos que entrar em ruas diferentes, seguindo sozinha pela Tenth Ave. Ignorei o Chelsea Market, já que não tinha dinheiro para comprar os meus adoráveis produtos orgânicos, assim como meu amado Froot Loops.

Cansada, tirei os saltos altos assim que cheguei na porta do meu prédio, sorrindo para o Sr. Desmond. Ele arregalou os olhos quando me reconheceu e fez o sinal que havíamos combinando quando o Sr. Ling estivesse por perto, indicando perigo.

Assim que ouvi a voz do japonês e seu característico sotaque oriental vindo das escadas, perigosamente perto, não tive outra escolha a não ser me jogar no arbusto mais próximo, para não ser pega pelo síndico.

Fiquei agachada por entre as folhas até o Sr. Ling deixar o prédio e desaparecer na esquina, reclamando sozinho sobre os malditos vizinhos e seus barulhos. Engatinhei para fora dos arbustos, levando em meus cabelos algumas folhas.

Estava ainda engatinhando quando um par de All Stars parou na calçada à minha frente. Infelizmente, eu conhecia bem aquele tênis.

- Hum... Liz? O que está fazendo? – perguntou Brad.

- Ooooi. – eu me levantei num salto dando meu melhor sorriso sem graça. Afastei as folhas do cabelo, tentando melhorar um pouco a minha situação. Como se isso fosse possível!

Brad me analisou por longos segundos, franzindo o cenho.

- Por que sua roupa está completamente melada de... Isso é tomate? – ele tirou um pedaço de tomate do meu cabelo. Depois mais algumas folhas. – Pode me explicar o que aconteceu com você?!

– É...

Olhei por cima do ombro dele e avistei que o Sr. Ling voltando. Ele estreitou os olhos e me reconheceu. Se a minha vida fosse um filme, aquele seria um momento onde uma música de suspense começaria e câmera daria um close especial em nossos rostos.
O Sr. Ling encheu os pulmões e bradou, dando início a perseguição:

- Elizabe-ti! Elizabe-ti! O aluguel, mocinha enrola-da! Pare aí mesmo! Rá, rá! Agora eu te pego!

Brad olhou para o síndico por sobre o ombro depois para mim, erguendo as sobrancelhas loiras. O Sr. Ling estava se aproximando, e eu tinha duas opções: a) Encarava a situação como uma verdadeira adulta e conversava com o síndico, explicando minha a situação e pedindo sua compreensão em relação ao atraso do pagamento b) Corria o mais que podia, evitava o síndico até ter finalmente o dinheiro.

Eu e você sabemos qual foi a minha escolha, não é mesmo?

Agarrei o braço do meu namorado e puxei para dentro do prédio, o asiático vingador a nosso encalço. Corremos em disparada até escadas e só descansamos depois de ter certeza que a fechadura da porta estava trancada. Encostei-me lá por alguns segundos, recuperando o fôlego. Brad se manteve em silêncio por longos segundos, me encarando de braços cruzados, parecendo pouco satisfeito. Ele tinha os cabelos desgrenhados e loiros claros, com um bronzeado realmente irresistível. Olhos mel que combinam com o tom de pele e brilhavam mesmo quando ele estava me fitando com aquela expressão de desaprovação.

- Liz, qual é o problema? – perguntou calmamente. Ele era tão calmo que me irritava. Sempre compreensivo, amoroso, gentil, e compreensivo mais uma vez...