Capítulo XII

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O meu pulso acelera mais que o normal, sinto como se o meu coração lutasse para sair do corpo. O suor frio escorre pelo o meu rosto e encharcam as palmas de minhas mãos, luto para encontrar o fôlego.

Meu assombro aumenta quando paro para analisar o entorno,tudo está exatamente igual, sem sinal algum do que aconteceu. Um grito fica preso em minha garganta quando a garota que estava debruçada sobre a mesa ergue a cabeça, não é nem um pouco parecida com a garota que me atacou segundos antes. Vacilo para trás, com as pernas trêmulas tento me firmar no chão, meus olhos ardendo com as lágrimas que embaçam minha visão.

Levo as mãos ao rosto e as sinto geladas sobre ele. Tudo não passou de uma alucinação? Corro para fora da biblioteca, só paro quando ultrapasso a porta que leva para fora do prédio.

A chuva já havia cessado,me sento nos degraus abraçando as pernas, meu corpo ainda está tremendo e as lágrimas molham a minha face. O que estava acontecendo comigo? Serà que eu estou ficando louca?

Ouço a porta atrás de mim ser aberta,enxugo as lágrimas esperando que seja Valerie. Mas, como sempre, estou enganada.

-Você não tem aula agora? - minha voz soa mais dura do que pretendia mais Liam parece não notar.

Ele se senta ao meu lado, cruzando os braços sobre os joelhos diz:

-Sim. Educação Física. Mas não acho que o campo esteja em boas condições depois de uma chuva como essa. - seu olhar está fixo nas árvores ao longe. De onde estou consigo ver a cerejeira na qual Leila me mostrou o alçapão que me salvou de uma encrenca das boas.

As nuvens começam a se dissipar abrindo passagem para os primeiros raios de sol. Liam estreita os olhos quando um deles toca o seu rosto e acabo por fazer o mesmo ao sentir um deles sobre mim.

Ele olha para mim, o brilho de seu olhar é intensificado pelo brilho do sol fazendo com que pareçam duas safíras de uma beleza incrível me deixando fascinada.

-E você? Esse não é o seu horário de estudo? - sua expressão é suave assim como o tom de sua voz.

-Na verdade sim. Eu estava na biblioteca até... - me detenho a continuar mas ele faz isso por mim.

-Até sair correndo e vir parar aqui. - como se notasse a expressão de espanto estampada em meu rosto ele continua. - Eu estava indo à biblioteca quando você saiu. Parecia assustada com alguma coisa, estou certo?

Apenas balanço a cabeça demonstrando que seu palpite está certo, eu realmente estou assustada. Liam volta a mirar o horizonte por alguns segundos, reparo que respira fundo antes de se dirigir a mim novamente.

-Eu sou um ótimo ouvinte sabia? - um sorriso se forma em meus lábios ao concluir que esse foi um argumento para tentar fazer com que eu me abra com ele, embora não muito convincente.

-O que foi isso? - ele abre um sorriso ao ver minha expressão. - É muito bonito, devia mostrar-lo mais vezes.

-Não está dando em cima de mim ou está? - ele se levanta e começo a pensar que está fugindo do assunto até dizer:

-Achei que não precisasse. - fico surpresa ao vê-lo estender a mão para mim, aceito e me ponho de pé ao seu lado.

-Achei que fosse embora.

-Está recusando minha companhia?

Aceno negativamente. Tenho que admitir que a sensação de calma e segurança que sua presença me passa me faz bem. Isso é tudo o que preciso agora.

-Será que você me daria a honra de sua companhia em um passeio pelo lago? - com um braço para trás e o outro estendido para mim,Liam me lança um sorriso simpático e sedutor ao mesmo tempo. A forma como tenta se passar por cavalheiro me faz rir e seu sorriso se alargar.

-Com prazer. - digo entrelaçando o meu braço junto ao dele.

Descemos a pequena escadaria ao mesmo ritmo e permito que ele me leve para dentro da floresta, simplesmente me rendo a sensação de tranquilidade e segurança que envolve meu coração devido a proximidade. Sinto mais uma vez aquele sentimento de saudade sendo preenchida.

