Terno Cinza

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Suas mãos deslizaram pelo corrimão da escada. Lucy estava meio cambaleante com os vários looping da montanha russa. Descia, cuidadosamente, degrau por degrau. Gilbert vinha logo atrás.

- Vamos de novo? - questionou sem tirar um sorriso do rosto.

- Não. - disse Lucy. A frase soou como uma menina birrenta sendo contrariada. - Desculpe, mas esse brinquedo dá muitas voltas e é muito... Muito rápido.

- Então eu vou só. - disse parecendo esperar uma resposta da garota.

- Sem problemas. - mal terminou de falar quando sentiu um estranho formigamento no braço. O nome de Hugo Barbosa Lima desapareceu de seu braço. - O que aconteceu?

Gilbert havia desaparecido. Lucy olhou em volta a procura dele e somente observou aquele homem que de forma alguma relembrava a Morte.

- Lafayette. - disse parecendo contente em revê-lo e ela realmente estava.

- Celeste me disse que se saiu bem em sua primeira coleta. - parecia feliz. Era um chefe feliz por sua funcionária ter se saído tão bem no primeiro dia de emprego. - Estou muito feliz por ter levado a Alma do Hugo Barbosa Lima.

- Como sabe? - questionou mostrando surpresa com o fato de Lafayette saber quem Lucy matou.

- Lembra? - disse aproximando sua mão direita do rosto de Lucy. - Acho que não, mas vou te relembrar. Eu fico com a parte chata da morte. Eu distribuo as almas a serem coletadas entre os Ceifadores.

- Verdade. - ela afastou-se um pouco dele.

- Vamos caminhar um pouco. – disse ele pondo as mãos nos bolsos da calça social preta e seguindo em direção ao Túnel do Terror. Lucy o seguiu por entre aquela multidão de pessoas que parecia não ter fim. - Qual a sensação de levar uma Alma?

- É... Eu não sei descrever. É muito estranho. – um sorriso sutil surgiu no rosto dela. – Porém é uma sensação interessante.

- Uma sensação boa? – questionou Lafayette sem se virar para ela. Permanecia à frente guiando-a.

- Talvez... – ela parou. Lafayette prontamente se voltou para ela inclinando sua cabeça para o lado.

- O que houve? Por que parou?

- Será que estou me tornando má?! – mal terminou e percebeu um olhar rancoroso de Lafayette.

- Vocês humanos são todos iguais. Mesmo estando aqui ainda pensam que a Morte é algo... – Lafayette gesticulou suas mãos em sinal de fúria. – Ruim.

- Eu não quis ofender.

Lafayette se vira e volta a seguir seu caminho. Lucy corre em direção a ele ficando ao lado dele. A garota havia se tornado uma sombra. Ela notou uma espécie de rancor bem expresso em Lafayette. O silêncio prevaleceu entre os dois até chegarem ao Túnel do Terror. Uma fila de pessoas os observou e começaram a cochichar. É o Lafayette. Olha como ele é lindo. Que olhos são aqueles. Eram os comentários que Lucy ouvia.

O funcionário responsável pelo brinquedo permitiu que eles passassem a frente. As pessoas da fila não se importarão. Sabiam que o criador daquele lugar era o homem de preto, por isso não reclamavam.

Eles passaram por uma catraca e chegaram a uma parte escura. Luzes azuis e vermelhas piscavam alternadamente. Logo a frente deles, havia uma espécie de rio com uma água bem cristalina. Um barco de madeira parou e eles subiram. Lentamente, começou a deslocar-se seguindo o fluxo do rio.

- Eu não quis insinuar que você fosse... – começou, mas logo foi interrompida por Lafayette.

- Quero lhe contar uma pequena estória que faz parte dos vários acontecimentos da humanidade. – disse virando seu rosto para o de Lucy e soltando um sorriso sutil. Lucy jogou as mechas de seu cabelo para trás da orelha e começou a prestar mais atenção no que Lafayette falava. – Era uma vez, um casal que viveu no seu mundo há muitos e muitos anos atrás.

Rest in PeaceWhere stories live. Discover now