No entanto, agora que Samantha sabia que havia algo de errado, eu não poderia me demorar muito. De qualquer maneira, teria de confrontá-la antes da próxima terça-feira, o dia do meu encontro com Slender. Eu precisava daquele cartão de memória.

O táxi parou em frente ao meu prédio depois de alguns breves minutos. Eu paguei ao senhor de idade, dei-lhe um sorriso e sai do carro. Fiquei de costas para a rua por um segundo enquanto mandava outra mensagem de explicação para Scarlett.

Assim que me virei, tomei um leve susto ao perceber que outro carro estava parado exatamente onde o táxi se encontrava segundos antes.

Era uma Mercedes preta, a qual eu conhecia muito bem.

Homero saltou do seu carro e pela segunda vez na noite eu não soube o que dizer. O meu queixo caiu. Nossos olhos se encontraram e nenhum dos dois conseguiu quebrar o contato visual elétrico

– Mas eu pensei que você... – tentei dizer no momento em que o vi a poucos centímetros de mim.

– É, eu também pensei – Homero abriu um sorriso e puxou o meu rosto para o seu, me surpreendendo com um beijo. Ele não sabia do meu rosto dolorido, então eu sufoquei o grito de dor e aproveitei o beijo, que infelizmente durou pouco.  – Eu precisava vir até aqui, não estava mais suportando. Queria ter ouvido a sua voz quando liguei, e desde ontem não tinha notícias suas...

Ele encostou a testa na minha, parecendo aliviado.

– Desculpe, sou um idiota. Quebrei o meu próprio pedido de "tempo".

Eu ri e o abracei.

– Bem, eu não estou triste por tê-lo quebrado. Senti saudades suas também.

Ele tocou no meu queixo, depois suas mãos foram até o meu pescoço. Senti um medo irracional de alguém me tocando ali novamente, mas apenas sorri, engolindo os tremores da minha alma.

– Vi que acabou de chegar, então estava numa festa se divertindo com as meninas? – Homero perguntou em tom de brincadeira enquanto enrolava uma mecha do meu cabelo entre seus dedos.

– Sim, nós saímos! Mas tive que voltar mais cedo do que elas... – dei os ombros, mas depois sorri e me aproximei mais. – Ou seja, o apartamento está vazio.

Homero riu das minhas intenções, mas seus olhos brilharam de malícia na mesma proporção dos meus.

– Certo... – ele me puxou pela mão até as escadas, onde as luzes do meu prédio nos iluminavam melhor. Parou e voltou-se para mim. – Porque saiu mais cedo da tal festa, aconteceu alguma coisa?

Prendi a respiração inconscientemente.

Não, não aconteceu nada. Só me encontrei sem querer com  a sua ex namorada...

– Bem, não... Eu só estou um pouco cansada, sem clima para festas.

Não era uma mentira, mas também não era a verdade.

– Certo – ele repetiu, mas não estava encarando o meu rosto. Seus dedos foram até o colar de Sônia e eu fiquei tensa na mesma hora. Pela minha expressão, Homero percebeu que algo não estava certo. Quando ele falou, sua voz estava estranhamente calma e distante: – Onde conseguiu isso?

Não dei uma resposta de imediato. Homero se afastou dois passos, mas depois voltou e girou o colar no meu pescoço, como se quisesse se certificar que era real.

– Esse relicário... Meu deus. Não, não pode ser.

Suas mãos estavam cheias de maquiagem quando ele se afastou de mim novamente. Seu rosto antes perplexo foi tomado por mais confusão.

Tudo Pela ReportagemWhere stories live. Discover now