– Não. – eu a interrompi, dando um passo para frente e ficando mais perto da mulher, protegendo Ray atrás de mim. Levantei o dedo indicador cheia de indignação. – Agora você vai me ouvir, Sra. Steall. Não admito que fale assim de uma pessoa tão maravilhosa como o Ray. Você pode até não aceitá-lo como ele é, mas não pode dizer essas coisas, porque Ray não é uma pessoa ruim, ele só não é o Richard. Esse garoto aqui é um dos meus melhores amigos, com luzes platinadas no cabelo e se vestindo assim mesmo, desse jeito. Eu o amo como todo o meu coração, e Ray continua sendo um dos seres humanos mais incríveis que já conheci, mesmo que não seja a pessoa a qual família espera, e vocês o rejeitem da maneira mais cruel e ridícula possível. Ele é atencioso, engraçado, está sempre do meu lado e cuida de mim como se fosse um irmão mais velho! – olhei para Ray e sorri, como que agradecendo tudo o que ele tinha feito por mim. Ray sorriu de volta. Dirigi-me à Brianna novamente: – Você é que é um desgosto para o mundo, por se negar a conhecer um filho tão bom como ele. Fique com o seu preconceito, fique com seu amargor, mas nunca, jamais, desmereça o Ray por causa da orientação sexual dele. Ele é uma pessoa melhor do que você poderia ser em mil anos.

A mãe de Ray ficou muda, sem saber o que dizer. Até mesmo o próprio Ray, que tinha lágrima nos olhos, estava sem palavras. Limpei as mãos no ar e me aprumei.

– Bem, e isso é tudo que eu tenho a dizer. Passar bem, Brianna. – dei as costas para ela e puxei Ray comigo, levando-o pelo o braço com o senso de dever cumprido. Quando estávamos há alguns metros longe do restaurante, eu sussurrei: – Espero que não tenha deixado Brianna te afetar.

O meu amigo passou seus braços ao redor do meu ombro, colocando a cabeça ali.

– Obrigada, Liz. Obrigada por aquelas palavras.

Eu ri e desmereci seu agradecimento com um aceno.

– Ah, não foi nada.

Apesar de me sentir devastada por causa da briga com Homero, meu humor melhorou consideravelmente ao ajudar o Ray a colocar a mãe dele no lugar. Pelo menos uma coisa eu tinha feito certo, apesar de ter estragado todo o restante.

– Não falei uma só mentira – assegurei. –E falaria tudo de novo, se precisasse.

– Ah, eu sei que falaria – Ray e eu rimos. Ele deu tapinhas nas minhas costas, seus olhos brilhando de gratidão. Entramos no Central Park de mãos dadas, ambos magoados, mas juntos. Isso era o que importava, afinal. – Eu bem sei que falaria, Liz...


*


Eu queria ligar para o Homero. Ou melhor, queria que ele me ligasse, mesmo que fosse para discutir ainda mais. Simplesmente desejei que ele falasse algo. Passei a tarde trabalhando com os hackers, mas sem deixar de observar o telefone na mesa por um segundo de quer.

O silêncio de Homero era o meu pior castigo, a pior forma de punição do mundo. Caminhei até o telefone no intuito de discar o número dele – só para desistir depois – pelo menos umas cinco vezes durante toda a tarde. Não tinha um discurso gravado em mente, só queria dizer mais uma vez: Homero, eu sinto muito.

No entanto, será que Homero tinha razão? Eu ainda não havia superado o trauma do que aconteceu e por isso agia assim, com insegurança, sem ao menos confiar nele? Provavelmente sim. Não era um medo racional, eu simplesmente surtei. Juntarem-se à minha paranoia pós-trauma o ciúme infantil, e de bônus todas as minhas preocupações. Será que Homero estava realmente repensando a nossa relação? Será que ele achava mesmo que nos afastar era a melhor decisão?

– Liga logo para ele, Lizzie! – foi Tora quem falou, aproximando-se da mesa onde eu estava. Mais uma vez, ela já tinha terminado sua tarefa e estava livre para me observar surtar enquanto encarava o telefone. – Se você não ligar, eu ligo.

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