Capítulo XXIV

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3,2,1...

Eu iria mesmo pular? Algo dentro de mim me alertava a recuar enquanto meu corpo, a parte mais forte, me instigava a cair dentro daquele poço. Uma voz dentro de mim gritava para que eu voltasse atrás, mas meu corpo não obedecia mais aos meus comandos. Eu estou fora de mim.

"Pule!"

Mas uma vez aquela voz familiar falava comigo. O que eu deveria fazer? Eu estava a beira poço, um passo em falso e estarei no fundo dele, sem chance de escapar. Meus sentidos eram levados pela música e o brilho da luz que sai de dentro dele inundava meus olhos. Eu tinha uma escolha a fazer.

É então que a voz dentro de mim luta para assumir o controle, enquanto aquela voz inunda meus ouvidos gritando cada vez mais alto.

"Pule agora! Pule, pule!"

Minha cabeça doía ao ouvir aquela voz que agora tem nome e rosto. Eu sei de quem é essa voz, só não sei o que ela quer de mim. Kaya, ela tem falado comigo esse tempo todo desde que cheguei aqui. Ela está tentando me ajudar ou apenas me confundir mais ainda?

-Não! – o meu grito percorre toda a floresta reverberando entre as árvores.

A música se silencia e o cheiro de terra molhada chega até mim. Desço do poço puxando goladas de ar na esperança de que o oxigênio que chega aos meus pulmões me traga de volta a realidade.

Uma rajada de vento frio faz as folhas se agitarem e meus cabelos cobrirem meu rosto parcialmente. Coloco meu cabelo atrás da orelha e quando abaixo o olhar, noto que um pedaço de papel se prendeu em minha perna.

Pego o papel rosa o erguendo na altura de meus olhos, desenhos de diversas flores enfeitam as bordas e em letras garrafais está escrito: "Convite para a Feira Anual de Primavera!".

Como que por intuição olho para o poço e em flashes as imagens da discussão de Heitor e Kaya surgem em minha mente. Olho para trás e reconheço a estrada de terra que os mesmos percorreram até chegar aqui trazendo todos os momentos à tona. Um raio de sol passa entre os galhos das árvores e um lampejo de luz toca meus olhos me fazendo fecha-los de imediato. Perscruto o solo procurando pelo objeto que refletiu a luz do sol, é quando encontro o relógio de bolso soterrado sobre a terra molhada.

-Tudo voltará ao seu lugar. – é claro, como não havia me tocado disso antes?

Pego o relógio e com a mão retiro a lama do mesmo tateando as iniciais agora com um nome completo, Heitor Vilar. Sinto como se tivesse acabado de emergir de um lago escuro e profundo que está se tornando claro e cristalino, porém ao longe algumas manchas negras ainda persistem. Nem tudo ainda foi revelado, mas com o que sei minha perspectiva dessa história mudou. Questiono-me se a paixão entre Kaya e Heitor foi um erro. Será que é ele o vilão ou há algo mais por trás disso?

Sinto-me em queda livre novamente enquanto a névoa encobre minha visão. Há algo que ainda não consigo ver e se Lizzie estiver certa, a resposta está mais perto do que imagino.

Um barulho estranho vindo por trás de mim atrai minha atenção, coloco o panfleto junto com o relógio no bolso de meu blazer e me viro. O som de passos leves esmagando as folhas secas me alerta novamente, mas não detecto nenhum movimento. Olho para o firmamento, o sol está encoberto por nuvens carregadas dando sinal de uma tempestade se aproximando. Junto com elas uma névoa densa se expande e a floresta parece se fechar a minha frente transformando o lugar em um ambiente aterrorizante e gelado.

-Leila! Sra. Miller! – grito torcendo para que sejam elas.

O pio de uma coruja é minha única resposta. As árvores se agitam devido a forte ventania e o céu já está totalmente nublado. O pio se torna mais alto e me abaixo rapidamente quando uma coruja branca passa próximo da minha cabeça e pousa em um galho de uma das árvores perto do poço. Seus grandes olhos me fitam como se quisesse ler minha alma ou apenas arrancar meu coração e dar de alimento a seus filhotes. É assustador!

