Capítulo 31.

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"This is our place, we make the rules.
Lover, Taylor Swift"

O quarto de Nicolas cheirava a praia. O que era um pouco estranho, considerando que sua casa não era tão próxima assim. Talvez fossem as pranchas, Rafaela pensou, com certeza elas deveriam ser guardadas em um lugar apropriado e não em um quarto de 12m².

Além disso, estaria totalmente escuro ali se não fosse pelo abajur azul marinho com desenhos de peixes que iluminava apenas um ponto do quarto. Por isso, quando Vinicius sentou-se ao seu lado, ela viu a única fonte de luz iluminar seu rosto.

— Eu não achei que ele estivesse falando sério — comentou, soltando um suspiro alto.

Os dois estavam trancados a mais ou menos meia hora, depois de serem enganados com um jantar falso e aprisionados no quarto com cheiro de mar.

Nicolas e Jaqueline não pareciam se importar com possíveis ataques de claustrofobia e fizeram questão de retirar a lâmpada, os obrigando a permanecer no escuro — para a sua sorte, eles esqueceram do abajur. A loira havia batizado o momento de "o dia do beijo" e Rafaela sabia disso porque Jaqueline fez questão de gritar do outro lado da porta, seguido por uma gargalhada maquiavélica.

— Tu sabe que não precisa fazer nada, não sabe? — Vinicius cutucou seu ombro e abriu um sorriso de lado. —  A gente pode ficar conversando até que eles desistam dessa brincadeira idiota e nós tirem daqui — sugeriu.

Rafaela deixou uma risada escapar e assentiu.

— Como você pode ser tão paciente? Quer dizer, qualquer outra pessoa não continuaria me esperando...

Vinicius riu, antes de falar:

— Rafinha, eu passei anos gostando de ti em segredo — lembrou. — acha que eu não posso esperar mais alguns dias?

Ela apertou os lábios e virou o rosto em direção ao seu.

— Posso te contar uma coisa? — Rafaela franziu os olhos e ele concordou com a cabeça. — Eu sinto falta das mensagens.

O garoto sorriu e seus olhos, que antes eram iluminados pela fresta de luz, quase sumiram.

— Era divertido — disse. — E um pouco angustiante.

Rafaela riu.

— Você me ajudou muito, Sabia? Pessoalmente e virtualmente.

Vinícius sorriu de volta.

— Vai demorar muito ai? — A voz esganiçada de Jaqueline ecoou dentro do quarto, interrompendo a conversa e o adolescente revirou os olhos.  — Eu e meu namorado já nos beijamos umas duzentas vezes só nesses minutos que vocês estão tagarelando aí dentro!

Rafaela escondeu o rosto com as mãos e balançou a cabeça, sentindo a vontade de se esconder em um buraco crescer gradativamente.

— Não tenho culpa se vocês não conseguem manter essa língua dentro da boca por tempo suficiente! — Vinicius gritou de volta e a cacheada quase riu, se não fosse a vontade de sumir.

— E minha língua está muito satisfeita com isso, obrigado! — debochou ele.

Rafaela soltou o ar e se levantou da cama, caminhando até a porta. Ela bateu forte por três vezes.

— Jaqueline, isso é ridículo! — reclamou, batendo mais algumas vezes na estrutura de madeira. —  Abre essa porta e deixa a gente sair daqui!

— Nem pensar — a loira respondeu, do outro lado. —  Vocês dois estão evitando o inevitável e eu vou deixar vocês aí até que percebam!

A garota encostou a testa na porta e grunhiu. Queria ser forte o suficiente para quebrar a fechadura, mas sabia que só ganharia uma contusão caso tentasse. Por isso, fez a voz mais triste que conseguia.

— Jaqueline, você sabe que isso é crime, né?

— Nem começa, Rafaela — foi Nicolas quem respondeu, rindo. — Para beijar o Bruno achando que era o Número desconhecido, tu não pensou duas vezes.

— É diferente — ela respondeu baixinho, mas o loiro não ouviu.

— Vamos ser sinceros, Rafinha — ele continuou, chamando-a pelo apelido que apenas Vinicius costumava usar. — Tu já sabe o que quer, o que está te impedindo agora?

Rafaela soltou um suspiro alto e virou-se, de costas para a porta. Vinicius estava encostado na escrivaninha, uma festa de luz iluminando uma parte do seu rosto. A menina apertou os lábios e caminhou até ele lentamente.

— Nícolas está certo — admitiu, quando já estavam frente a frente. — Eu sou uma idiota, não sou?

O menino balançou a cabeça, fazendo o cabelo balançar e aquela mecha insistente cair sobre o seu olho.

— Eu não te acho uma idiota — respondeu. — Mas, eu realmente não entendo porque foi tão fácil beijar o Bruno e não é tão difícil me beijar.

Rafaela ergueu os olhos, sentindo o coração apertar. Até ali, o melhor amigo não havia usado abertamente a palavra beijo e apenas a menção daquelas sílabas saindo da sua boca fazia ressurgir o conhecido embrulho no estômago que costumava sentir perto dele.

— A culpa foi sua — se defendeu e ele arqueou as sobrancelhas. — O que você queria que eu fizesse? Estava descobrindo meus sentimentos por você, mas eu nunca soube que você era você.

Vinicius cruzou os braços.

— Então, eu sou o culpado?

— É claro, foi você quem começou a mentir. — Rafaela ergueu os ombros. —  Ele é pisciano, sabia? Fez a mesma piadinha ridícula que você fez por mensagem.

Ele fez uma careta, tentando segurar a risada. Quais as chances de o culpado pelo beijo ser o mundo astrológico?

— Que merda.

— Pois é — Ela colocou as mãos na cintura. — Eu só segui os meus instintos.

— Engraçado... — Dessa vez, Vinicius riu, chamando a atenção da melhor amiga. — Comigo esses instintos estão sempre bem contidos, né?

O tom insinuante da sua voz fez Rafaela arquear as sobrancelhas, surpresa. Vinicius tinha um sorriso quase contido no rosto, mas algo estava diferente. De repente, a atmosfera não era mais a mesma e o coração dela parecia pular no seu peito.

— Eu tenho uma técnica — respondeu, sem conseguir conter sua própria boca. — Eu meio que trancafiei todos eles em uma jaula.

— Trancafiou seus instintos em uma jaula?

Ela concordou com a cabeça.

— Todos eles.

Vinicius deixou o rosto cair para o lado e um sorriso, grande dessa vez, surgiu nos seus lábios. Ele deu um passo para frente, só para encurtar a distância dos dois, antes de dizer:

— E onde está a chave dessa jaula? — Mais dois passos e Rafaela sentia como se as paredes do quarto se fechassem sobre ela. — Sério, eu meio que preciso dela, Rafinha.

Ela precisou juntar todas as suas forças para balançar a cabeça para os lados, quase como seus músculos tivessem esquecidos como se movimentar.

— Eu não sei onde a chave tá. — Sua voz era um sussurro praticamente inaudível.

Vinicius ajeitou a postura antes de esticar a mão e passar por um de seus cachos, o colocando atrás da orelha. Como se quisesse matá-la do coração, ele deixou sua mão ali, na bochecha quente da garota que mal conseguia piscar.

— Então eu vou ter que procurar.

Nota da autora:

Nada como a trope "forced proximity" que consiste em um crime romantizado, né? 😅

O próximo capítulo é o ÚLTIMO antes do epílogo 🥲 Nos vemos em breve.

Número Desconhecido | Livro 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora