Capítulo 18.

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Sequei meus olhos nas mangas do moletom por alguns instantes e então dei uma última olhada, desta vez para além das montanhas, não me atrevi à encarar o céu enevoado, não queria lembrar de meus pesadelos, antes de me levantar, bater a poeira de meus jeans e voltar para dentro da enorme casa.
Incrivelmente parecia que o número de pessoas simplesmente dobrou desde que saí. Era impossível identificar rostos em meio à tanta gente, a maioria não parava de pular e dançar um segundo sequer. Precisava encontrar Alinna para irmos logo para casa, para eu entrar no meu quarto e chorar. Sozinha e sem ninguém por perto. Naquele momento eu precisava sentir aquela dor, pois ela seria a única prova de que um dia tudo o que eu e Matheus vivemos foi real, a prova de que não foi um simples sonho.
Mãos geladas cobriram meus olhos.
-Quem é? -a voz de Alinna estava estranha, diferente, parecia que estava mais arrastada.
-Alinna. -falei.
-Acertou! -ela riu exageradamente e eu senti seu hálito horrível de álcool.
-Você está bêbada! -falei tirando a garrafa de uísque que ela tinha nas mãos.
-Whow! Me devolve o meu filho! -ela urrou tropeçando em direção à garrafa que eu levantei no alto para que não alcançasse.
-Sua CDF de merda! -berrou ela engasgando. -Devolve o meu...
Ela vomitou em meus pés.
-Que nojo Alinna! -gritei dando um paço para trás e ela riu histericamente.
-Gata, você está me devendo, em! -o garoto do inicio da festa, que agora mais parecia um gambá de bêbado, agarrou ela por trás e colou partes estratégicas de seu corpo no dela, eles dois riram escandalosamente enquanto ele desabotoava o seu mini vestido.
-Isso acaba aqui! -puxei Alinna pelo braço.
Ela tentou resistir, mas estava sob o efeito da bebida e mal conseguia ficar em pé sem ajuda.
À levei para o primeiro quarto que encontrei, era enorme, tinha pôsteres do Michael Jackson e Elvis Presley nas paredes e fotos de um garotinho de uns cinco ou seis aninhos muito fofo em porta-retratos encima dos móveis modernos. Imaginei ser o quarto de Diego.
Empurrei Alinna para debaixo do chuveiro e liguei a água gelada sem nem me preocupar em mandá-la tirar os calçados.
-Ahhh! -gritou tentando sair mas eu não permiti. -Para!
-Cala a boca! -gritei.
Ela fungou um pouco, mas o efeito da bebida já estava passando e ela não quis discutir comigo.
Voltei ao quarto e ao abrir o grande roupeiro me surpreendi em como tudo estava arrumadinho e muito bem empilhado. Peguei uma roupa velha de Diego, uma toalha e joguei para ela que sorriu constrangida. Provavelmente lembrando das baixarias que fez enquanto estava de porre com o tal garoto.
Cerca de dez minutos depois ela abriu a porta do banheiro, se recostou nela, fechou os olhos e... "4,3,2,1..." -pensei.
-Ai minha cabeça! -choramingou.
-O que você esperava depois daquele fiasco? Dê graças por não estar vomitando um arco-íris!
-O que houve com os seus tênis? -perguntou.
-Tem certeza que quer mesmo saber? -ironizei.
-Pressinto que não. -disse sorrindo sem jeito.
-Vamos sair logo daqui porque juro que mato você se vomitar de novo em mim! -falei com cara feia.
-Vamos.
-Pode andar sozinha? -perguntei.
-Acho que sim. -confirmou.
Mas na verdade, não podia. Estava cambaleando um pouco, porem eu não iria carregá-la, não mesmo. Ninguém mandou-a dar uma de irresponsável e encher a cara por aí. Já pratiquei minha boa ação do dia quando à obriguei entrar debaixo da água gelada.
Diego se ofereceu para nos levar em casa, já que o senhor Arlindo estava com a noite de folga. O carro estava cheio, ele, Daianna, Alinna, Jason e Elizabeth. De todos os presentes no veículo eu era a única que estava sobrea.
Naqueles 30 minutos da casa dele até a de Alinna, que por nós foi reduzido à apenas 15, devido à loucura de Diego, juro que por vezes vi o vulto da morte passando em frente aos meus olhos à cada curva que fechava em alta velocidade.
Quando o carro freou bruscamente em frente a residência, eu suspirei aliviada, ainda estávamos todos vivos. Antes mesmo de termos fechado a porta, os pneus cantaram e quando piscamos os olhos só o que víamos era a fina poeira deixada na estrada e ouvíamos ao longe o rugir do motor daquele conversível.
Para a nossa sorte, Martín e Adelle já estavam dormindo. Incrivelmente a casa escura daquela maneira parecia ainda maior do que quando iluminada pela luz do dia. Subimos as escadas com cuidado para não fazermos barulho, já eram duas e meia da manhã.
Joguei Alinna em sua cama e deixei que se ajeitasse como quisesse e quando ia fechar a porta, ela me chamou com voz sonolenta.
-O que quer? -falei um pouco dura pois queria ir logo para o meu quarto, dormir e tentar superar um pouco pelo menos de tudo aquilo que aconteceu naquela noite.
-Obrigado. -falou.
-Obrigado nada! Amanhã você vai escovar meus all-stars.
Ela riu baixo, o que eu precisava para fechar a porta e ir para o meu quarto.
Quando me tranquei nele, não consegui chegar nem até cama antes de desabar. Me recostei na própria porta e lentamente resvalei por ela até estar no chão. Abracei meus joelhos e simplesmente chorei, na verdade nem eu mesma sabia por tudo o que exatamente chorava, o que sabia era que pensar em Matheus me fazia chorar, pensar em nós também.

Cadê Suas Asas, Anjo?Where stories live. Discover now