17 - Dor... Raiva... Novo Caminho

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Nós estávamos imóveis, eu em abalo e Samira no chão. A única coisa pela qual lutei contra desde o inicio se tornou realidade diante de meus olhos. Eu permiti que aquilo se concretizasse. Não se deixe abater; digo a mim mesma. Ainda não acabou. Me apresso para juntar-me a Sam, apoiando sua cabeça sobre minhas pernas. Seguro seu rosto entre as mãos e percebo seu corpo esvaído, os lábios um tanto esbranquiçados, suas bochechas ainda quentes. Minha esperança teimosa brigava com o desespero que marejava meus olhos, me fazendo ver com menos clareza. Começo a sacudi-la ternamente buscando algum sinal vital que não se materializou, ela permanece imóvel agora em meus braços. A guerra ao redor se tornou apenas um pano de fundo sem sentido que não me interessava mais.

- A guardiã suprema foi atingida – alguém grita.

O eco daquelas palavras invade meus devaneios, mas eu não memorizo a sentença que permanece desconexa diante da minha percepção afetada. Mais ao longe há gritos repetidos em uníssono.

- Recuem – ordenam.

Continuei lutando comigo mesma para manter Samira neste mundo, alheia a qualquer acontecimento até Enzo e Edwin se aproximarem turbulentos. Eu não me importava se iriam me proteger ou não.

- Isis foi seriamente golpeada na luta contra o líder dos servidores, e Eliot... – Enzo se interrompe bruscamente.

Edwin se abaixa alarmado ao perceber que não esboço nenhuma reação com aquelas palavras. Ao vê-lo examina-la meu desespero vence a luta.

- Por favor, traga a pedra da graça. Ajude minha irmã. Faça com que ela fique bem, por favor...

Após sentir sua pulsação e examinar seu ferimento, ele me olha com pesar.

- Não há mais como ajuda-la Amber. Ela se foi.

Meus olhos viajam rapidamente de Enzo para Edwin e suas expressões incrédulas, até não ser possível enxergar mais nada. Com a confirmação a dor atingiu meu peito e fechou minha garganta fazendo o choro sair silencioso, não podendo ser detido nem mesmo com os olhos serrados. Tudo que pude fazer foi mantê-la perto de mim, comprimindo seu rosto entre a curva do meu pescoço para fugir da ideia de ter que me acostumar com sua ausência pelo resto de minha vida.

- Eu não pude ajudar Eliot... agora entendo por quê – diz Enzo – Quando corri para deter o ataque do servidor contra Eliot ele simplesmente abandonou sua postura de batalha e largou sua espada, esperando ser atingido. O servidor o matou sem pestanejar. Eu não pude fazer nada.

- Quem fez ... ? – Edwin é cauteloso.

- Foi escolha dela – respondo com a voz embargada.

Ficamos em completo silêncio e enquanto eu a olhava penso nos seus dizeres: Lembre-se das palavras da nevoa. Dor ... raiva... novo caminho. Era isso, exatamente sobre este momento que a nevoa soprou ao meu ouvido, era desta forma que eu me sentia. Com dor, raiva e obrigada a encontrar um novo caminho a partir de agora, mas sem nenhuma clareza sobre qual direção seguir. Aos poucos percebo uma agitação estranha ao redor que interrompe meus pensamentos. Enxugo meu rosto com as costas da mão e tento voltar ao presente por um segundo quando ouço a voz de comando de Phil.

- Guardiões da vida que permanecem puros, devemos partir agora. Adhorat e Unya tragam a guardiã suprema em segurança para nosso reino.

Permaneço com a cabeça baixa, observando de soslaio os guardiões de batalha seguirem as ordens de Phil imediatamente. O restante dos guardiões do reino estavam desnorteados, sem saber o que fazer.

- Enzo o que está acontecendo? – pergunto – o que foi feito dos servidores?

- Nada. Um pouco depois de tentar impedir Eliot ouvi gritos e comemorações de vários servidores, após isso o líder deles não demorou a comandar que recuassem. Tudo aconteceu muito rápido do começo ao fim e a princípio pensei que fora devido a morte de Eliot, mas ao me aproximar da aglomeração de guardiões alguém gritou que Isis havia sido ferida e estava inconsciente. Acho que os servidores desistiram intencionalmente, de outra forma o líder a teria matado hoje.

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