Capítulo XVIII

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Meu corpo entra em estado de choque enquanto minha parte lógica tenta absorver aquelas palavras. Minha mão trêmula ainda está sob o telefone, o som da chamada encerrada ecoa ao meu redor.

-Maya? Você ficou pálida de repente, parece até que viu um fantasma.

Abro a boca para responder Morgan, mas as palavras ficam presas em um nó na minha garganta. Coloco o telefone de volta no gancho, estou tão assustada que acabo errando o local. Sinto uma mão quente e macia pousar sobre a minha imediatamente sou atingida por uma onda de tranquilidade que acalma as batidas de meu coração. Liam pega o telefone e coloca de volta no lugar.

-Tudo bem?

Apenas aceno com a cabeça, de uma forma que fica difícil interpretar como um sim ou um não. O barulho da porta ao lado atrai a atenção de todos na recepção, Morgan se levanta da cadeira e dá a volta no balcão parando a poucos centímetros de Elena.

-Como a Kimberly está?

-Ela vai ficar bem. Acho melhor todos voltarem aos dormitórios. – o seu olhar cai sobre mim. – Menos você Maya, é claro.

Após um dar de ombros Morgan marcha para fora da recepção, Liam balbucia um breve "até mais" e a segue. Leila se aproxima de mim e me dá um abraço apertado.

-Fica bem tá?

Desvencilhamo-nos do abraço e lhe dou um sorriso, ela acena e segue o mesmo caminho que os outros.

-Maya.

Dirijo o meu olhar a Elena.

-Penso eu que deixei bem claro que é contra as regras de Misty Falls sair do campus fora do horário. – concordo com a cabeça e ela continua. – Sinto muito, mas, você ter saído depois do toque de recolher é intolerável. – seu tom de voz é bastante sério. –Tinha mais alguém com você?

-Não. – me parecia correto assumir aquilo sozinha afinal, a ideia de ir ao porão foi minha.

-E onde estava?

A desculpa de que estava conhecendo o campus não funcionará novamente então, falo a primeira coisa que me vem à cabeça.

-Sou sonâmbula. – eu poderia ter pensado em algo melhor. – Sofro disso desde pequena.

-Sonâmbula? – pela forma como fala vejo que ainda tem dúvidas. – Bom, acho melhor trancarmos portas e janelas para sua segurança.

-É uma ótima ideia. – solto um suspiro de alívio.

-Bem, de qualquer forma vou pensar em uma forma de puni-la. E devido ao incidente em seu dormitório você passará a noite na enfermaria. Kimberly vai precisar de companhia.

-Claro.

Elena segue na minha frente até a porta da enfermaria e segura a porta até que eu entre.

-Tenha uma boa noite Maya.

-Obrigada. Boa noite.

A porta é fechada e caio na maca ao lado da de Kimberly que já está dormindo. Os acontecimentos de minutos atrás vêm como flashes em minha mente, por mais que eu tente entender o incêndio e a ligação é como se tudo tivesse encoberto por uma névoa tão densa que me impedia de ver a resposta bem na minha frente. Sinto um frio descer pela boca do meu estômago como se eu estivesse em queda numa montanha russa. É com esse sentimento que adormeço.

***

Debato-me sobre a água tentando subir para a superfície, sinto meu peito arder e minha garganta apertar com a falta de ar. Preciso encontrar um modo de sair daqui. Sinto-me mais pesada que o normal, como se uma bola de ferro estivesse amarrada em meu calcanhar me puxando cada vez mais para baixo. Movo meus braços freneticamente tentando impulsionar meu corpo para trás, bato com a cabeça em algo duro e num ato de desespero me impulsiono com toda força para cima.

Uma lufada de ar frio atinge o meu rosto provocando um calafrio que percorre todo o meu corpo. Respiro fundo, aliviada por estar fora d'água. Pisco os meus olhos repetidas vezes até que eles se acostumem à escuridão, a única fonte de luz é a lua cheia no céu. Dou uma rápida olhada ao meu redor e reconheço o objeto que se chocou com minha nuca. Estou rodeada por uma parede de tijolos coberta por uma camada gosmenta de lodo.

