Dezessete

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Chegamos ao tal lugar, e percebi que era o zoológico. Coringa estacionou e me olhou sorrindo.

— Já trouxe ela aqui?

— A gente não saia muito. — eu disse sorrindo de lado e ele deu de ombros.

— Ótimo então, porque eu também nunca vim.

— Você nunca veio no zoológico?

— Nunca. — ele riu.

Saímos do carro e fomos andando até a entrada, tinha poucas pessoas ali, provavelmente por causa do horário. Tinha bastante turista.

— Olha filha. — peguei Maria Julia mostrando algumas aves que tinha por ali.

Ela tinha um sorriso gigante no rosto, como se não acreditasse naquilo. Eu amava ver aquele sorriso nela, me trazia tanta paz. Coringa pegou ela no colo para ficar mais perto de onde os animais estavam.

Ela amou ver cada animal, mas chorou em algumas partes do passeio com medo ou querendo levar o bicho para casa. Quando saímos dali fomos até um restaurante que tinha próximo, coloquei Maju no banco mais alto e eu sentei ao lado de Coringa.

— Tu gostou do passeio? — ele perguntou para Maria que sorriu.

— Siiim! — ergueu os braços comemorando.

Ele parecia animado igual, mas não comentou nada apenas sorria das coisas que Maria falava para ele.

— A gente pode falar um pouco? — perguntou baixo se sentando ao meu lado.

Depois do almoço fomos caminhar por uma área descampada que tinha ali próximo, Maju brincava na nossa frente correndo atrás de uma bola ao lado de uma menininha que havia acabado de conhecer.

— Podemos.

— Queria falar sobre aquilo que eu te disse...

— Maria Julia?

— Sim...— me arrumei ao seu lado esperando ele começar.

— Tudo bem, o que quer dizer?

— Eu pensei pra caralho antes de decidir falar sobre isso com você, porque eu sei que esse bagulho não é simples.

— Está me deixando assustada.

— Não fique... Meu grande sonho sempre foi ser pai, eu sempre amei muito esse mundo de pai, principalmente por ter cuidado da minha irmã desde novinho tá ligada?

Ele estava virado para mim, e bem próximo e eu prestava atenção no que ele falava sem deixar de vigiar minha filha bem à frente.

— Quando eu conheci a Maju e você eu confesso que senti um bagulho muito forte com vocês, eu não sei explicar o que era. Mas isso ia aumentando a cada vez que eu à via era sempre que ela me olhava sorrindo que eu me derretia inteiro sabe. Eu comecei a pilhar muito com isso, não fazia ideia do porque aqui estava acontecendo, mas não conseguia tirar ela dos meus pensamentos.

— Como assim?

— Quando ela me chamou de pai pela primeira vez eu fiquei chocado, e ao mesmo tempo feliz, não vou mentir.

— Teve mais de uma?

— Teve... e eu queria dizer que aquilo era errado, mas eu não conseguia.

— Coringa... — eu estava surpresa, e um pouco insatisfeita.

— Alice é isso que eu quero...

— O quê?

— Eu quero isso, que ela me chame de pai.

— Não..

— Eu quero ser pai dela, quero cuidar dela e dar carinho como minha filha. Eu sinto essa necessidade, eu quero muito.

— Coringa isso não é assim... ela é minha filha, nunca teve um pai, e agora do nada você quer ser o pai dela? Isso já é confuso para mim, imagina para ela.

— Alice, eu quero construir isso com ela, e quero sua ajuda. Eu a amo, eu tenho certeza que amo. Não dá para dizer que isso não rola.

— Eu sei que ela gosta de você, mas não da para ignorar o fato de que isso é muito prematuro.

— Foda-se as regras. Eu to ligado nessa merda toda, mas eu quero enfrentar Alice, eu quero ser o pai dela. Eu quero! Não foi um pedido seu e nem dela.

— E como isso seria? Do nada? Você chegar e dizer que é o pai dela?

