Dezoito

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Gustavo narrando.

- estamos prontos pra partir. Vamos deixar 4 de nós aqui, eles vão cuidar dela.- Rafael diz enquanto colocava minhas malas no carro. Olho para o meu celular, que havia mais de 80 chamadas perdidas, a maioria da Katryna, e solto um suspiro.

- vamos, tenho coisas pra resolver.- digo frio entrando no carro. Meu coração estava totalmente partido, então eu decidi deixar as minhas emoções de lado. Ficar longe dela, vai doer muito, mas ela vai estar segura. Viro a chave e dou partida no carro. O caminho até Londres é longo, tenho uma longa estrada pela frente.

Katryna narrando.

Cá estou eu, escovando os dentes e tomando minhas vitaminas para ir ao colégio. Três dias se passaram desde o ocorrido, e eu ando ouvindo vozes que conversam comigo e me guiam para um caminho confuso, mas me sinto bem escutando elas. Gustavo não me atende, e todas às vezes que eu fui na casa dele, ele não estava lá ou pelo menos, fingia que não estava. Já fiz de tudo para conseguir conversar com ele, mas de nada adiantou. Vou dar o tempo dele, a culpa é minha mesmo.

- filha, te dou carona até o colégio hoje. Vamos?- minha mãe diz sacudindo a chave do carro e saindo de casa. Acompanho ela e entro no carro. Assim que chegamos no colégio, deixei um beijo na bochecha de minha mãe e saí do carro. Adentrei o local, procurando pelo menino de cabelos castanhos e olhos azuis. Gustavo.

Meus olhos passearam por todos aqueles rostos, mas nenhum era o rostinho lindo de Gustavo.

- ele foi embora.- escuto uma voz rouca e me viro. Vejo Miguel, o tal vampiro que Gustavo tanto odeia.- saiu hoje, de madrugada. Voltou pra Londres.

Meu coração disparou e eu senti vontade de chorar. Passei os dedos pelos meus olhos e suspirei.

- ele não me abandonaria. Disse pra mim que sempre cuidaria de mim.- minha voz sai fraca e meus olhos se enchem de lágrimas.

- agora eu entendo a minha atração por você, pelo seu sangue. Você é especial. Um ser da linha de sangue da escuridão, orientada pela mão guia da luz. Segundo as escrituras sagradas, o fim do mundo está próximo.- Miguel toca meu ombro e eu não consigo parar de chorar. Sinto ele me puxar para mais perto, e abraço seu corpo gelado.

- eu...eu não entendo... eu não entendo o que eu sou.- digo escondendo meu rosto em seu peito.

- você é especial. Só precisa entender isso.- sua mão toca meu cabelo, e acaricia a minha cabeça.- ainda não está liberando 100%, seu lado sombrio. Eu diria que isso é só 10% do que você pode fazer, Katryna.- olho para Miguel e ele desliza seu polegar pela minha bochecha. Um nó se forma em minha garganta e eu me contenho. Me afasto dele e limpo o resto das lágrimas com o dorso da mão.

- ele foi embora porque eu sou um monstro. Eu o machuquei.- me viro para sair, mas sinto o toque gélido de Miguel em meu pulso.

- não se flagele assim, pequena criança. Você ainda vai compreender o seu lugar no mundo.- ele diz e eu me solto dele.

- ele não é mal como os outros dizem.- a voz da minha cabeça sussurra baixinho e suave.

- dê uma chance para ele.- outra voz sussurra em minha cabeça.

- cale a boca. Me deixe em paz.- falo para mim mesma e percebo Miguel me olhar confuso.- desculpe.

Saio andando rapidamente para minha sala, estou odiando não ter a presença de Gustavo comigo. Ele faz muita falta. Passei as aulas tentando prestar atenção no que os professores falavam, mas as vozes da minha cabeça estavam me atrapalhando muito.

- já parou pra pensar o porquê dele ter ido embora?- a voz da minha cabeça diz friamente para mim.

