Epílogo

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O fim?

De onde estava podia ver as coisas ao pouco se apaziguarem, o céu voltara ao tom azul lindo e relaxante de sempre, não havia sinal da tempestade que minutos atrás ameaçava assolar o campus de Misty Falls High. Também não havia sinal algum de Kaya Aregon embora sua presença não tenha se dissipado por completo em meio a tudo, talvez porque uma de suas partes ainda permanecia viva, abraçada a um garoto que um dia jurara recuperar o último livro que restará da Era dos Anunciadores, uma época distante que, porém, derramava suas mais altas consequências em meados do século XXI.

A sensação no momento era de que tudo finalmente fora resolvido, o preço pelo feitiço que separara as duas no século XX já fora pago. No entanto, eles estavam realmente a salvos? As lembranças do feitio de Kaya desde que nascera vinham em disparada bagunçando cada uma das conclusões que tomava sobre o ocorrido. A pequena Aregon sempre fora dissimulada, característica que somente a mãe parecia enxergar, o dom de persuasão ultrapassava os limites de seu poder de tal forma que se tinha como impossível desvendar qualquer mentira que esporadicamente ela criada para se salvar de uma encrenca com o pai.

E é claro, sempre tivera uma curiosidade perigosa e hostil, nunca fora daquelas que usufruía de seus dons para gerar o bem. Não era sua culpa. Afinal, ela nunca soube o que era ser boa em si já que a mãe, embora uma Lumus, nunca dera o exemplo diante da filha por acreditar desde o ventre que a maldade era o seu destino. Como praticar algo que não se conhece, não é mesmo?

Por outro lado, a pequena e astuta Maya sempre esteve rodeada de pessoas que conheciam e praticavam a tão buscada bondade. E sim, sempre fora curiosa desde que saíra do ventre da mãe, o pai de pronto reconheceu a sua pequena Kaya no rosto meigo e inocente da recém-nascida e as memórias do desastre que assolou o pequeno vilarejo de Misty Falls o fizeram fugir amedrontado. Quem sabe seu pensamento aquele fatídico dia em que se fora não era de que, quanto menos de seu passado a nova fase da filha presenciasse, mais distante aqueles atos estariam predestinados a se repetir.

Poderia até ser, se Heitor Vilar tivesse permanecido no passado. Depois do incêndio que sucumbiu no fim de todos os White, foi a vez do clã Vilar. Sem aviso prévio ele se foi, não fizera um mínimo esforço para manter-se vivo, para ele uma vida sem Kaya Aregon não tinha sentido, sem contar que falhara com todos da sua família ao perder o livro. Nem mesmo a pária Morgan White servira de motivo para que ele salvasse a si mesmo. A história contada pelo pai anos depois despertou no jovem Liam o desejo de ver a amada outra vez e com uma carta falsa no nome do pai de Maya convenceu a mãe de o que o melhor para a garota era Misty Falls High, o que todos já sabemos que Elizabeth concordou.

Agora, Maya Aregon adquiriu o poder de escrever seu próprio destino. Bom, pelo menos até que se finde a Aurora Conjuradora, o momento tão esperado por cada bruxo iniciando, o dia em que quem você é finalmente floresce. A Aurora Conjuradora designou os lados White e Black como também Aregon e Vilar.

Porém, a preocupação é: qual dos dois lados de Maya vai prevalecer na escolha? Agora que as duas são uma só, não há distinção entre Kaya e Maya como o bem e o mal já que, a adaga matou o corpo físico, mas a essência prevaleceu e voltou para o seu lugar de origem. Será que a bondade contida em Maya Aregon é forte o suficiente para evitar que a maldade de seu passado decida por ela no dia da escolha?

-Viajando outra vez? – A essência forte de Morgan White a desperta de seus devaneios.

Leila tinha a péssima mania de se deixar levar pelos pensamentos, porém sua sensibilidade nunca a deixara despreparada, o dom da sensitividade sempre a alertava da proximidade de algo ou alguém como também transmitia prelúdios do futuro os quais enquanto não ocorriam sempre a deixavam confusa e que nos últimos dias carregavam o medo de que Kaya tivesse ganho. Mas, agora a preocupação era outra.

Ela observa enquanto Morgan se senta no trecho de terra ao seu lado e reclina a cabeça sobre a grade de ferro do portão de entrada, as duas fitavam o casal que ainda estavam unidos desde que tudo acabou, no entanto, a visão de Morgan da cena era melhor já que esta podia ver através do parapeito enquanto Leila apenas via o topo de suas cabeças. Sempre achara que o parapeito do telhado era baixo demais para a segurança dos alunos, mas, naquele momento desejava que ele não estivesse ali para que pudessem ter uma visão completa do desfecho.

Um arfar de frustração a faz por mais atenção em Morgan, a expressão da garota era um misto de felicidade e tristeza ao mesmo tempo. Agora que tudo parecia ter acabado, Maya e Liam poderiam finalmente ficar juntos outra vez, sendo assim, a garota ruiva não tinha escolha a não ser aceitar que o destino dele era ao lado de Maya. Leila tem por um breve instante o impulso de saber como Morgan se sentia diante de tudo aquilo mas descarta logo em seguida, aquele não era o momento.

-E então? – Morgan meneia a cabeça para o lado e seus olhos verdes encaram o tom cinzento dos olhos de Leila. – O que você acha que acontece agora?

-Esperamos.

Leila se coloca de pé, com a palma das mãos ela limpa o barro impregnado em seu uniforme e se volta para Morgan que a encara com um olhar confuso.

-A Aurora Conjuradora decidirá o que virá a seguir.

A afirmativa vai a expressão no rosto de Morgan sumir e a mesma se coloca de pé ao lado de Leila, juntas caminham até Becca, Lizzie e Emma a fim de salvar o que restou de Misty Falls High.

É o fim?

As Crônicas de Misty Falls - Quedas EnevoadasWhere stories live. Discover now