Rest in Peace

Pilares

Parque de Diversões

Lucy estava sentada no banquinho do balcão de bebidas do bar tomando uísque. A banda tocava Somebody Else' s Guy de Jocelyn Brown. As três mulheres já estavam posicionadas cantando alegremente. Um cara loiro se aproximou dela. Apoiou seu ombro no balcão e ficou a encarando enquanto segurava um copo de "uísque" em suas mãos.

- Não sabia que todas as mulheres de preto eram tão lindas. – exclamou dando um gole e fitando seus olhos em Lucy.

- Essa é sua melhor cantada? – ela deu um sorriso. O loiro arqueou sua sobrancelha indicando conformismo com aquele comentário. – Você é um cara bonito, mas não sei como seria... – ela começou a gesticular apontando para eles dois. – Se nós dois tivéssemos algo, sabe?

- Como assim? – indagou parecendo decepcionado.

- É que... Somos de mundos diferentes, entende? Você é uma alma e eu sou uma... Alma que ceifa almas. – ela estava nervosa. Tropeçava nas palavras. – Nem sei se isso é permitido. – sinalizou com suas mãos para que ele permanecesse calmo. – Não é você. Sou eu.

- Eu entendo. Foi um prazer ter essa pequena conversa. – despediu-se e saiu em direção a uma das mesas.

Minutos depois, Celeste se aproximou. Suas roupas estavam diferentes: usava uma saia longa justa ao seu corpo e uma blusa preta de magas longas. Seu cabelo encontrava-se preso num coque posicionado do lado direito da cabeça da ceifadora. Ela se apoiou no balcão, pediu uma bebida e encarou Lucy.

- Estava tendo problemas com ele? – perguntou curiosa. A balconista pôs um copo de uísque sobre a bancada.

- Na verdade não. – respondeu enquanto via a Ceifadora veterana dar um gole no uísque. Reparou nas roupas dela. – E você? Ia sair para algum lugar?

- Não... – negou parecendo surpresa com a pergunta. – Não tem um lugarzinho descente por aqui. – ele pousou o copo de uísque sobre o balcão.

- Lafayette devia fazer uma daquelas caixinhas de sugestões. – comentou. Parecia que aquela barreira inicial que havia se formado entre Celeste e Lucy havia sido destruída. As duas riram em conjunto.

- Assim como a sugestão do céu estrelado? – rebateu Celeste. Viu Lucy expressar dúvida sobre o assunto, mas em seguida compreender do que a Ceifadora falava.

- Aquilo? Não foi uma sugestão. Estávamos conversando sobre nossas vidas e Lafayette comentou sobre uma paixão que teve. – a garota viu as feições de decepção surgirem no rosto da veterana e rapidamente mudou de assunto. – Mas e então... Muito trabalho hoje?

- Sim. Sim. – ela pôs suas mãos em ambas as têmporas e começou a massagear. – Fui a Fábrica de Fiação, ceifei em torno de umas 15 a 20 almas.

A garota pareceu surpresa. Ela balbuciou algumas palavras inaudíveis tentando processar o que Celeste havia falado. Sua mente começou a formular a pergunta ideal a ser feita quando a veterana respondeu.

- As noções de tempo são diferentes. O que para você não passou de poucas horas, para nós Ceifadores foi praticamente um dia. – Lucy ficou admirada com as habilidades de Celeste. – Seu "relógio biológico" funciona de acordo com a Terra e não com o Outro Plano.

- Isso faz sentido. É como se eu tivesse passado por fusos horários? – Celeste concordou com a cabeça. – E quanto a essa fábrica que você falou? Existe uma fábrica no... – Lucy não lembrava o termo que Celeste usara anteriormente, então usou um termo já conhecido. – Outro Plano?

Celeste afastou-se do balcão e seguiu em direção a uma das mesas. Lucy acompanhou-a e as duas mulheres se sentaram. Seus olhares estavam voltados para o palco onde as três mulheres continuavam a cantar.