Dezessete

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Gustavo narrando.

Acordei com uma infernal dor de cabeça, meu cérebro estava totalmente bagunçado. Meus olhos passearam pelo lugar, procurando pela pequena criatura loira, que eu estava carregando no meu colo. Eu não a vi, e isso fez com que eu me levantasse o mais rápido possível. Me transformei na minha forma lupina e soltei meu uivo rouco, chamando todos da minha alcatéia.

Katryna é especial, e eu já sabia disso. A forma que ela age, tão independente, já havia me mostrado que ela era diferente. Assim que ela soltou o seu primeiro grito, eu já sabia que ser era aquele, que habitava o seu interior. Não existem mais, criaturas como ela. Uma banshee.

As Banshee provêm da família das fadas, e é a forma mais obscura delas. Antigamente, quando alguém avistava uma Banshee, sabia logo que seu fim estava próximo. Os dias restantes de sua vida podiam ser contados pelos gritos da Banshee... Cada grito era um dia de vida e, se apenas um grito fosse ouvido, naquela mesma noite estaria morto.

O gemido da Banshee é um som especialmente triste, que parece o som melancólico do uivo do vento e tem o tom da voz humana além de ser audível a grande distância (principalmente por criaturas sobrenaturais). Embora nem sempre seja vista, seu gemido é ouvido, usualmente a noite quando alguém está prestes a morrer.

Meus avós falavam muito sobre Banshee, até porque, eles sempre tiveram o desejo de pelo menos, vê-las de longe. E eu, estava carregando uma, entre meus braços.

Nunca havia se passado pela minha cabeça, que Katryna Thompson, uma humana encrenqueira com um sorriso encantador, poderia ser uma criatura tão obscura do mundo sobrenatural e do mundo das trevas.

Eu precisava encontrá-la, ela não sabia o que estava fazendo, e precisava de auxílio agora. Uivei mais uma vez e escutei vários outros uivos.

- quem é a Banshee? Eu a escutei chorando

- sua companheira é uma banshee? O grito dela explodiu meus tímpanos.

- uma banshee no mundo dos lobos? Isso é possível?

- levaram ela?

- Gustavo, o que houve?

- estou indo aí agora.

Eu escutei todos os membros da minha alcatéia pelos uivos. Eles estavam aflitos, não sabiam o que fazer e muito menos como reagir diante da situação. Minhas patas começaram a pisar nas folhas e eu me concentrei no cheiro de Katryna. Era pouco, mas era o suficiente para que eu pudesse encontrá-la. Meu coração batia disparado e minha respiração estava ofegante, e eu me concentrei apenas nela. Comecei escutar tudo que estava em minha volta, e o choro triste e doloroso dela invadiu meus ouvidos. Pobre pequena, eu sentia sua dor.

Meu lobo chorou de tristeza e começou correr o mais rápido que podia, e paramos na porta de uma casa cinza. Observei a janela e pude vê-la abraçada com Gabriel, soluçando enquanto ele fazia carinho no cabelo dela.

E agora, além de triste, fiquei com raiva. Ver o meu mundo, nos braços de outro, fez o meu lobo ficar raivoso e agressivo. Me transformei em humano e olhei a cena por mais alguns segundos. Talvez seja o melhor para ela.

Gabriel estava cuidando tão bem dela, coisa que eu nunca consegui fazer, desde que a conheci. Isso vai fazer bem pra ela, ela vai aprender a controlar seus poderes sozinha e eu vou deixar de interferir na vida dela. Eu faço mal para ela, muito mal mesmo.

- Gustavo, vamos entrar.- Rafael diz tocando o meu ombro. Me viro devagar e encaro os 15 lobinhos que ali estavam, todos curvados diante de mim.

