Casa de Bonecas

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- Em minha casa tinham sete gatos... Um gato pulou atrás do rato... E desapareceu lá no mato... - cantarolava uma moça de vestido florido esvoaçante e uma jaqueta jeans posicionando uma cadeira logo abaixo do ventilador.

Seus cabelos loiros estavam jogados para trás e com mechas saltando para frente ficando na altura de seus seios - Em minha casa tinham seis gatos... Um gato pulou atrás do rato... E desapareceu lá no mato... - a garota foi até seu guarda-roupa e abriu a porta lateral esquerda vendo vários lençóis. A jovem pegou um dos lençóis e deu um nó de marinheiro em uma das extremidades fazendo um laço.

Sua mãe chama por ela, a jovem para tudo o que está fazendo e sai de seu quarto correndo. Na sala do jantar, a garota aproxima-se vendo seu irmão de sete anos sentado usando roupa de futebol. O garoto era do time da escola. Sua mãe estava sentada em uma das pontas enquanto seu pai estava na outra. Ela se senta.

- Boa noite... - sua voz era uma mistura de apreensão e nervosismo.

- Teremos costelas para o jantar. - falou a mãe indicando com a mão uma bandeja de costelas e em seguida aponta para a cadeira vazia - Sente-se, querida. - Lucy não era de contrariar sua mãe. Prontamente se sentou. Ficou admirando sua família ajudar uns aos outros na hora de servir a refeição.

A garota não sentia fome, mas disfarçou para que sua mãe não suspeitasse. Lucy via o quão falso era toda aquela realidade. Em sua mente a contagem regressiva continuava. Em minha casa tinham cinco gatos... Um gato pulou atrás do rato... E desapareceu lá no mato. Em minha casa tinham quatro gatos... Um gato pulou atrás do rato... E desapareceu lá no mato... Sua contagem foi interrompida.

- Então, filha... O que fez hoje? - pergunta o pai em tom autoritário.

- Nada demais. O de sempre. Estudei para as provas... Escutei música... - falou com sua voz ficando ainda mais trêmula.

- Certeza? - fala novamente questionando a veracidade dos fatos apresentados pela filha.

- Sim. - afirma enquanto se afasta da mesa e se levanta.

- A comida não estava boa, querida? - falou a mãe se levantando e seguindo a filha até a porta da sala de jantar.

- Não estou com fome. - falou Lucy subindo as escadas. Seus olhos estavam se enchendo de lágrimas aos poucos.

- Deixe-a. - falava o pai sempre com sua voz autoritária e ameaçadora. - Ela precisa de espaço.

Enquanto sobe as escadas e segue pelo corredor, sua contagem havia chegado mais próximo do zero. Em minha casa tinham dois gatos... Um gato pulou atrás do rato... - murmurava enquanto entra no quarto e pega o lençol o amarrando no ventilador barulhento que girava a poucos centímetros de sua face - E desapareceu lá no mato...

Seus olhos encheram-se de lágrimas. Ela estava de pé sobre a cadeira pondo o laço em volta do pescoço lentamente. Talvez para ter certeza de que tudo aquilo era a resposta para o que sentia.

- Em minha casa tinha um gato... O gato pulou atrás do rato... - dessa vez Lucy chorava descontroladamente. Suas lágrimas escorriam pretas devido ao rímel - E desapareceu... Lá no... Mato.

Um barulho de queda de objeto é escutado da sala de jantar. Os pais de Lucy trocam olhares apreensivos e gritam pelo nome da filha. Sem resposta decidem investigar. Sobem as escadas, seguem pelo corredor e notam a porta do quarto de Lucy entreaberta. O pai empurra e a mãe dispara um grito de surpresa. O corpo sem vida da jovem estava suspenso por um lençol ligado ao ventilador. A cadeira caída logo abaixa. Lucy Allen Foster havia morrido.

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