Tudo Pela Reportagem

36.

– Terminei – murmurei afastando-me do teclado. Li a última frase. É esse tipo de pessoa que você quer manter no poder? Era uma boa frase, não é? Impactante, para manter os leitores refletindo mesmo depois de terminarem a leitura.

Era isso que eu queria deles: arrancar-lhes uma reflexão, um momento para parar de pensar nas banalidades do mundo e enxergá-lo por completo. Você é parte desse mundo e ele está cheio de injustiças. Vai fazer algo para impedir ou ficar aí sentado? Isso era o que eu queria dizer. Faça algo, mesmo que uma simples ação, um mínimo gesto que talvez pareça desprezível, mas não é. Faça. Algo.

Bem, não podia entregar tudo mastigado. Achei que a frase final era a certa para conduzi-los ao raciocínio desejado.

Abri um sorriso, mal acreditando. Estava concluída. A reportagem estava concluída e antes do prazo! Mesmo com todos os imprevistos – os quais incluíam ser raptada e uma peregrinação no deserto, ali estava ela: completa.

Ahhh, eu amo o meu trabalho!

– Terminei! Agora é definitivo, eu terminei! Senhora e senhores, A Reportagem está concluída! – anunciei.

Dave apareceu rapidamente e me deu um sorriso de congratulações. Ele estava estranhamente quieto.

– Parabéns! – Tora veio saltitando até o meu reservado, tirando a minha atenção do Dave. Inclinou-se até a tela do computador – Caramba, ficou grande. É praticamente um monólogo.

– É, ficou mesmo, mas pelo menos eu denunciei tuuuudo o que Slender fez. E, acredite, eu resumi.

– Parabéns, Liz! – Ray surgiu entre a nossa divisória, dando-me um sorriso de expectativa. – Sabe como poderíamos comemorar? Procurando apartamentos novos!

Fiz uma careta e voltei ao computador, começando a enviar o texto para o copidesque.

– Hum, talvez outra hora.

– Elizabeth. Você está enrolando há dias, aquele apartamento é pequeno demais para todas vocês e um cachorro! E... Bem, eu, que passo mais tempo lá do que na minha própria casa.

– Ray, eu não tenho dinheiro para comprar um apartamento novo agora. É impossível.

– Eu já disse que pagarei! Esqueceu que sou herdeiro daquela família bilionária que apesar de não me aceitar como filho deposita uma quantidade inacreditável de dinheiro na minha conta todo mês? – ele fez beicinho. – Por favooor. Sempre quis dividir um apartamento com as minhas melhores amigas.

Eu ri e balancei a cabeça.

– Não, não esqueci que você é zilionário, é só que...

Ray levantou o dedo.

– Sem desculpas, Lizzie. Deixe-me ajudar quando eu tenho as condições de fazer isso. Além do mais, eu vou morar lá também, então imagine que vou comprar o apartamento para mim e você está apenas me ajudando a escolher. Que tal?