Me esqueço completamente do mundo lá fora e me prendo ao agora, desejando que o tempo seja gentil e prolongue esse momento, que ele possa ficar marcando em minhas lembranças como uma tatuagem cerebral que nem mesmo os anos nem a morte possam apagar. Apoio minha cabeça em seu ombro, absorvendo o seu perfume e sinto o toque macio de sua mão na minha e, mesmo que eu não possa ver sinto um sorriso se formar em seus lábios.

Entrelaço minha mão junto a dele e por um breve momento sinto que isso não está certo. Esqueço esse pensamento quando sinto o toque firme de Liam como um lembrete de que ainda está aqui, e tudo o que desejo agora é desfrutar desse momento.

Sem culpa, sem medo.

***

Depois de uma rápida passada no meu armário para buscar meus livros volto para a biblioteca na esperança de que Valerie esteja esperando por mim relembrando o passeio com Liam durante todo o percurso.

Passamos a maior parte do tempo conversando, numa relação em que eu era quem falava e ele quem escutava. Pelo o que pude entender Liam não gosta muito de falar da própria vida, deve ser por isso que se considera um bom ouvinte.

Chego a biblioteca mas não encontro Valerie e como só faltam dez minutos para começar a aula de literatura decido que o melhor a fazer é tentar encontrar minha sala de aula, de qualquer forma ela estará lá. Saio da biblioteca e pego as escadas que levam ao terceiro andar do prédio onde ficam todas as salas de aula. Em poucos minutos já faço parte do turbilhão de alunos que ocupam o corredor principal, troco a mochila de ombros e vasculho o local em busca de um rosto conhecido ou uma alma caridosa que possa me ajudar.

Pelo modo como todos parecem estar absortos no que fazem convence a mim mesma que o melhor é tentar se virar. Caminho pelo corredor olhando cada porta mas, ao invés de uma placa com o nome das aulas só há números o que torna tudo mais difícil. Abro a mochila em busca do meu horário para checar se não há o número da sala, quando finalmente encontro o sinal toca.

Na sexta linha da coluna de terça-feira está escrito "Literatura-sala 12", a porta ao meu lado é a de numero 24. Como não posso perder tempo me viro para procurar por minha sala esperando que o professor seja compreensivo com o fato de que estou atrasada.

Sou impedida de continuar quando sinto um toque firme em meu braço, tão firme que não consigo me desvencilhar e fico parada encarando o dono de tamanha força, ou melhor, a dona. Ao perceber que possui minha total atenção ela me solta e cruza os braços, sua expressão não parece nada amigável, sua boca forma uma linha dura e seus olhos estão ardendo de raiva. Permaneço em silêncio esperando que ela se pronuncie.

-Não me leve a mal, só direi uma vez e para o seu bem ok? - continuo em silêncio e vejo seus olhos se estreitarem com o aumento de sua ira pelo modo que ajo. - Fique longe dele! - Morgan faz questão de enfatizar a palavra longe.

Escolho bem as minhas palavras ao retrucar:

-Isso é uma ameaça? - sorrio sem mostrar os dentes e arqueio a sobrancelha provocando- a a responder. Dou um passo a frente e continuo. - Sou um empecilho para você, é isso?

Noto quando sua expressão muda mas, mesmo que tente esconder enrolando uma mecha de seu cabelo vi o quanto ficou surpresa. Um tempo depois ela diz:

-Está avisada, não me teste garota! - um sorriso convencido emplasta seu rosto, quando passa por mim faz questão de bater seu ombro contra o meu com força.

Mas um sinal de que Morgan não pretende entregar os pontos.


!Hola! Mais um caps! = D Espero que estejam gostando da história. Esse de hoje foi um pouco mais romântico hehehe. Mas o que vocês estão achando desse envolvimento da Maya e do Liam? Deixem nos comentários e não esqueçam de votar. Bjus e até o próximo. <3

P.S: Liam Vilar na mídia.




As Crônicas de Misty Falls - Quedas EnevoadasWhere stories live. Discover now