Capítulo XIX

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 Corro de volta para a enfermaria tomando cuidado para não ser pega. Chego à recepção e vou em direção ao telefone, digito os números torcendo para que Becca atenda.

-Pronto.

-Becca! Oi, é a Maya.

A linha fica em silêncio por alguns segundos.

-Maya, aconteceu alguma coisa? – noto um pouco de preocupação em sua voz.

Respiro fundo e digo:

-Sim. Lembra que você me disse que poderia responder a todas as minhas dúvidas? Pode ser hoje?

A linha fica muda pelo o que parecem ser longos segundos.

-Esteja no portão em vinte minutos. Não se atrase. – ela desliga o telefone.

Coloco de volta no gancho e entro na enfermaria, me certifico de que Kimberly está dormindo e vou ao banheiro. Tiro minhas roupas e coloco embaixo do secador para as mãos. Quando elas ficam secas o suficiente, me visto e dou um jeito no meu cabelo. Abro a porta com cuidado e corro até o portão de Misty Falls. Um tempo depois o mesmo carro que me pegou da última vez que sai do colégio para em frente ao portão, este se abre automaticamente. Diferente da primeira vez, não é Zack que está ao volante.

-Como você faz isso? – digo me referindo ao portão.

-Eu já estudei aqui sabia? – Becca diz abrindo a porta do passageiro.

Entro no carro fechando a porta assim que me sento.

-Suponho que ainda não tenha tomado café pelo horário.

O barulho em meu estômago me entrega e Becca dá a partida no carro.

***

Passo mais uma vez pela porta da casa de Becca, tudo parece exatamente igual desde minha última visita. Sigo Becca até a sala de jantar onde uma mesa de café da manhã está posta para duas pessoas. Ela faz um gesto me convidando a sentar e é o que faço.

-Você prefere chá ou café? – ela pergunta se sentando ao meu lado.

-Chá, sem açúcar. – digo enquanto meus olhos analisam o cômodo.

O único móvel na sala é uma mesa grande o bastante para uma reunião de família e um lustre de cristal logo acima. A luz do sol entra por uma janela ao meu lado fazendo as taças na mesa brilharem. Olho para a xícara de chá a minha frente, o vapor sobe até meu rosto e inalo o aroma forte de camomila com canela.

-Bem, já que foi você quem me chamou. – seus olhos castanhos fitam os meus e não posso negar as semelhanças entre nós. – O que quer saber primeiro?

Fico em silêncio. Várias perguntas surgem em minha cabeça e penso por qual delas devo começar e pergunto:

-Quando você foi me procurar em Misty Falls disse que eu não era uma garota normal. - Após Becca concordar eu continuo. – O que você quis dizer?

Sua expressão é pensativa por um instante, percebo que ela procura pelas palavras certas.

-Você realmente não é uma "garota normal". Mas tem uma longa história por trás disso.

-Então começa logo. – digo e dirijo toda a minha atenção a ela.

- Há um tempo, mais ou menos umas três décadas, meu irmão descobriu que ia ser pai.

-Como assim umas três décadas? Supondo que você seja minha tia e seu irmão meu pai isso é impossível. Eu só tenho dezesseis anos! – mal a história tinha começado e eu já estava confusa.

As Crônicas de Misty Falls - Quedas EnevoadasWhere stories live. Discover now