88 - MAMÃE

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Quando eu tinha oito anos, papai me deu um diário, ele era rosa e tinha minhas iniciais na capa, ele veio com um pacote de canetas brilhosas de várias cores, na última página, ele escreveu uma dedicatória que eu não entendi muito bem. Como você pode imaginar, meu diário não era muito interessante levando em conta a minha idade. Durante o dia, eu ficava na escola e depois iria para a minha casa ficar à noite com a minha mamãe. E ela iria me ajudar a escrever no meu diário sobre o meu dia, ás vezes, nós só inventávamos histórias, músicas, ou apenas tirávamos fotos, eu só não poderia deixar de escrever algo em meu diário todos os dias. Eu costumava reclamar com minha mãe o quão chato meu diário era, nós nunca fomos em qualquer lugar, ou fazemos coisas que eu poderia escrever sobre. Toda as outras crianças em minha turma, passavam um tempo praticando esportes, iam ao cinema, passavam a noite na casa de seus amigos, mas eu nunca consegui fazer nada disso. Papai não permitiria isso.

Minha mãe disse que isso tava tudo bem e que nós poderíamos soltar nossa imaginação no diário, ela disse que era a minha história e eu poderia escrever da maneira que eu quisesse. Então, foi isso que fizemos. Nós começamos a escrever histórias sobre ir ao zoológico, sobre faltar a aula para ir comer sorvete no parque, ou apenas ir nadar no riacho atrás de casa. Às vezes, até escrevemos sobre fugir de papai e ir para bem longe, para que ele nunca nos encontre. Seria como o esconde-esconde, mamãe dizia:

- Você gostaria disso?

Eu ri, porque sabia que papai nunca ia deixar a mamãe sair de casa, ele apenas a amava muito. Bem, foi isso que ele me disse quando mostrei todas as histórias no meu diário, eu não disse que eram mentiras porque elas eram minhas histórias e elas eram reais para mim. Eu nunca vi a mamãe depois daquela noite, eu estava tão confusa e triste, eu ficava perguntando ao papai pra onde ele tinha a deixado ir.

- Você não me disse que a amava demais para deixar ir? perguntei várias vezes, sua única resposta foi:

- Eu não a deixei ir embora.

Não muito depois disso, nós nos mudamos para outra cidade. Papai achou que deveríamos começar tudo de novo. Eu amei nossa nova casa, ela tinha um porão e um quintal enorme como a cerca em volta de toda a casa e você tinha que saber o código para passar no portão da frente. Só papai sabia o código.

Em meu décimo aniversário papai me disse que tinha uma surpresa pra mim. Ele desceu até o porão e voltou minutos depois com a ponta de uma corrente, na outra extremidade, tinha, tinha uma mulher com pele pálida de cabelos escuros, suas pernas estavam amarradas na altura do joelho e ela lutava no chão da cozinha para conseguir ficar de pé, fita cinza foi esticada em sua boca e enrolada em torno de sua cabeça, seus olhos estavam arregalados e cheios de lágrima, ela parecia tanto com minha última mamãe, tudo que tínhamos que fazer era limpá-la um pouco. Minha nova mamãe, eu sussurei empolgada.

Papai estava tão orgulhoso de si mesmo. Ele adorava me ver feliz assim, eu corri para abraçar a minha nova mamãe, mas ela tentou se afastar e caiu no chão. Isso deixou papai muito irritado. Ele disse para eu me afastar, segurou a mamãe pelo braço e arremessou em uma cadeira.

- Ela ainda precisa ser treinada. Ele disse.

Ele a pegou e a levou para o seu quarto no porão. Ele trancou a porta dos fundos e, em seguida, voltou e trancou a porta do porão. Mamãe chutou as paredes durante toda a noite, não vamos alimenta-la até que ela se comporte, eu continuo dizendo isso a ela, mas ela não me escuta, ela não é tão boa quanto minha última mamãe, eu disse isso a ela também.

- Ela só precisa de um tempo para te amar, querida. Papai disse.

Quando me entregou um novo diário, um diário igualzinho o último, exceto pela dedicatória no final, em vez de um quatro, tinha um cinco bem grandão.

Contos De Terror 1° EDIÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora