36 - O Porão da Biblioteca

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Nos últimos anos, tenho me confortado dizendo que "estou com setenta e poucos," mas a matemática é simples e indiscutível. Hoje é meu aniversário de 75 anos e, Deus, como os anos passam voando.

Não estou aqui para receber suas felicitações; não é um marco que me deixe muito animado. Claro, estou feliz de ainda estar aqui, mas sinto que, com o passar dos anos, cada vez menos tenho pelo o que viver. Meus ossos doem, meus filhos moram longe, e o outro lado da minha cama já está frio e vazio há dezoito meses. Na verdade, depois que eu votar contra o Donald trump nas eleições de novembro, não terei mais nada pelo o que viver.

Então poupe-me dos seus "feliz aniversário" e "parabéns", por favor. Estou aqui porque tenho uma história para vocês, e é uma que nunca contei antes. Antes eu achava que a mantinha só para mim por ser boba, ou porquê ninguém acreditaria. Descobri que, quanto mais velho você fica, mais exaustivo é de mentir para mim mesmo. Para ser totalmente honesto, nunca contei essa história para ninguém porque estava morrendo de medo.

Mas a morte parece estar mais amigável do que nunca, então preste atenção.

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Foi no ano de 1950; o local, uma pequena cidade no estado de Maine. Eu era um menino com apenas 9 anos de idade, relativamente pequeno para minha idade, com apenas um amigo para conversar- mas sua família, aparentemente por um capricho, decidiu se mudar para um lugar a 3.250 quilômetros de distância. Sem dúvidas, foi o pior verão da minha vida.

Meu pai não estava por perto e minha mãe era biscate dos extras - se é que você me entende - então eu não ficava muito pela casa. Um pouco hesitante, decidi que a biblioteca pública seria onde passaria meu verão. A coleção de livros da biblioteca, principalmente da seção infantil, era carente de variedades, para dizer no mínimo. Mas, pelo menos, dentro daquela misero prédio eu não encontraria tarefas domiciliares, nem minha mãe ranzinza (que descanse em paz), e provavelmente o mais importante, nenhuma criança com quem eu seria obrigado a socializar. Eu era a única criança impopular suficiente para gastar meus precisos dias ociosos de férias entre as prateleiras de livros, e para mim estava perfeito assim.

A primeira metade do meu verão foi bem mais terrível do que eu imaginava. Dormia até umas dez horas da manhã, fazia minhas tarefas, então ia pedalando até a biblioteca (e por bicicleta quero dizer uns pedaços de metal retorcidos e enferrujados grudados a um par de rodas). Uma vez lá, dividia meu tempo entre irritar involuntariamente os frequentadores mais antigos e depois o fazer de propósito. Na verdade, uma senhora muito agradável interrompeu meu estalar de língua para gritar "cale a porra da boca!" para mim - a primeira vez que ouvira um adulto falar "porra". Hoje em dia não isso não é nada, mas naquela época era.

Os dias melancólicos se tornaram semanas decrépitas. Pra falar a verdade, já estava rezando para a escola começar de novo - até eu encontrar o porão. Eu jarava que já havia vasculhado todos os cantos da biblioteca, mas um dia, no canto mais distante atrás da coleção de livros em línguas estrangeiras, me deparei com uma pequena porta de madeira que nunca havia visto antes. Foi aí que tudo começou.

A porta não tinha nenhuma janelinha e era feita de um carvalho que parecia ser muito mais antigo do que a parde que a sustentava. Tinha uma maçaneta feita de metal negro que parecia muito antiga - eu não ficaria surpreso se me informassem que ela tinha sido feita no século 17. Gravada na maçaneta estava o que parecia ser uma única impressão digital. Fiquei com a sensação de que, seja lá o que estivesse atrás daquela porta, era totalmente proibido para mim e, por esse motivo, seria a coisa mais interessante que veria naquele verão. Rapidamente olhei em volta para ter certeza que ninguém estava me observando, então virei a maçaneta, deslizei lá para dentro e fechei novamente.

Contos De Terror 1° EDIÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora