Capítulo 21 - Remember

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Congelei quando ouvi a voz de Karen.

- Acabei de checa-la e ela está cada vez pior. Por isso chamei para vê-la.

Engoli seco e corri até a UTI, ignorando os gritos de contestação atrás de mim.

E, de novo, estava eu correndo para a UTI.

Quando cheguei, não demorei muito para localizar o leito em que Chloe estava internada. Quando entrei, dei de cara com uma menininha mais magra que o normal e sem cabelos. Ela usava uma máscara para respirar. O soro pingando e o barulho das máquinas era tudo que podia se ouvir, tirando o barulho assustador da sua respiração. A garota estava com os olhos semi abertos e tentava sorrir para mim. Sentei ao seu lado e segurei com cuidado sua mão.

- Você é bem azarada. - ela fungou. - A vida está te testando, Kells. Mostra para ela o quão forte e maneira você é. E que, se ela mexer com você de novo, ela vai ver.

Eu ri, deixando lágrimas cairem do meu rosto. Coloquei a máscara de oxigênio de volta em seu rosto, já que ela havia a retirado para falar.

- Eu te amo. - ela tentou falar, sem retirar o aparelho que a ajudava a respirar.

- Shhh... - consolei. - Também te amo.

Chloe fechou os olhos e dormiu. Sabia que os remédios a deixavam exausta.

Eu passei dias no hospital. Lucy havia trago uma mala, depois de desistir de tentar me levar pra casa. Eu sequer saía daquele quarto, já que ele havia um banheiro. Eu havia me desconcentrado em relação a faculdade, e percebi que fazia tempos em que eu não comparecia a uma aula prática. Isso podia fazer com que eu tomasse bomba, mas o que eu menos precisava naquele momento era de aula sobre lutos, perdas e doenças mentais. Eu já estava tendo minha própria experiência com aquilo tudo, menos com a última opção - porém, do jeito que eu era sortuda, era perigoso aparecer um médico aqui agora e me diagnosticar com alguma.

Sobressaltei quando um barulho ficou constante. Olhei para a máquina de batimentos cardíacos e percebi que eles haviam cessado. Não demorou nem 5 segundos para que médicos entrassem correndo com um desfibrilador. Uma enfermeira tentou me tirar dali, mas travei meus pés no chão, fazendo que os médicos gritassem mais. Não me deixei abalar e continuei ali. Eles davam choques na pequena, que não reagia. E, depois de minutos tentando, eles pararam, declarando o horário do óbito.

Cai de joelhos no chão e, sem entender, virei para o lado, quando senti braços me apertando. Queria que fosse ele, porém era apenas Sophie. Deitei em seu colo e continuei chorando, enquanto o médico a cobria com um plástico.

Meu mundo havia desmoronado em apenas alguns meses. Sem atrapalhar nosso momento, Noah, surpreendentemente, apareceu com um buquê de rosas na mão. Provavelmente, iria entrega-las para Chloe, por eu já os tê-los apresentado. Ouvi as flores caírem no chão e ele vir até mim.

- Eu... Eu tentei chegar... Mas... - gaguejou.

- Está tudo bem. - sussurrei, o abraçando.

- Não se preocupe com a faculdade, ok? Já falei com meu pai e ele não está te dando falta, entretanto pediu para que acompanhe nossa paciente de longe. - me entregou uma pasta com os exames e observações.

- Obrigada. Eu... - suspirei. - Só quero ir pra casa.

E foi isso que fiz, levando Chelsea e Charlie comigo. Com a cabeça na janela do meu quarto, eu lembrava de tudo.

- Quando eu crescer eu vou ter um príncipe, ele vai me levar em bailes e dormir abraçadinho comigo. - Chloe disse, soltando um suspiro apaixonado.

Sorri. Suspirei. Chorei. Não sabia mais como me sentir.

Dois meses depois, eu estava quase bem. Já ia a faculdade e tirava notas máximas. Tentava estudar o máximo que conseguia, para não precisar lidar com o luto. Quando não estava com os livros na mão, eu tentava fazer pegadinhas para me distrair. Só nessa semana, já havia plantado um rato morto ( eu já havia o encontrado assim ) no quarto de Pedro, mas quem o encontrou foi Lucy, o que deixou a cena ainda mais hilária; colocado um sapos no meio da casa deixando todos malucos a noite; e, agora, passei manteiga em spray no chão do corredor. Esperando minha próxima vítima. Que, infelizmente, tinha sido Alex. Mas não pude deixar de rir.

- Me desculpe! - gargalhei. - Eu não achei que seria você minha próxima vítima.

Ele respirou fundo e levantou, andando para o quarto. Fui atrás dele.

- Ei, me desculpe. - falei séria. - Não foi minha intenção.

- Está falando sério? - riu sem humor. - Nos últimos dias tudo tem sido de propósito!

"Ninguém fala nada por você estar lidando com o luto desse jeito! Porém, ninguém aguenta mais, nem mesmo as crianças. Tudo parou de ser divertido quando você começou a fazer isso frequentemente, e sem sequer pensar nas consequências que causariam para as pessoas!"

Ao ver que tinha explodido, Alex se calou e fechou a porta, me deixando do lado de fora.

Ele estava certo e eu sabia, então voltei para meu quarto e tentei estudar um pouco.

No final da noite, a fera não estava em casa, entretanto, mesmo assim fui até a sala e me desculpei com todos. Aquela não era eu. Não mais. Depois do meu pequeno discurso, nos abraçamos e Alex chegou, já passando das 22:00.

Quando todos já estavam dormindo, fui até seu quarto novamente. Bati na porta e entrei antes de sua permissão, o pegando chorando.

- O que aconteceu? - senti um aperto no coração.

- Não sei o que é real ou não. - soluçou.

- Você andou fumando? - ironizei, me arrependendo quando vi que não consegui lhe arrancar um sorriso.

- Não... Eu me lembrei de algumas coisas, mas não sei se elas realmente aconteceram.

Meu coração, que por meses estava envolto a uma barreira de gelo, esquentou, derretendo um pedaço da minha dor. A esperança foi trincando alguns lugares que eu achava serem inquebráveis.

Tomando coragem, fui até sua cama e me deitei do lado oposto, batendo levemente na mesma, pedindo para ele deitar também. Ambos olhávamos pro teto, Alex estava desconfortável.

- O que você quer saber? - perguntei.

Ele me olhou sorrindo, animado com a chance de eu esclarecer suas dúvidas. Afinal, muitas seriam sobre nós.

Poison GirlWhere stories live. Discover now