Capítulo 20 - UTI

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Abri a porta de casa e quase tive um ataque cardíaco quando dezenas de pessoas apareceram do nada, gritando o famoso "surpresa".

- Caralho Pedro, se o Alex estivesse comigo, eu teria que voltar com ele para o hospital. - xinguei.

- Como assim se ele estivesse? - arregalou os olhos e olhou para Lucy, que também estava estática.

- Você não leu minhas mensagens? - suspirei, sem vontade de relembrar tudo o que estava acontecendo.

- Não. Achei que não era grave, então eu não li. - franziu os lábios. - Era coisa ruim? Importante?

- Não. Bobagem. - senti meus olhos enchendo de água. - Só o cara que eu amo perdeu a memória e voltou com a ex dele, porque não se lembra de mim. Mas, o irônico é que ele lembra dela, e de todos. Ah, e ele também admitiu para a Abby que não sabia porquê estava comigo antes, se recusando a vir para casa.

Todos os convidados me olhavam sem mexer um músculo. Alguns já choravam com a notícia repentina de que Alex tinha perdido a memória. Outros saiam de fininho.

- Mas nada importante. - solucei, tampando meu rosto, e soltando um leve grito, que não amenizou nem 1/4 da dor no meu coração.

Senti um impacto contra mim, e, a seguir, Lucy chorando em meu ombro. Ambas caímos no chão, sem forças para levantar.

- Eu... Eu não sei o que fazer, Luh. - choraminguei. - É como se tudo estivesse...

Então flashbacks passaram na minha cabeça.

Alex no hospital por causa de Tobby; eu indo embora, achando que era o melhor a se fazer.

Lucy deitada no meu colo, enquanto ambas lamentávamos o estupro sofrido por ela. Mas dessa vez eu deitava em seu colo, por um motivo menor, porém tão machucada quanto.

- ... se repetindo. - sussurrei.

O choque veio logo depois das palavras. Será que estavam me dando uma segunda chance?

- Eu... Vou pro meu quarto. Quando quiser dormir, Lucy, pode escolher uma das camas.

- Na verdade... - engoliu seco. - Eu e o Pedro... Nós...

- "Nós"? - repeti.

- Ela vai dormir no meu quarto, comigo. - Pedro afirmou.

Por um momento, tentei me sentir feliz e parabenizei os dois. Mas um sentimento de traição começou a instalar no meu peito, e comecei a me afastar. Todos tinham alguém para passar por esse momento difícil... E eu não tinha ninguém. Comecei a pensar nas pessoas que me diziam que eu iria acabar sozinha, não importava o quão boa estava minha vida. E eu finalmente entendi.

Me senti egoísta por pensar isso da minha melhor amiga e isolei todos esses pensamentos, correndo para meu quarto e me trancando.

Por que que você sempre foge?

A chuva batendo na janela fazia o momento três vezes mais deprimente. E a cama era a única coisa acolhedora naquele lugar. Que eu só via lembranças. As minhas meninas correndo pelo quarto; eu tirando fotos delas, contando sobre o Alex.

Alex...

Como eu podia se tão estupida? Eu não poderia cometer o mesmo erro. Eu tinha que correr atrás da pessoa que sempre correu atrás de mim.

Em um segundo, eu já estava vestida devidamente. Corri para o hospital - o que já estava virando rotina - e consegui alcançar a fera enquanto ele ia até o carro, com seus pais.

Agradeci mentalmente que a vaquinha havia ido embora.

- Alex! - chamei.

O garoto virou para trás e me olhou com os olhos arregalados.

- Eu não vou fugir dessa vez. - engoli seco. - Venha pra casa.

- Eu... - estava em choque, provavelmente por causa da minha roupa. - Eu vou.

Sorri.

Tirando as malas, me amaldiçoei por não vir de carro.

- Taxi! - gritei.

Logo um taxi encostou e desceu do carro, ajudando-nos com as malas.

- Obrigado - agradeceu o garoto, entrando na parte de trás, logo depois de mim.

- Antes de irmos para a West Long, podemos passar no hospital do centro, por favor? - pedi.

- O que vamos fazer no hospital? - perguntou Alex.

- Quero te re-apresentar as pessoas maia especiais do mundo. - sorri de lado. - Chloe, Chelsea e Charlie.

- São da nossa idade?

Tentei ignorar a perversidade nessa pergunta.

- Entre seis e oito anos. - ri.

- Ah. - corou. - Não sou muito fã de crianças...

- Bom, dessas você gosta. Até ofereceu ser o pai delas, quando a assistente social foi lá em casa ver se eu era competente para ser mãe.

- Mãe?! Você?! - gozou.

- Ei! Você mal sabe como sou, Sr. Esquecido. - brinquei.

- E ela te deu a permissão? Para adota-las?

- Não... - funguei. - Por isso você sofreu o acidente.

- Como assim? - ficou confuso.

- Quando a Karen levou as meninas embora, eu fiquei arrasada. Você foi atrás dela, para mudar sua opinião. - sorri melancólica. - Você sofreu um acidente de carro.

- Nossa. Você é a primeira que me conta a verdade... - me olhou. - Minha mãe me contou alguma coisa sobre eu brigar com minha namorada e correr atrás dela e ela me empurrar. Acabou que eu cai na rua, e o resto já é óbvio. - brincou.

Gargalhei.

- Isso não aconteceu. - garanti. - Ainda.

Ele sorriu.

Não imaginei que minha conversa com Alex seria tão descontraída. Sem brigas causadas pelo passado. Isso era como um recomeço.

- Chegamos. - falei, olhando para a grande e fria construção onde as minhas meninas estavam hospedadas.

Era óbvio que Karen tinha mudado elas de hospital, afinal, no outro lugar, eu era conhecida pelas enfermeiras, que deixariam eu levar as garotas quando eu quisesse. Agora, só com a autorização da mulher. O que era uma droga, pois quando eu não conseguir falar com ela, não poderei ver as meninas.

- Kelsey Smith. - falei para a enfermeira.

- Imagino que venha ver as três meninas. - sorriu. Revirei os olhos. - Terceiro andar, quarto 101.

Sem agradecer - devido a raiva por elas terem sido transferidas - andei até o elevador. Porém é claro que Alex agradeceu. Ele pode ter perdido a memória, mas a educação é a última que morre. No caso dele, claro.

Esse pensamento me fez sorrir.

Fiz uma sequência de batidas na porta, que era nossa combinação secreta, para especificar quem batia. Automaticamente, um alvoroço foi ouvido do lado de dentro.

- Kelsey! - gritou Charlie, me abraçando. - Que saudades! Que saudades! Que saudades!

Depois Chelsea veio correndo e abraçou Alex, que levou um susto.

- Oi papai. - ela saudou, fazendo o garoto arregalar os olhos.

Eu sorri, tranquilizando-o.

Depois de um beijo carinhoso na bochecha da menina que me abraçava, percebi que faltava Chloe.

- Onde está a Chloe? - perguntei.

- Na UTI. - falou uma voz atrás de mim.

Poison GirlKde žijí příběhy. Začni objevovat