O poço volta a brilhar novamente e me debruço sobre ele fascinada, só que dessa vez estou no comando de meus sentidos. A água lá no fundo se agita como se um maremoto se iniciasse, alguns minutos depois e o nível da água aumenta, e continua a subir cada vez mais.

Afasto-me e observo o poço transbordar e a água molhar a sola do meu tênis chegando à altura do meu calcanhar. Olho para baixo e noto o líquido se transformar em uma mistura viscosa e pegajosa, e pelo o que sei a água tem apenas três fases, não quatro. Ergo um pé por vez tentando me libertar da mistura, mas tudo o que consigo é ficar mais presa ainda. Um medo súbito se apossa de mim e lágrimas ardem em meus olhos enquanto meus pés afundam cada vez mais.

Então tudo para e solto um suspiro de alívio. Cedo demais, a água começa a retornar para dentro do poço me levando junto com ela.

-Você não pode me obrigar a ir! – um grito esganiçado escapa de meus lábios e luto para me soltar.

"É o seu destino!"

A voz de Kaya retumba em minha mente. Grito em recusa a tal afirmação enquanto minhas forças estão esvaindo a cada tentativa de me manter onde estou. Não darei o braço a torcer. O suor pinga de meu rosto misturado as lágrimas quentes que são derramadas, caio de joelhos já sem forças vendo minhas mãos serem cobertas pela água. A palidez e o cansaço em meu rosto são refletidos na água, não consigo fazer isso sozinha. Preciso de ajuda.

-Socorro! – grito o mais alto que posso e depois do que parecem ser longos segundos ouço passos se aproximarem.

-Maya! – a voz de Liam me alcança e nasce em mim uma pontada de esperança e segurança.

-Liam! – digo tentando recuperar o fôlego.

-Pega minha mão!

Com dificuldade liberto minhas mãos e me viro para pegar a sua.

"Não faça isso!"

Kaya fala comigo de novo e noto ira impregnada em seu tom de voz. Só que dessa vez não quero escuta-la, e não vou. Pego a mão de Liam sentindo seu aperto firme. Ele me puxa para si e posso sentir aos poucos meus pés se libertarem, ele aumenta a força e finalmente estou livre.

Caímos no chão, seu corpo servindo de apoio para o meu. Sinto sua respiração ofegante sobre minha boca assim como deve estar a minha. Fito seus olhos azuis a poucos centímetros do meu e me dou conta de que ainda estou em cima dele. Levanto-me rapidamente e me sento ao seu lado, a névoa se dissipa e aos poucos o azul do céu volta a aparecer.

-Você está bem? – Liam pergunta se sentando ao meu lado.

-Mais ou menos. Ainda estou atordoada com o que aconteceu.

-Já começou. – a voz de Leila chega até nós fazendo com que nossos olhares se voltem para ela.

Parada a pouco mais de um metro do poço, Leila admira a coruja branca que ainda olha para mim.

-O que já começou? – pergunto temerosa pela resposta.

Leila dirige seu olhar a Liam como se esperasse que ele desse a resposta. Ele está com o olhar distante e vago, sua expressão demostra medo e cautela.

-Ela... Queria se unir a você! – ele diz soando fraco temendo que alguém além de nós escutasse.

-Kaya Aregon quer voltar. – Leila olha para mim sem demostrar emoção alguma.


Olá meu queridos anjinhos!!! Aí está mais um capítulo para vocês!! E então quem vocês acham que é o verdadeiro(a) vilão ou vilã dessa história? Deixem seus palpites nos comentários, adoro saber a opinião de vocês!! <3 <3 <3

Espero que tenham gostado desse capítulo e adianto que o final está se aproximando(T.T), teremos capítulos decisivos vindo aí!!! Deixem seus votos e até a próxima cookies rsrs

Amo vocês!! XOXOXOXO =D

As Crônicas de Misty Falls - Quedas EnevoadasWhere stories live. Discover now