Seres Alados

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Olhares eram trocados entre ambas. A seriedade e autoridade de Celeste eram confrontadas pela teimosia e o receio de Lucy. A Ceifadora quebra aquele silêncio seguindo em direção a uma das incubadoras mais próximas a ela.

- Claro que não. – disse sem perder sua pose. – Era só uma brincadeira. Hugo Barbosa Lima é um dos enfermeiros desse hospital.

Celeste segue em direção à porta. Seu corpo espectral atravessa a porta sem muita dificuldade. Lucy acompanhou-a temendo colidir com a porta, mas assim como a negra também conseguiu passar. Ambas andaram por um corredor escuro de paredes brancas. Celeste tomava a frente enquanto Lucy andava um pouco enraivecida.

- Não é legal brincar com esse tipo de coisa, sabia? – disse aumentando seu tom de voz de forma que Celeste se sentisse mal pela brincadeira.

- Eu sabia. – exclamou desdenhando a atitude da jovem. – Mas lembre-se, Novata... – nesse momento Celeste voltou-se para Lucy ficando cara a cara com a loira. – Não pode ter pena das almas que serão ceifadas. É o seu trabalho. É o nosso trabalho.

Virando-se e voltando a andar em direção as portas que indicavam UTI. Seu vestido preto seguia os movimentos do quadril da Ceifadora.

- Devia ter visto sua cara. – debochou Celeste com um pequeno sorriso no canto de sua boca.

A Novata observa uma enfermeira vir no sentido contrário após sair do Depósito de Mantimentos. Celeste desviou e a mulher de vestes brancas passa pelo corpo irreal de Lucy. Uma sensação peculiar percorre a espinha daquela mortal.

- O que... – virou-se procurando qualquer coisa que indicasse um sinal de perigo. Mesmo bem diante de seus olhos, a mulher não foi capaz de ver as duas Ceifadoras paradas a poucos passos dela.

Voltou para seu caminho, só que expressava nervosismo no caminhar. Uma expressão de dúvida surgiu no rosto de Lucy que fora observada por Celeste.

- Ela sentiu minha presença? Isso é possível?

- Claro. O que acha que causa aquele famoso frio na espinha? É a pequena interação entre nós e os mortais. – disse atravessando as portas cerradas da UTI. Lucy fez o mesmo.

Chegando a ala observam-se diversas camas com pacientes. Ou dormindo ou acordados sendo acompanhados por enfermeiros ou familiares. As luzes do ambiente estavam frequentemente piscando. Mais velas iluminavam o local.

- Procure-o. – disse Celeste indicando com a mão o caminho que Lucy deverá seguir. – A marca indicará a vítima.

As luzes piscaram. Subitamente, diversos anjos da guarda surgiram em diferentes pontos da UTI. Todos estavam com seus olhos fixados nas duas Ceifadoras. A loira notou que todos usavam roupas brancas. As asas deles estavam flexionadas. Um burburinho havia começado.

- Não se preocupe. – Celeste lançou um olhar de repreensão para todos aqueles que estavam falando. – Calem-se.

O grito os silenciou. Lucy voltara a andar lentamente enquanto o nome Hugo Barbosa Lima brilhava de forma mais intensa. Ela anda tomando cuidado para não transpassar por ninguém. Algumas enfermeiras iam e vinham de um lado a outro da sala.

No final da sala, Hugo estava ao lado de uma mulher grávida deitada numa cama. Um grito ecoou pela sala silenciosa. A grávida acabara de entrar em trabalho de parto. O enfermeiro tentava acalmá-la. A respiração era acelerada.

- Calma. Fique calma. Vai ficar tudo bem. – outro grito ecoou pela sala. Hugo segura firme a mão da mulher. – Respire. Respire.

- Veja que coisa. – comentou um Anjo da Guarda mulher para um Anjo da Guarda homem. Lucy percebeu e começou a prestar atenção enquanto ia em direção ao enfermeiro. – Vida e Morte no mesmo lugar.

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