– O que é isso no seu pescoço? Meu deus, Lizzie. – Homero estava sem fôlego. Eu fechei os olhos, incapaz de ver tudo desabar na minha frente novamente. Mais brigas, mais mentiras. A voz de Homero estava quebrada enquanto ele afastava o meu cabelo e deixava as marcas azuladas mais à vista.  – O que aconteceu com você? Alguém tentou... – ele não conseguiu completar a frase. Balançou a cabeça, consternado. Seu peito subia e descia.

– Sim – consegui sussurrar. – Alguém tentou me estrangular.

Quem? – Homero exigiu rangendo os dentes, fazia um esforço enorme para continuar ali, tremendo. – Foi Slender? Quando, Elizabeth? E por que diabos você não se deu o trabalho de me avisar?! Por que não me contou? Quero dizer, pretendia contar?

– Na verdade, não, eu não pretendia.

Uma torrente de emoções estava atingindo Homero, eu poderia dizer pelo olhar em seu rosto. Era como ver fogo e gelo se misturando nos seus olhos azuis. A raiva que ele sentia era tão imensa que Homero não conseguia perder o controle, só a absorvia e a acumulava. A raiva não parecia ser de mim, e sim da situação inteira. Todos os acontecimentos que nos fizeram chegar até ali.

– Aconteceu ontem à noite – respondi firmemente. – Depois que visitei o Asilo Hastings e descobri que Sônia Slender estava viva. Jill Tretton apareceu e... Acho que dá para imaginar o resto.

O quê? – a voz de Homero falhou enquanto o homem me olhava com incredulidade. – Sônia, viva? Não. Eu fui ao enterro dela.

– E provavelmente foi um enterro com caixão fechado, não é? Porque não era Sônia ali e sim outra mulher. Marta O'Hara, babá das crianças.

O silêncio de Homero me fez concluir que eu estava certa.

– Desculpe contar tudo de uma vez – pedi sinceramente. – Eu queria ter falado antes, mas você pediu um tempo...

Você quase morreu! – Homero me interrompeu de maneira abrupta, mas não subiu o tom de voz.  – Você quase morreu, Elizabeth. Entende a gravidade disso? Aquele homem quase... quase matou você estrangulada. E a prova do crime está bem aqui no seu pescoço, me encarando, gritando comigo.

Os olhos dele estavam marejados. Aquelas palavras foram demais para mim. Encolhi-me por dentro e desejei não ter que ouvir a verdade daquele incidente, a verdade da qual eu tanto fugia. Eu quase morri. 

– Acha que eu ligaria mesmo para o "tempo" se soubesse do que estava acontecendo? Meu Deus! Eu quase perdi você e nem ao menos sabia disso! – ele riu sem humor, o que pareceu mais um pigarro. Se aproximou de mim, o rosto ficando a centímetros do meu. Senti o calor da sua respiração, seus batimentos cardíacos acelerados. Lágrimas molharam o rosto de Homero e ele chorou baixinho junto à mim.

Eu pude sentir o que estava por vir. Era como a calmaria antes da tempestade, os leves tremores antes de um terremoto devastador e as mudanças das ondas antes de um tsunami. O sentimento que se assomou no meu peito e o aperto no meu coração, um aviso que ele logo despedaçaria, era como tudo isso.

Finalmente, Homero falou as palavras:

– Eu não posso mais  fazer isso, Lizzie. Eu amo você demais para suportar tal coisa.

Homero se afastou e desceu as escadas. Parou no último degrau, ficando de costas e cabeça baixa. Sua confissão me pegou de surpresa. Eu pisquei, esperando ter entendido errado. Desci alguns degraus também. 

– Espera, o que você quis dizer?

– Eu quis dizer que não posso mais fazer isso. – ele repetiu duramente. – Eu simplesmente... Preciso ir.

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