- não.- falo sentindo minha garganta doer.- não vamos entrar, Rafael. Katryna está melhor entre os humanos, eu devia ter escutado meu pai. Eu faço mal a ela, não vou mais interferir na vida humana dela.- meus olhos ardiam. Meu lobo choramingou por dentro enquanto eu começava caminhar para longe da casa. Os lobos da alcatéia entenderam que eu precisava de um tempo e assim que eu consegui me distanciar o suficiente deles, as lágrimas rolaram pelas minhas bochechas. Eu tentei parar, mas quanto mais eu caminhava, mais lágrimas escorriam pelo meu rosto.

Os olhos azuis dela se passaram pela minha mente e eu parei de chorar lembrando de alguns dos nossos poucos momentos juntos. Limpei as lágrimas com o dorso da mão e sorri.

- vou sentir sua falta.- olho para o céu e passo as mãos pelos cabelos.- vou sentir muito, muito sua falta.

Katryna narrando.

- minha pequena, estou aqui.- Gabriel repetia isso pela milésima vez.

- liga pro Gustavo de novo. Por favor.- digo me ajeitando na cama de Gabriel e com um nó na garganta. Gabriel liga e novamente, chama chama até cair na caixa postal.

- ele não atende, Katryna.

- a culpa é toda minha.- digo e começo chorar novamente.- é tudo tão confuso.- Gabriel me abraça de novo e eu começo soluçar, enquanto a tristeza invadia meu coraçãozinho.

Horas se passaram e eu já estava com dor de cabeça de tanto chorar, e depois de tanto receber conselhos do Gabriel, que estava achando que meu coração estava "partido", eu acabei dormindo.

Acordei enroladinha num cobertor azul de veludo. Me sentei na cama e olhei pro chão. Gabriel estava deitado por cima de um lençol, com um cobertor enrolado nas pernas. Sorri e me levantei. Peguei minhas coisas e escolhi uma das blusas de frio do Gabriel. Saí de mansinho da casa dele e fui andando até a minha casa.

Já cheguei em casa chorando, minha cabeça doía muito e eu não conseguia conversar com o Gustavo. Liguei mais uma vez e deixei recado na caixa postal.

- Gustavo, sei que machuquei você e você deve estar super magoado comigo, mas por favor, me atende. Vamos conversar, eu sinto muito pelo que fiz, não sei o que foi aquilo. Estou com medo, não sei o que fazer, nem com quem falar. Me ajuda... Quando puder, me retorna por favor.- parei de falar assim que escutei o "biiip".

Subi para o meu quarto e fui tomar um banho. Enquanto a água quente caía sobre meu cabelo, comecei a ouvir vozes e elas gritavam de medo.

- não.- digo me assustando.- por favor, de novo não.- desliguei o chuveiro e saí o mais rápido possível do banheiro.

Vesti meu moleton correndo e me enfiei debaixo do cobertor. As vozes começaram a gritar mais alto e eu comecei chorar pela dor insuportável que eu estava sentindo. Era como se estivessem prensando meu cérebro contra meu crânio.

- por favor, faz parar, por favor.- falei baixinho pra mim mesma e as vozes aumentaram, e dessa vez, eu consegui entender o que elas diziam.

- não me mate.

- me solta por favor.

- eu sinto muito, eu errei, mas não me machuque.

- está doendo, está ardendo.

- eu estou queimando.

- isso dói muito.

Elas gritavam desesperadas e eu me assustei. Minha garganta doeu, e ao mesmo tempo coçou, e então eu gritei. Gritei alto e estrondoso, sentindo minhas forças indo embora.

- Katryna, se concentre. Papai está aqui.- escutei a voz do meu pai, bem mais alta que os gritos atordoados.

Coloquei as duas mãos sobre a boca e respirei fundo. As vozes foram se calando bem devagar, até que tudo ficou silencioso. Controlei a minha respiração e puxei meu cobertor até tampar a minha cabeça.

- dorme Katryna, dorme por favor.- apertei meus olhos enquanto as lágrimas escorriam pelas minhas bochechas e depois de várias lembranças, adormeci.

Meu namorado é um Lobo [EM REVISÃO]Where stories live. Discover now