As Crônicas de Misty Falls - Quedas Enevoadas

Capítulo XXXIV

O temor quebrava o equilíbrio de minhas pernas ao mesmo tempo em que meu cérebro as forçava a aumentar a velocidade. Uma atmosfera densa e pesada se estendia acima de mim, nuvens negras roubavam a luz do sol mergulhando o prédio do internato em escuridão. A medida que eu avançava o zunido dos protestos de Liam que agora era acompanhado pelos outros logo após eu tomar minha decisão assim que avancei sem ao menos parar para explicar a situação a eles quando alcancei a clareia de onde deveríamos ter partido, ficavam mais longínquos a cada passo, meu coração golpeava minhas costelas, as batidas entrando em frenesi. O medo e a angústia que me assolavam naquele momento eram quase palpáveis. Kaya Aregon estava em Misty Falls High.

Assim que alcanço o perímetro de Misty Falls perco o fôlego, minhas pernas cambaleiam e sem forças caio de joelhos sobre o gramado da frente do prédio. A visão que tenho de onde estou me é familiar, eu já vira tudo aquilo acontecer, eram as mesmas cenas que vislumbrei no Oráculo da Luz.

O alarido formado por lamentações e choramingo era latente em meus ouvidos, um tumulto se estendia ao redor do campus enquanto alunos portando trajes medievais que instantes atrás disfrutavam da Feira de Primavera, agora lutavam para desviar dos golpes que Kaya investia a partir do telhado contra eles. Um raio corta o céu e atinge uma das colunas do lado leste do prédio, o som de concreto quebrando ecoa pelo ar e os pedaços alvejam os alunos mais próximos. Meu rosto e meus sentimentos eram tomados pelo terror, sabia que deveria levantar e parar com tudo aquilo antes que fosse tarde demais, porém, o choque não me permitia reagir a nada.

Meu olhar e pensamentos estavam tão absortos aquele cenário que não notei quando Liam e os outros já haviam me alcançado e pelo silêncio que jazia entre eles poderia dizer que estão tão assustados quanto eu estou. Observo uma silhueta surgir na entrada e começar uma caminhada em passos largos na nossa direção. Com um vestido vermelho com dourado um pouco parecido com o modelo que Becca usava na Feira de Primavera de décadas antes, os traços de Emma ganham contorno e forma em meio ao caos.

-Becca. – Ela começa a falar assim que nos alcança. – Ela...

-Eu sei. – Becca a corta secamente, já de pé noto o brilho em seus olhos se dissipar os tornando vazios e inexpressivos.

-Não pode ser. – o som agudo da voz de Morgan se eleva. – Isso é impossível.

-Ela precisa da Maya para fazer isso, certo? – Leila complementa o raciocínio de Morgan.

Logo após uma troca de olhares se segue em nosso meio, cada um tentando compreender a situação.

-Foi tolice acharmos que Elena desconhecia outra forma de conseguir o que queria. – O tom de Lizzie entonando decepção e desalento.

-Mas como? – Liam que se matinha calado até o momento dirige a pergunta a Emma.

No entanto ela permanece em silêncio, seu olhar demostra medo e piedade o que me faz pensar que sabe a resposta, só que algo a faz temer querer contar.

-Como Emma? – Reitero olhando fundo em seus olhos e noto sua expressão vacilar.

-Uma ponte com o passado de Maya. – Diz alternando o olhar entre cada um.

-Então, Maya não é a única? – Leila instiga com curiosidade, a mesma que sinto diante da revelação.

-Não exatamente. Qualquer Aregon pode abrigar a essência de Kaya, porém não por muito tempo como Maya pode. – Emma silencia por alguns segundos antes de continuar. – Elena encontrou a reencarnação de Lola Aregon e, fundiu as duas.

Expressões de terror e susto se molda nos rostos de cada um, porém, a troca de olhares me vem como um sinal de que compartilham algo a mais que Emma deixou de fora. Diminuo a distância entre nós e me coloco de frente para Emma, bloqueando a sua visão dos outros.