— Não poh! Eu sei que ela não ia entender muita coisa assim, mas a gente podia deixar rolar para ver no que dava. A gente só deixava o bagulho rolar, eu nunca disse a ela que era seu pai e mesmo assim ela me chamou de pai. Eu não vou forçar nada, mas se ela quiser ela vai dizer.

— E você quer mesmo deixar isso nas mãos de uma criança de três anos?

— Eu sou todo errado Alice, sou um merda que não tem caralho nenhum para oferecer a vocês. Nem os estudos completos eu tenho. E o que eu to pedindo é coisa para um caramba. Eu sou todo ferrado, traficante, pobre lascado nessa vida. E mesmo assim eu quero ser parte da família de alguém tão especial que são vocês. Eu não vou forçar nada, quem decide é você, você que sabe o melhor para ela, mas se eu tiver uma chance eu quero tentar, eu quero ser o pai dela, e quero que ela seja minha filha. Não estou impondo isso a você, apenas quero ter a chance de ser pai dela. Mas se não for a favor disso, tudo bem. Só vai ser difícil. — ele se levantou me deixando ali sentada.

Caminhou até um cara que vendia pipoca e comprou uma levando até Maria que estava ali perto.

Meu peito parecia uma escola de samba, meus olhos marejados e minha respiração desregulada. Tranquei meus olhos respirando fundo e contando mentalmente.

Ele queria... ele queria ser pai dela. Eu não sabia bem o que isso significava. Ou como isso ia funcionar, mas era o bastante para me fazer pirar, como assim quer ser pai dela? Minha menina.

Passei a mão pelos cabelos olhando os dois de longe. Eu não podia negar o que tinha entre eles, era uma química forte. Mas até dizer que sim seria uma luta muito grande, afinal... nem eu estava preparada para isso.

Seria o certo a fazer?

Tenho que pensar sempre em primeiro lugar a minha filha, porque é ela o centro de tudo isso. Então eu tinha que colocar tudo em ordem antes de dar a sua resposta, esperava que fosse mais simples depois com as ideias mais claras.

Pipoco mamãe. — ela veio em minha direção enfiando a pipoca na minha boca.

— Que delicia! — sorri para ela, sentindo o olhar de Coringa sobre nós.

O passeio não foi tão relaxante depois da proposta dele, mas Maria Julia estava muito feliz. Dormiu com um sorriso no rosto durante a viagem de volta. Assim que ele parou em frente a minha casa ficamos alguns segundos em silencio esperando o primeiro corajoso a falar.

— Não tenho pressa da resposta, mas saiba que eu não pretendo desistir tão fácil. Só quero o bem dela, mas toma a decisão que achar melhor.

— É bem complicado Coringa, eu te conheço a tão pouco tempo. Como isso pode ter acontecido tão rápido? Eu mal te conheço.

— Não seja por isso, eu te digo tudo que quiser ouvir. Você só precisa dizer que sim, e tudo que quiser saber de mim será dito. — ele falou baixo me olhando nos olhos e eu abaixei a cabeça. — não tenha medo do que pode rolar, só deixa rolar. — falou e eu assenti.

— A gente se fala uma outra hora. — eu disse e ele assentiu.

— Só não some.

— Não vou.

Sai do carro pouco depois, agradecendo pelo passeio e dizendo o quanto aquilo tinha sido bom para minha filha. Maria Julia continuou dormindo e eu sei que continuaria por mais algum tempo. Aproveitei para ir tomar um banho e trocar de roupa.

Não conseguia tirar tudo aquilo da cabeça, e aquilo me deixava muito nervosa, não fazia ideia de como fugir daquela situação. Mas fazia parte do meu papel de mãe decidir o que é melhor para minha filha.

Sentei me ao lado da minha filha na cama, antes de ouvir o barulho dos passos rápidos pelo corredor.

Meu Recomeçar (Revisão)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora