Capítulo 03.

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O refeitório era grande e cheio de mesas, quase todas lotadas de alunos.
Pegamos nossos almoços e Daianna me levou para uma mesa onde estavam um garoto e duas garotas.
-Oi gente! -cantarolou ela.
-Oi Dai! E olá pessoa, eu sou Elizabeth mas pode me chamar de Lizeth. -sorriu a menina da esquerda.
Elizabeth tinha cabelos loiros com o corte chanel, olhos verdes, magrela e branca como um papel. Ela era esquisita. Exatamente o contrário da outra garota ao seu lado, esta era morena e incrivelmente bonita, ela virou o rosto e o que aconteceu quando vi seus olhos me fez recuar um passo para trás. Eu sentia uma aura pesada, algo incrivelmente angustiante e macabro vindo daquela menina. Seus olhos pretos eram profundos e não era possível ver neles pupilas, ela me olhava com aparente raiva, como se quisesse me matar com um só golpe. Fixei meus olhos nos seus, não seria eu à recuar.
-Ahm, essa é a Christina namorada do Matheus. -disse Daianna ao perceber a situação.
Matheus...
Christina encarou-me com seus olhos sombrios em uma ameaça silenciosa e por alguma razão eu me encolhi.
Será que só eu posso ver isso? As pessoas estão cegas?!
-E esse é o Jason, meu irmão. -Daianna apresentou o garoto que estava sentado ao meu lado, ele sorriu.
Esse não era sombrio, não tinha maldade porém era safado, isso com toda certeza era.
O Jason é bronzeado como a irmã, seus cabelos são castanhos dourados, seus olhos escuros e sua boca bem avermelhada.
-Pessoal, essa é a famosa Gabriela Arenas.
-De onde você é, Gabi? -perguntou Lizzeth sorrindo.
-Daqui mesmo. -disse começando a comer.
-E porque você está aqui? -falou Christina, pude sentir o veneno em sua voz.
Fiquei alarmada. Ela deveria saber de algo? É impossível ela saber!
De repente eu perdi toda a fome. Larguei os talheres e fiquei encarando o bife e o brócolis em meu prato.
-Que é? Não vai responder não, amiga? -pude perceber que ela enfatizou a palavra 'amiga'.
Levantei-me e saí dali sem esperar por nada, quando cheguei no meio do refeitório, Diego aparece e agarra meu braço me puxando com ele.
-Hey! Me solta seu trouxa! Me larga! -xinguei.
-Quieta! -ele repreendeu.
-O quê? Quem você pensa que é para me mandar ficar quieta?! Você tá pensando o que? -puxei meu braço mas ele não soltou até estarmos em um canto separado do refeitório.
-Virou moda agora me arrastar pelo braço como se eu fosse criança, é? Qual é o seu problema, hein? -disse irritada.
-Agora? Você! -ele falou.
E com isso eu me calei.
-Eu só vou perguntar uma vez, o que há entre você e o Matheus?
Novamente esse nome ressoou em minha mente repetidas vezes. Ele tinha o mesmo nome que o namorado de Christina. Que coincidência. Mas nessa escola tem tantos alunos, claro que tem vários Matheus...
De todos os possíveis nomes que imaginei para ele, nenhum ficou tão perfeito como esse.
-Gabriela, você não vai me responder? -insistiu Diego.
-Olha Diego, você não tem nada à ver comigo e com a minha vida. -falei calma e com convicção.
-Vejo que está usando o presente que te dei. -ele pegou o pingente sobre meu peito aproveitando para me tocar mais do que o necessário.
Dei um tapa em sua mão, não queria ninguém tocando em mim.
-Pois é, eu estou. -falei.
-Então é da minha conta. -disse ele.
Dei um rápido puxão no colarzinho que logo se abriu e eu o botei na mão de Diego.
-Pegue seu pingente e pare de encher meu saco! -falei dando-lhe as costas.
Aquela história já estava me estressando, quem aquele garoto pensa que é para chegar assim, botando banca? O cara me conhece à menos de um dia e acha que já pode exigir que eu lhe conte coisas que só dizem respeito à mim.
Uma brisa morna soprou no corredor e meus olhos foram obrigados a olhar para frente, o Matheus estava de costas para mim, parecia que ia entrar em uma sala, porém quando tocou o trinco da porta ele ficou paralisado, como se tivesse sentido a minha presença assim como eu a sua. Lentamente ele virou o rosto em minha direção, seus olhos encontraram os meus, novamente aquela mesma sensação voltou. Era estranho. A certeza se misturava à dúvida, o certo se cruzava com o errado e a normalidade passava longe quando nos olhávamos.
-Gabizinha, desculpa se eu fui um idiota! -ouvi Diego atrás de mim.
Ele segurou minha mão me fazendo olha-lo.
-Solta. -disse rispidamente ao perceber a situação
Ele soltou minha mão e se retraiu. Percebi tarde demais que o havia magoado e me senti a pior pessoa do mundo.
-Desculpa! -falei pegando de novo a sua mão.
-Tudo bem. -ele falou e pela primeira vez desde que cheguei eu sorri.
Eu ainda era capaz de sorrir, e descobri isso com Diego. Bom, talvez aquele trouxa não fosse de todo idiota!
Diego me abraçou. Por essa eu não esperava.
Nunca fui muito de abraços, me senti deslocada e fiquei simplesmente parada até ele me soltar.
-Desculpa. -falou ele sem jeito.
Assenti meio perdida, fazia tanto tempo que eu não recebia um abraço. Isso era esquisito e um tanto constrangedor.
-Vem, vou te levar até o seu armário, aposto que não sabe aonde fica.
-Pior que não sei mesmo. -admiti com uma careta.
Diego me mostrou o meu armário, que a proposito era bem pequeno. Botei meus cadernos no compartimento principal, e logo no de cima botei os livros de literatura que eu costumava ler antes.
-Ah, só mais uma coisinha. -ele pegou o colar do bolso.
-Não acho que eu precise...
-Por que não? -ele interrompe. -Por acaso já tem compromisso?
Não era uma questão de compromisso ou não, e sim que eu não estava afim de me envolver com nada e nem com ninguém naquele lugar, e nem em lugar nenhum.
-Só acho que não é certo. -disse por fim.
Segui em silêncio para o meu quarto, eu sabia perfeitamente que não mudaria de ideia. Também sabia que era idiotice usar aquela corrente, já que não queria nada com o Diego, porém não queria magoá-lo, por que por mais tapado que ele fosse, ainda sim eu gostei dele, no bom sentido, é claro.

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