- eu quero saber é o porquê de você não ir embora.- digo raivosa.

- ele te abandonou Katryna Thompson. Ele sentiu medo de você, e por esse motivo ele foi embora.

- SAI DA MINHA CABEÇA.- grito chorando e percebo que todos da sala olhavam para mim, assustados.

- tudo bem, Katryna?- a professora de filosofia pergunta se aproximando bem devagar. Pego a minha mochila o mais rápido possível e saio da sala chorando.

No meu coração, um tornado de emoções se formava, tudo bagunçado e se amontoando, como pilhas.

- você é a garotinha do papai. Vou sempre amar você.

- juro te proteger Katryna Thompson. A melhor companheira que meu lobo poderia ter escolhido.

As lembranças se misturam, e minhas pernas corriam o mais rápido possível. Eu me decepcionei novamente, decepcionei quem me amava, e isso doía muito.

Sinto braços me agarrarem e encaro os olhos vermelhos de Miguel.

- ei, tudo bem.- Miguel me abraça e eu começo chorar mais alto. Solto soluços enquanto ele me aperta em seus braços.- vai ficar tudo bem, criança.- ele desliza as mãos pelos meus cabelos e eu sinto seus braços me pegarem no colo. Escondi meu rosto no pescoço gelado de Miguel, e chorei baixinho enquanto ele me carregava para longe do colégio.

- eu... eu... eu não quero ser abandonada novamente.- sussurro baixinho para Miguel.- meu pai mora no céu. Cabra egoísta, prometeu que não ia me deixar aqui sozinha, com a mamãe.- sinto Miguel me apertar mais para si, me transmitindo uma sensação de segurança.- não sei porque às coisas tem que ser assim, eu amava tanto meu pai, e hoje em dia eu quase não me lembro dele. Eu era muito pequena na época que tiraram ele de mim, a única coisa que não me esqueço são dos lindos olhinhos dele. O cabelo dele era engraçado, era da cor do meu.- minha voz sai trêmula e eu volto a chorar.

- estou aqui, estou aqui.- Miguel disse e eu soltei um suspiro. Caminhamos por alguns minutinhos, até que Miguel me colocou no chão. Estávamos em frente uma casa toda branca, com janelas imensas de vidro. Miguel destranca a porta e entramos.- esta é minha casa. Sente-se aí, vou preparar algo pra você comer.- ele diz colocando minhas coisas em cima da mesinha de centro.

- não precisa se preocupar comigo. Vou para casa agorinha.- digo me sentando no sofá.

- você gosta de panquecas? Eu sei fazer panquecas deliciosas.- ele acende o fogão e eu concordo com a cabeça. Longos minutos se passaram e Miguel se sentou ao meu lado, segurando um prato cheio de panquecas com cobertura de morango em uma das mãos, e na outra, um copo gigante com um líquido vermelho.

- é minha cobertura preferida.- comento enquanto ele me entrega o prato.

- eu sei disso.- ele diz enquanto vira o copo na boca. Eu pensei que era suco, até ver a textura do líquido. Aquilo era sangue.

- sabe?- pergunto confusa.

- sei. Não me pergunte como, apenas sei.- ele passa a língua no canto da boca, limpando um pouco de sangue que escorria por ali.

Olho para o prato e seguro o garfo. Começo a devorar as panquecas que estavam deliciosas por sinal. Miguel podia me preparar café da manhã mais vezes, eu ia adorar.

Olho para o visor do celular que indicava que já era hora de ir, me levanto do sofá e deixo o prato sobre a pia. Pego minhas coisas e começo a caminhar em direção a porta.

- muito obrigada pelo lanche, eu adorei.- digo e sorrio gentil para ele, mas meu coração estava totalmente quebrado.

- para onde vai?

- para casa né, Miguel.

- eu levo você, Katryna.

- eu tenho pernas, sei andar sozinha, mas obrigada.- sorrio novamente e sinto tudo girar. Era só o que me faltava.

Meu namorado é um Lobo [EM REVISÃO]Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt