Capítulo 15.

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A tarde do dia 24 chegou rápido e infelizmente, eu não tinha encontrado nenhuma desculpa aceitável, então resolvi ficar na minha.
Sentei-me no parapeito da janela do meu quarto que me fornecia ampla visão dos portões. Eu via todos ali, sorrindo. Felizes com suas malas e prontos para partirem. Elizabeth, Diego, Daianna, Jason, eles pareciam contentes e para a minha sorte nenhum sentiu minha falta.
Meu estômago se contraiu ao ver Matheus junto à Christina, eles formavam um casal bonito e isso me causava inveja. Queria ser eu ali. Abracei meus ombros pensando se um dia eu teria alguém para me abraçar daquela maneira. Aquilo não parecia amor.
Ali, no escuro e na solidão de meu quarto, pela primeira vez em dias, eu me permiti chorar. Nem eu mesma podia me entender. Quando pensava que nada mais poderia me atingir, aí eu vejo ele e toda a fortaleza armada que construí em volta de meu coração desaba e torno à sentir aquela dor antiga que eu queria tanto saber como superar.
Seu olhar cruzou uma última vez com o meu antes de ele entrar em um carro junto à ela. E da mesma forma que eu vi o carro de Talles sumindo na curva da estrada, agora via esse carro estranho fazendo o mesmo com Matheus.
Essa maldita curva levou meu pai e naquele momento roubou meu anjo, deixando para trás apenas uma menina com o coração e a alma sangrando. Lágrimas nos olhos e o medo de que não voltasse à vê-lo foi o que ficou para mim.
Ouvi uma batida em minha porta e me assustei. Não esperava que ninguém viesse me procurar. Rapidamente limpei meu rosto na camiseta.
-Entra! -gritei.
-Oi! -Alinna saltitou pelo quarto e se jogou na cama, parecia empolgada com algo.
-Oi. -sussurrei.
Será que é assim que pessoas normais ficam na véspera de natal?
-Não vai nem me perguntar por que estou tão feliz? -ela se ajoelhou na cama sorrindo.
-Eu sei que você vai falar de qualquer maneira mesmo. -disse.
-Hey. -sua voz soou preocupada. -O que aconteceu?
-Nada. -falei.
-Ninguém chora por nada.
-Droga, eu choro! Dá licença por favor? -gritei.
Ela ficou em silencio.
-O que você quer aqui, afinal? -falei.
-Dizer que o Diego vai dar uma festa na casa dele domingo. -falou baixinho como se estivesse com medo que eu gritasse novamente.
-E eu com isso? -falei tentando soar o menos grossa possível, mas acho que não adiantou.
-Obviamente você é convidada, e... -ela criou um ar de expectativa.
-Fala logo. -disse impaciente.
-Você vai para casa comigo! -ela deu pulinhos.
-Não vou não. -falei.
-Ah Gabi, não estraga a minha felicidade. -ela fez beicinho.
-Ah Alinna, não enche o meu saco. -retruquei.
-Por favor! -ela pediu.
-Olha, independente de qualquer outra coisa, eu teria que arrumar a minha mala e não seria justo eu atrasar o seu feriado. -falei. -Sendo assim, boa viajem e tchau!
-Não tão rápido espertinha! -falou ela puxando minha mala debaixo da cama e me entregando. -Me agradeça depois. Agora vamos que o senhor Arlindo está nos esperando.
-Quando foi que invadiu meu quarto e mexeu no meu guarda-roupa? E quem é senhor Arlindo?
-Aula de artes. Senhor Arlindo é o meu motorista. -respondeu.
Estreitei meus olhos desconfiada para ela.
-Quando chegarmos pode conferir tudo. Juro que não escondi maconha nas suas coisas! -ela levantou as mãos.
-Sabia que eu te odeio? -falei.
-Vou levar isso como um elogio, baby! -ela riu.
Dei uma última olhada pela janela para o lugar onde antes Matheus estava. Queria tê-lo ali para me despedir, porém ele não estava.

***

Já estávamos viajando à umas cinco horas e nada de civilização à vista. Alinna já havia me dito um milhão de vezes o nome da cidade em que morava mas eu não lembrava.
-Estamos chegando? -perguntei impaciente.
-Calma garota! Você já me perguntou isso 17 vezes nos últimos 50 minutos. -ela reclamou.
-Ali. -disse o motorista apontando um ponto no horizonte.
O plano do asfalto foi logo substituído pela turbulenta e esburacada estrada de chão.
A casa era grande e mantinha o típico estilo da colonização espanhola. Paredes grossas e altas, assoalho muito bem lixado e envernizado, móveis de madeira pura cheios de acabamentos artesanais, as janelas enormes e com longas cortinas de renda grossa e branca. O lugar era tão limpo que os paços ecoavam pelos cômodos.
Assim que entramos, um casal já de uma certa idade veio até nós. Os pais de Alinna, presumi.
A mulher, uma ruiva alta que vestia um vestido muito elegante e um salto daqueles que provavelmente são modelos exclusivos, não sei como ela conseguia caminhar, pois à julgar pelo tamanho, aquelas joias que adornavam seus dedos, orelhas e pescoço deveriam pesar uma tonelada. Ela desfilou até Alinna e a abraçou ternamente.
-Que saudades de você, filha! -disse.
O pai era mais alto ainda, ele parecia ser canadense. Suas feições eram duras e impenetráveis. Ele vestia terno preto, que pelo jeito era de coleção também.
-Você não disse que traria companhia, querida. -falou o homem sem olhar para mim.
-Ah mãe, pai, essa é a Gabriela. Gabi, estes são Martín e Adelle, meus pais! -apresentou Alinna.
-Olá. -falou a mulher me olhando de canto.
-Suave? -sorri tentando causar boa impressão.
-Suave? -repetiu Martín.
Senti Alinna me beliscar discretamente.
-Ai! O que é? -falei um pouco alto e minha voz ecoou no hall de entrada.
-Quanto tempo ela vai ficar, Alinna? -perguntou Adelle.
-Eu vou voltar com a ela para a escola. -falei sorrindo.
-Dê-nos licença menina, estamos falando com a nossa filha! -repreendeu Martín.
-Desculpe. -falei contendo minha indignação.
Qual era o problema daqueles dois? Eu estava me esforçando para agradar e eles estavam falando assim comigo como se eu valesse menos que eles?
-Ela estuda com você? -perguntou Adelle dando ênfase ao pronome pessoal.
-Whow, eu estou aqui, ok? -protestei.
-Alinna, suba e leve essa menina daqui. Agora. -ordenou Martín.
-Pai...
-Agora Alinna!
-Vamos Gabi. -ela me levou arrastada para cima.











Cadê Suas Asas, Anjo?Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang