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Tudo que os meus vizinhos de reservado foram capazes de ouvir durante toda a manhã  foram o barulho do meu teclado. Eu não parei de digitar desde o momento que sentara dna cadeira e ligara o computador. Ray até tentara manter algum contato comigo, mas ele me conhecia muito bem. Quando eu agia daquela forma é porque não queria falar, não queria pensar. Não queria nem ao menos existir.

Alguns denominam o problema - ou como workaholism. Desde o colegial a psicóloga no colégio recomendou a papai que tomasse cuidado comigo, porque quando adulta eu poderia desenvolver esse tipo de comportamento. Acontece que o meu pai também é um workaholic. E o que isso quer dizer?

Viciado em trabalho.

Eu prefiro pensar que sou esforçada no trabalho. Extremamente dedicada. E quando algo muito ruim em minha vida acontece,  eu desconto (ainda mais) no trabalho. E era exatamente isso que estava acontecendo. Eu não queria pensar no desastre da noite passada e escrever a minha reportagem era a saída perfeita para isso. O som das teclas do meu computador era quase relaxante, significava que eu estava produzindo, trabalhando, fazendo algo útil. Parei de escrever por dois segundos, lendo a última sentença. Não. Não ficou bom. Apaguei e recomecei de novo, sorrindo com o resultado. Sim, agora soa melhor.

- Hum... Liz? – Ray me chamou timidamente.

Os meus olhos não deixaram a tela do computador.

- Ocupada.

- O seu cérebro vai derreter se continuar encarando o computador por tanto tempo!

- Essa reportagem tem que ser perfeita. Perfeita. Estou quase acabando, finalmente. E me sinto ótima. – endireitei-me na cadeira e tentei erguer os braços novamente. Eles não responderam e quando forcei-os, senti uma dor intensa nos músculos. Arregalei os olhos.

- Ai! Tem algo de errado com os meus braços! Ray, os meus braços...

- Tudo bem, querida. Só fique calma... – Ray veio correndo até a mim se agachou perto da minha cadeira. – Lizzie, é claro que seus braços estão doendo. Você está na mesma posição faz três horas.

Recusei-me a acreditar que o meu corpo estava desistindo de mim assim tão fácil e forcei meus braços para cima. A dor voltou e arrancou um grito meu.
- Lizzie, admita: você está cansada!

- Mas eu... Eu... – e de repente eu estava chorando copiosamente, e nem ao menos sabia o porquê. Deixei que toda a frustração que sentia fosse embora coma as minhas lágrimas. Estava frustrada pelos meus braços inúteis, pelo meu emocional irritantemente frágil, pelo azar que rondava a minha vida. 

- Não se preocupe, meu amor. Eu sei, é difícil. E é por isso que estou aqui. Vamos lá, me dê os seus braços. – pacientemente, o meu amigo conduziu os meus braços por mim, massageando-os e movendo-os para frente e para trás. – Acalme-se, Liz. Não precisa mais chorar.

Ray continuou com a massagem por mais dez minutos enquanto eu observava, quieta e fragilizada. O choro foi eventualmente parando.

- Você não precisa ser forte o tempo todo. Ninguém é. – aconselhou Ray limpando as lágrimas da minha bochecha. – Agora, se quiser, você pode me contar o que aconteceu ontem. É, você falou sobre o... acidente, mas eu quero saber como você se sentiu.

- Tudo bem. – respirei fundo sentindo-me mais tranquila após o surto. – Brad foi atropelado por um caminhão de lixo, isso você já sabe. Quando eu entendi o aconteceu, não consegui me mover, foi Homero quem correu até ele. A minha mente simplesmente parou de funcionar. Precisei de alguns minutos para compreender que o meu ex-namorado, o qual tinha acabado de invadir o meu apartamento, tinha sido realmente atropelado por um caminhão. – eu estiquei a cabeça para o céu, pensando: inimaginável. Este tipo de situação só podia acontecer comigo mesmo. – É claro que fui até ele e fiquei ao lado de Brad enquanto Homero chamava a ambulância. Ele estava acordado, não parecia ser grave, seus braços estavam machucados, talvez um braço quebrado. Brad não parava se desculpar por ser tão estúpido.

Tudo Pela ReportagemWhere stories live. Discover now