Capítulo 07.

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Fui retirada de meu transe com a risadinha abafada da garota ao meu lado.
Alinna era bem alta. Seu cabelo era de um tom alaranjado natural e liso com discretas ondas em seu curso. Seus olhos pretos eram grandes e sua personalidade era a de uma garota despreocupada que gosta de 'curtir' o momento.
Percebi tarde que Matheus me pegou secando-o.
Ele riu de canto, claramente sem graça. Baixei os olhos e dei um soco discreto em Alinna para que parasse de rir pois estava chamando a atenção.
-Hey! Isso dói. -ela reclamou.
-Ótimo! Era pra doer mesmo. -falei entredentes.
-Ai, que malvada que tu és. -zombou ela. -É melhor você andar na linha, Matheus. Sei não, essa aí não precisa aprender karatê para nocautear.
-Dá para calar essa sua boca logo?! -ela já estava me estressando. Que garota que não se toca!
-Affe! Estava só brincando. -disse ela na defensiva.
Revirei os olhos e me forcei à comer sem engolir o garoto com os olhos.
Almocei e levantei-me da mesa. A maioria do pessoal comia e voltava direto para praia, o que na minha opinião era mais que idiotice. Todos sabem que não se deve entrar na água sem pelo menos esperar 20 minutos.
Fui até a área da piscina. Sim, o hotel era menos de uma quadra da praia e tinha uma piscina, que ninguém usava, é claro.
Quem em sua sã consciência deixaria de ir para ao mar, areia, para ficar em uma piscina de hotel? Só eu mesmo.
E isso apenas ocorre porque Talles em vez de me ensinar algo útil, como todo pai ensina ao filho ou filha, tipo à nadar sem uma boia, optou por me ensinar à atar maria-chiquinha rosa no cabelo. Deve ser por isso que eu... odeio maria-chiquinha!
Deitei-me em uma espreguiçadeira branca e comecei ler. Quando já tinha lido umas dez páginas, ouvi a voz de Diego atrás de mim.
-Ei, o que faz aqui sozinha?
-Não parece óbvio o que estou fazendo? -disse com sarcasmo olhando-o por cima da página do livro.
-Você gosta desse tipo de coisa? -perguntou surpreso.
-Esse tipo de coisa, o quê? -falei.
-Sei lá, parece meio nerd. -ele riu.
-Nerd ou não, é o que faço. E ninguém tem nada o que ver. -disse e continuei a ler, ou pelo menos, fingir que lia.
Por alguma razão eu não conseguia concentrar-me o bastante para formar sílabas quando alguém estava por perto me observando.
-Calma, você está meio estressada. -ele abanou as mãos.
-Dieguinho? Dieguinho! Onde você está, gatinho? -ouvi uma vozinha de mulher fanhosa e quando olhei vi uma de uns vinte e poucos anos. Estava seminua!
Ela começou se esfregar em Diego, ele parecia gostar. Esperei um minuto para eles se tocarem e saírem dali, porém minha paciência acabou quando a mulher/bagaço pendurou-se em seu pescoço falando coisas desconexas com voz manhosa e extremamente irritante.
-Seus nojentos e sujos! -explodi. -Criem vergonha na cara e procurem um quarto pelo menos! E, ei, vovozinha, caso você não saiba, Diego é menor de idade. -fiz cara de nojo -Da próxima vez que contratar uma prostituta, por favor tenha dignidade de não pegar o primeiro 'ser' que encontrar na esquina!
Não estava com ciúmes, o que me deixava indignada era o fato dos dois ficarem se portando daquela maneira vulgar e suja em público.
Apertei o botão do elevador e aguardei alguns segundos. A porta se abriu e Matheus estava dentro. Pensei em esperar o próximo, mas quando olhei e vi Diego vindo em minha direção com uma expressão de raiva no rosto, entendi que havia estragado tudo entre ele e aquela 'mulher'. Segui o primeiro impulso e entrei no elevador, tão rápido que me bati contra Matheus.
Ele me segurou pelas costas e apertou o botão. Meu rosto estava perigosamente próximo do seu, ele se aproximou e... Ouvi Diego gritando furiosamente meu nome, mas eu não queria nem saber, tudo o que me importava estava em minha frente, colado em mim.
Nós nos beijamos e sei que Diego viu antes que o elevador fechasse as portas. Mas dane-se, eu não devia explicações à ele. Ali só tinha espaço para eu e Matheus. Sempre teve.
Não sei a razão, mas eu sorri.
Ele me encantava, mesmo sendo um sem vergonha que estava pervertendo meus pensamentos, corpo e sentimentos.
-Como você faz isso? -perguntou ele.
Abri meus olhos e o vi me encarando.
-Isso o que? -perguntei.
-Isso. -ele disse. -Eu nunca fui de perder meu autocontrole com garota alguma. Mas você é totalmente diferente, quando estamos juntos coisas estranhas e totalmente anormais acontecem. -ele parecia um daqueles garotinhos que contam os seus sonhos de serem jogadores de futebol.
Um sorriso sonhador invadia seu rosto, mas não do tipo fingido que não passa dos lábios. Era o verdadeiro sorriso, aquele que dava um brilho especial ao olhar. Ele era tão fofo que me causava uma estranha vontade de pegar no colo!
Agarrei seus cabelos e o puxei para baixo até poder alcançar sua boca e beijá-lo de novo. Nunca me cansaria de tocá-lo. Com Matheus o nada vira tudo, e o tudo é menos que nada. Estar com ele é tudo do quanto preciso.
É como o lendário William Shakespeare citou: " ...Essas alegrias violentas tem fins violentos..."
E eu sei perfeitamente que no final de tudo eu vou sofrer sozinha, mas isso nem me importa mais. Tudo valeria à pena quando eu fosse mais velha e lembrasse do que vivi. Do amor que senti.
Talvez daqui a longos anos eu reencontre meu sobrinho Gabriel, e quando ele me perguntar sobre o amor, eu possa dizer com convicção o que significa amar alguém.

Cadê Suas Asas, Anjo?Donde viven las historias. Descúbrelo ahora