Dezesseis

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Eu e Gustavo estávamos voltando do açaí, quando eu senti fortes dores de cabeça. Coloquei a mão na testa e parei de andar, tentando fazer a dor amenizar, mas ela só aumentou.

- o que houve?- Gustavo se aproxima de mim e era como se algo estivesse martelando meu cérebro.

- dói... Gustavo... Dói... Muito.- as marteladas aumentaram e eu senti minhas pernas ficarem bambas. Gustavo me segurou, e sua expressão era totalmente preocupada. Gustavo segurou em minha mão e as veias dos seus braços e do seu pescoço ficaram pretas. Ele soltou um rosnado e a dor só aumentava, nada fazia ela diminuir.

- não...- Gustavo solta um suspiro ofegante.- não consigo...fazer a dor passar.- ele me pega no colo e começa correr em velocidade sobrenatural. Ele não corria igual um vampiro. Vampiros eram como borrões, não se dava pra ver. Ele adentrou a floresta comigo no braço, correndo o mais rápido que podia.

A dor se alastrou por todo meu corpo, e eu não aguentei. Comecei gritar, sentia todo meu corpo doer, como se os ossos estivessem sendo quebrados. Meu grito que antes era baixo, se tornou muito alto. Olhei paras os ouvidos de Gustavo que sangravam e outro grito escapou da minha boca. Gustavo perdeu os sentidos e caiu no chão, e agora eu estava fora de mim.

Aquilo doía muito, minha respiração estava ofegante e eu não conseguia enxergar nada.

- PARA POR FAVOR.- grito com as mãos em meus ouvidos.- DÓI TANTO.- continuo gritando. Vozes adentraram a minha cabeça, e o que antes era só dor, agora eram várias vozes gritando. Tentei ouvi-las mas eu não conseguia entender. Algumas pediam socorro, outras não falavam, apenas gritavam, como se estivessem desesperadas.- O QUE É ISSO?- gritei sentindo lágrimas descendo dos meus olhos e tentei me levantar. Eu não enxergava, era como se eu estivesse presa no escuro.- POR FAVOR...- grito mais alto e começo correr. Sinto meu corpo bater em alguma coisa e minha esperança era que fosse uma pessoa, mas eu não enxergava nada. As vozes começaram a gritar mais alto e a dor do meu corpo voltou mais forte. Um último grito estrondoso saiu da minha boca e eu caí de joelhos, ainda escutando as vozes.- não, não, não, não, não, não, não, não...- eu sussurrei baixinho e senti meus olhos se fecharem e as vozes se calaram.

- como se sente?- uma voz calma dizia.

- quem é você?- perguntei me levantando da poeira.

- eu sou uma guardiã.- ela diz e eu encaro meu vestido branco totalmente delicado, feito de seda brilhante e cheio de rendinhas. Observei o vestido, e pude perceber que eu estava descalça.- Katryna?- levantei meu rosto e tentei olhar para a luz forte, mas não consegui enxergar nada.- Seja bem vinda, anjinho.- foi a última coisa que escutei e meu corpo caiu em escuridão total.

(...)

Acordo assustada e tento me levantar. Eu estava num quarto todo branco, mas não era o quarto do hospital que eu já conhecia como a palma da minha mão. Vários fios estavam conectados a mim, principalmente na minha cabeça. As lembranças vieram e eu tentei me levantar, mas percebi que minhas pernas e braços estavam presos. Me mexi várias vezes, e não obtive resultado. Ouvi o barulho da porta abrindo e vários "enfermeiros" entraram no quarto, todos vestidos de branco e azul bebê, continham maletas e usavam um tipo de proteção para o ouvido.

- cadê o Gustavo?- perguntei enquanto dois deles começaram a mexer nos aparelhos.- onde eu estou?- começo ficar raivosa enquanto o aparelho apitava que meu coração estava se acelerando. Um dos enfermeiros se aproxima com uma seringa e retira uma das fivelas que prendiam um dos meus braços, e eu me desespero.- não vai aplicar isso em mim, não. O que é isso?- pergunto tentando me soltar.- me solta.

- o som veio dela? Vocês tem certeza? Ela parece inofensiva.- um deles diz tirando alguns líquidos de dentro da maleta.- vocês tem certeza que a explosão sonora que quase derrubou a estrutura do prédio, veio dela?- ele pergunta novamente e eu os encaro totalmente surpresa. Bem, eu não consigo nem matar  uma formiga direito, quem dirá abalar a estrutura de um prédio.

- veio com toda certeza. Acho que todos ouviram, ela é uma ameaça.- o cara da seringa responde e começa passar um algodão em meu braço.

- não, para por favor.- digo me mexendo o mais rápido que consigo. Eu odeio agulhas.- por favor, não.- digo mais alto e ele coloca a agulha na posição para me furar.- NÃO, PARA.- grito estrondoso e esbanjando meu medo. O cara da agulha voou, assim como os outros enfermeiros, e os aparelhos começaram apitar com irregularidade. Comecei a mexer na outra fivela do meu outro braço e assim que consegui soltar, tirei as das minhas pernas. Me levantei devagar, eu estava tonta, sentia minha cabeça latejar. Caminhei até a porta e abri, dando de cara com um corredor branco.

- onde estou?- pergunto pra mim mesma e começo andar o grande corredor. Era cheio de portas, uma delas teria que ser a saída. Abro todas a procura de uma saída, e em uma delas estava meu celular e meus documentos jogados sobre uma mesa. Coloco tudo em meu bolso e finalmente consigo sair daquele lugar. Ligo para Gustavo e nem chama. Precisava sair dali logo, meu corpo doía de tanto cansaço.

Sem mais opções, liguei para Gabriel, que era um dos únicos que eu conhecia que também tinha um automóvel. Ele disse que viria o mais rápido possível, e eu estava morrendo de medo de me levarem para dentro daquele imóvel totalmente pintado de branco novamente. Mandei minha localização por mensagem, era do outro lado do mundo e eu não sabia o que fazer.

Vi a moto de Gabriel bem de longe, se aproximando, e comecei correr em direção a ele. Senti meus olhos se encherem de lágrimas e a moto de Gabriel parou do meu lado.

- o que houve?- ele desce da moto rápido e chega pertinho de mim. Abraço o corpo gigante dele e agradeço por tê-lo na minha vida, principalmente em momentos como esse.- ei, não chore.- ele passa o polegar em minha bochecha e eu escuto um trovão alto e estrondoso, e a chuva gélida começa a cair sobre meus cabelos.- vamos, venha.

Gabriel sobe e eu subo atrás, ele acelera até chegarmos na casa dele. Eu pedi para que fôssemos pra casa dele, era o lugar mais seguro pra mim até agora. Minha cabeça doía, mas era uma dor suportável.

Assim que chegamos, eu desci da moto toda encharcada, eu estava totalmente sem rumo. Meu coração acelerado mostrava o quão aflita eu estava. Onde está Gustavo, e o que eu fiz com ele?

Meu namorado é um Lobo [EM REVISÃO]Where stories live. Discover now