Again and Again

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O caminho poderia permanecer em silêncio mas minha mãe o quebrou pigarreando e logo disparando:

-Você deveria sair mais, filha.

- Você deveria arrumar um marido mãe.

Respondi cruelmente, sem pensar nas consequencias de um possivel choro incontrolavel. Fato, Martinez se tomou por lágrimas e eu não contive uma de minhas bufadas:

- Para de se lamentar, papai nem lembra de nós, não coloque a culpa em mim, viva mamãe.

Olhei para ela franzindo o cenho, e me surpreendendo com uma freada brusca:

-Desça, Jullie. Chegamos.

Me olhou enxugando suas lagrimas com as costas de sua mão, respirou fundo esperando meu ato. Desci cabisbaixa e ela se mandou. Eu não perdia a oportunidade de calar a droga da minha boca, talvez de fato a culpa fosse minha...mas pouco me importa...OLHA UMA JOANINHA! Meus olhos brilharam, eu era fascinada por coisinhas pequenas e vivas, me faziam sorrir. O insetinho estava na grade do portão principal da clinica, e não exitei em parar por segundos em frente ao bicho, o admirando com ternura. Interrompida:

- Oh, pensei que iria se atrasar...

Ouvi a voz rouca, e fui obrigada a desviar meu olhar da joaninha, fazendo um bico insatisfeito, então percebi, que era a boa moça... que virava minha mente por uma ou duas horas, e achava que estava me mudando. Poderiam parar de esperar tanto de mim, eu sou um caso perdido. Bianca, a psicologa, me esperava sorridente na porta do local, caminhei pra lá fitando as pedrinhas decorativas do percurso, e logo adentrei. O lugar era um tanto medonho, só haviam paredes brancas, e algumas cadeiras de espera na recepção, o que era inutil, já que nunca as vi sendo ocupada por outros retardados. Cocei minha nuca, e entrei na sala da doutora em silêncio, sentei-me na poltrona e fitei o teto, e aquele ar quieto novamente foi quebrado:

-Como foi seu fim de semana?

Sem tirar os olhos do teto, dei de ombros com desdenho... Era uma segunda-feira, esperava que eu estivesse sorridente? Talvez, mas não hoje.

- Estou vendo que hoje não aparenta estar bem.

Continuei ouvindo-a, e de relance olhei Dra Mitchell fitando-me com total paciencia. Não gosto dela, não mesmo...

-Porque não pulamos para a parte que você fala que meu quadro não está melhorando, e eu devo me esforçar e blá blá blá?

Interroguei a mulher de pele clara, cabelos escuros, olhos azulados e um sorriso encantador, digo... a mulher lá. Ela suspirou profundamente, e sentada ao meu lado cruzou as pernas alisando sua caderneta, pensou um pouco e se manifestou sorrindo:

- Você é impossivel, mas... hoje estou lhe proporcionando uma consulta sem tabus, pode ficar a vontade pra falar e fazer o que quiser.

Se levantou, arrumando seu jaleco, e abriu seu armário, de lá, pegou um livro, com ilustrações de animais selvagens em preto e branco, me entregou e disse:

- Observe, reflita... se expresse como quiser.

Peguei o livro, levantando uma de minhas sobrancelhas, me perguntando se minha loucura passara pra doutora, desviei o olhar confuso ao livro, e comecei a folear... Ela se retirou da sala, e fiquei ali sem saber o que fazer... eram lindos, seus detalhes, o contraste de seus olhos... acariciei a juba do leão, e sorri, estava entrando em sincronia com aquelas imagens, me sentia bem. Subi meu corpo mais pra cima da poltrona, e fiquei com as pernas cruzadas, sorrindo feito boba, foliei mais ainda, e de lá uma foto caiu. Me levantei apreensiva por meu descuidado, e olhei a foto no chão, tocando-a. Gritei. E nessa hora, a furia tomou conta de mim, tudo era ameaça ali, e tratei de destruir, porta-retratos, cadeiras, janelas....o livro, e a foto...a droga da foto. Me lembro de algumas pessoas entrando, e logo fiquei inconsciente.

- Chamem as enfermeiras. Chamem-as.

Ouvi quando abri meus olhos, e com estes embaçados via silhuetas de uma garota. O que havia acontecido? Olhei para meu outro lado, sentindo caricias no meu braço, me acalmando:

- Calma meu amor, estou aqui...

Suspirei mais aliviada, era mamãe...as possibilidades de ser um sequestro não eram mais viaveis. Não me recordara de nada e logo uma falta de ar, tomou conta de mim, o lugar era quente, pequeno e fechado... escasso de janelas, isso era o fim, eu tinha pavor a isso. E logo me apagaram novamente, com uma injeção em minha veia, ligada a soros.

- Tirem ela daqui...

- Não, será melhor para ela...Confie em mim.

Ouvia esse dialogo confuso, antes de meu subconsciente desligar.

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