Miguel Narrando...

Se eu tivesse um coração, ele teria parado agora. Eu vi os vampiros saírem correndo, enquanto Katryna caiu no chão quase sem vida. Os cachorros molhados saíram correndo raivosos atrás do vampiro e eu pude sentir o cheiro que Gustavo exalava. Era ódio, tristeza, medo, misturado com o cheiro de rabujo de cachorro. E eu pude ver nos olhos dele, o quanto aquela menina significava na vida dele. Corri em velocidade sobrenatural até ela e ela se contorcia, o veneno estava entrando em conflito com o meu sangue que eu dei a ela.

- MIGUEL.- escuto a voz do líder do clã, que por acaso era meu suposto "pai".- não podemos deixar que ela morra, sem ao menos estudar o poder do sangue dela.- encaro ele enquanto o resto do clã está atrás dele, todos me encarando surpresos. Eu era o único que conseguia chegar perto dela, mas a vontade de arrancar todo sangue dela ainda era muito grande. Senti o cheiro de lobo e quando olhei pra trás vi Gustavo raivoso.

- TIRE AS MÃOS DE...- ele estava pronto pra me avançar, mas parou quando viu a mãozinha pequena de Katryna segurando a minha mão.

- você precisa salva-la, Miguel. Se ela morrer agora, ela vai acordar vampira.- meu irmão disse e eu olhei pra Katryna que estava com lágrimas escorrendo pelas bochechas. Eu entendia a dor dela, porém eu sabia que era bem mais forte que a dor que eu havia sentido. Apertei a mão dela e ela me olhou quase desacordada. Gustavo se aproximou e choramingou segurando a outra mãozinha dela. Todos escutaram o lobo dele chorando por dentro, pelo pouco que sei sobre lobos, as companheiras são a vida deles.

- ajude ela, por favor.- ele me olhou enquanto começava a tirar a dor dela.

- ele nunca nos ajudou, Prada.- um vampiro diz encarando meu pai.- por que ajudá-lo, sendo que ele já matou muitos da nossa espécie?- ele diz e meu pai solta uma risada.

- não estamos fazendo por ele. A garota tem uma conexão forte com o Miguel, sem ao menos conhecê-lo. Estamos fazendo pelo Miguel.- meu pai diz e volta a olhar pra mim.- agora Miguel, antes que seja tarde.- eu apenas balanço a cabeça e levo o pulso de Katryna até minha boca. Senti o gosto do sangue dela e automaticamente fiquei louco, mas me concentrei no veneno. Já estava bem espalhado pelas vias sanguíneas dela, mas eu comecei suga-lo de forma que viesse só o veneno. Katryna começou gritar e Gustavo também, já que estava machucando muito tirar toda a dor dela.

- Gustavo, pare. Você já passou do seu limite.- um lobo diz levando Gustavo pra longe de Katryna.

Consegui remover todo o veneno e ela desmaiou de dor. Mordi meu pulso e coloquei um pouco do meu sangue preto na boca dela. Sangue de vampiro é o melhor remédio que existe. Peguei ela no colo e encarei as veias do pescoço dela. Meus olhos de vampiro apareceram automaticamente, mas eu me controlei. Pude ouvir os batimentos cardíacos dela, bem fracos, porém batia, avisando que ela permanecia viva. Caminhei com ela em meu colo e vi Gustavo sentado, encostado numa árvore, ele parecia bem fraco. Coloquei ela em cima do seu colo e ele abraçou o corpinho pequeno dela, apertando ela bem forte.

- como você está fria, anjinho...- ele diz passando o polegar nas bochechas dela e depois olhando pra mim.- obrigado, Miguel.

Eu apenas balancei a cabeça, eu sentia o quanto ele me odiava por eu ter uma suposta "conexão" com aquela garota. Eu a vi, quando ela era uma criancinha de 4 anos, enquanto ela brincava numa caixinha de areia. Seus cabelos loiros e longos me chamaram atenção na época, mas o que mais me chamou atenção, foi o sorriso de criança sapeca dela. Eu me lembro bem, de um homem alto, forte e loiro no mesmo tom que ela, pegá-la no colo e começar a fazer cosquinhas nas suas costelas enquanto ela gritava um "pala papai, pala pufavô ", e soltava gargalhadas. Eu encarei a cena por um tempo, até eles decidirem ir embora, e depois de segui-los, eu vi dois caras distribuindo vários tiros na direção deles. Me lembro de correr em velocidade sobrenatural desesperado e pegar Katryna em meu colo, enquanto escondia o rostinho pequeno dela, em meu ombro. Olhei o pai dela que já estava morto no chão, eu poderia tentar fazê-lo voltar com o veneno, mas eu percebi que era tarde, o tiro havia acertado a testa dele. Os caras tentaram me acertar, mas corri em velocidade sobrenatural com a baixinha em meus braços. Ela me perguntava onde estava o papai dela, e eu só levei ela pra longe dali. Ela começou chorar dizendo que só queria o papai e eu voltei no local do crime, e estava cheio de viaturas, ambulâncias e havia uma mulher de cabelos castanhos e olhos azuis, assim como os de Katryna. Ela chorava muito, perguntando se eles haviam achado pistas do desaparecimento de uma neném chamada Katryna que estava com o pai no momento do acontecimento. Me lembro de soltar Katryna no chão, deixar um beijo sobre a testa dela e mandar ela correr até a mamãe o mais rápido que ela pudesse. Ela sorriu e fez o que eu pedi. A mulher a recebeu nos braços chorando desesperada e Katryna só queria saber "onde está o papai? A gente tava blincando". Eu saí dali, já que tinha uma longa viagem pra fazer, mas senti que tinha algo de especial naquela menina. Algo que me fez bem.

Saí do meu transe enquanto Gustavo me encarava e eu sorri. Comecei caminhar pra longe dali, e ela estava em minha cabeça.

Meu namorado é um Lobo [EM REVISÃO]Where stories live. Discover now