Um poço. Estou presa dentro de um poço!

Grito por socorro sem receber resposta, a minha voz bate nas paredes emitindo ecos pelo lugar. Começo a admitir para mim mesma que estou sozinha, ninguém pode me ajudar. Um sentimento de falta me consome, sinto lágrimas quentes se acumularem em meus olhos dificultando ainda mais minha visão.

O brilho da lua reflete sobre a água, cabisbaixa encaro o meu reflexo. Ao invés de encontrar uma garota de olhos castanhos com o cabelo na altura do ombro, vejo uma garota de cabelos longos, com um brilho dourado nos olhos. Instintivamente meu olhar cai para o que estou vestindo e sou tomada por uma onda de susto e medo ao ver um vestido branco com uma fita azul claro ao redor de minha cintura.

Acordo-me de supetão, meu cabelo está encharcado assim como minhas roupas. Minha respiração está ofegante, minha mandíbula está tremendo, fazendo os meus dentes baterem. Sento-me com as pernas para fora da maca e me cubro com os braços. Posso estar louca, mas tenho quase certeza de que sonhei com Kaya. Na verdade eu era ela.

-Eu pensei que você fosse uma garota compreensiva. – ergo o meu olhar e percebo que Kimberly está de pé ao meu lado segurando um balde com as duas mãos. –Eu quase morri queimada e achei que agora poderia ter uma noite tranquila de sono, mas fica difícil com você gritando feito uma louca. Parecia até que estava de baixo d'água.

-Foi por isso que você jogou um balde de água em mim?

-São 4 da manhã, eu não ia perder meu tempo chamando por você. Aliás, quem é Kaya?

A menção do nome dela me leva de volta ao sonho, parecia tão real, foi como se eu sentisse o que ela estava sentido. Mas, o que ela fazia presa dentro de um poço.

-Se não vai responder. – a voz de Kimberly me traz de volta. – Pode pelo menos me deixar dormir agora. Graças a você só me resta mais duas horas. – ela se deita de volta na maca de costas para mim.

-E graças a você, eu tô ensopada. Espero que pelo menos minhas roupas não tenham sido queimadas.

-Nem chegou lá em cima. Mas a escada não sobreviveu. Boa sorte para subir até lá.

Com certeza não vou conseguir dormir. Saio da enfermaria, de qualquer forma vou ficar de castigo mesmo. Vou em direção ao o que restou do meu dormitório, uma faixa amarela com listras pretas cerca o local e tomo cuidado para não romper nenhuma ao passar. Parece que Kimberly estava certa, o andar de cima está intacto. Porém a parte de baixo foi reduzida a cinzas. Caminho com cuidado pelo piso, quando estou chegando perto do local onde ficava minha cama escorrego em um líquido oleoso caindo com a bunda no chão.

Coloco a mão sobre o líquido que me fez escorregar, gasolina. Ponho-me de pé e olho com atenção o restante do piso, a única parte que encontro gasolina é ao redor da minha cama. A hipótese de que esse incêndio não foi acidental não me preocupa tanto quanto a de que estavam tentando me matar. Nesse momento me lembro das palavras da pessoa no telefone, ela ou ele disse que eu tinha escapado dessa vez e que não existiam acidentes. Meu coração acelera mais que o normal e corro até o resto da escrivaninha torcendo para que o papel com o número de Becca tenha sobrevivido.

É entre cinzas de papéis que encontro o pequeno cartão com o número chamuscado na borda. Agora só preciso encontrar um telefone, se ela estava certa sobre responder todas as minhas dúvidas tinha que ser hoje. Ela é a única que pode me explicar por que sonhei com Kaya e algo me diz que ela tem a resposta sobre o incêndio. Meu instinto nunca errou, espero que ele esteja certo dessa vez também.


Espero que tenham gostado meus amores, e obrigado pelos 1,1K de leituras. Vocês são o máximo!!!

Até mais!! XOXOXO


As Crônicas de Misty Falls - Quedas EnevoadasHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin