CAPÍTULO 143 - Embarca ou não embarca...?

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Quando entro no quarto, minha mulher, com a cabeça afundada no travesseiro, chorava de soluçar.

— Mila?!

Ela olhou pra mim, branca. Parecia ter visto assombração.

— Que tá havendo, hein? — sentei na cama e a abracei apertado.

— Desculpa, Kiko... — ainda tentava disfarçar. — Não era pra você ver... — e abriu um sorriso morto.

Esfreguei a mão na cara com raiva. Caralho! De um lado meu pai. Do outro ela. Nem sabia pra onde correr mais...

A família dela tava pra chegar, dia seguinte. Iam ficar até sábado com a gente pra despedida.

— Detesto chorar assim... À toa.

— Não é à toa, linda. Você tá com medo. Eu também tô. Mas antes de tudo, eu tô com você, Mila. Sempre. Pro que for...

— Eu também, Kiko. Pro que for... — e me deu um beijo tímido, do jeito dela, ainda tentando sorrir, por mais que o clima fosse completamente outro.

— Eu sinto muito ter que fazer isso com a gente, mas não posso dar pra trás. Não agora.

— Eu nem quero isso, Kiko.

— Jura pra mim?

— Juro...

Enroscou o braço no meu corpo, bem apertado, e deitou a cabeça no meu ombro, encolhida.

— Nem te contei nada antes, mas tem um detalhe que talvez te deixe mais tranquila em relação a viagem.

— O quê?! — levantou os olhos de expectativa pra mim.

— Eu fechei um contrato de seis meses com a Automatique

— Como assim?!

— Um período de teste, pra ver como a gente se adapta.

— Jura?!

Balancei a cabeça.

— A gente não precisa ficar lá pra sempre.

Arregalou os olhos, assustada, mas parecendo aliviada.

— Acho que vai ser uma experiência do caralho pra gente, Mila. Mesmo que só por seis meses. Você estudando. Eu trabalhando... No mínimo um bom up grade no currículo...

— É verdade... — e já sorria pra valer, enquanto se livrava das lágrimas presas aos cílios.

— Topa essa aventura?

— Com você, Cristiano...? Até avião errado.

Inegável como ela me faz ir.

Trocamos um beijo gostoso. No ritmo dela.

— Por que não me disse nada?

— Porque era segredo. E não pode chegar no ouvido do meu pai.

— Qual a razão?

— Pra não dar esperança pra ele.

— Não entendi.

— Ele fez por merecer, linda. Por mim, eu deixo ele o resto da vida sem conviver com a gente, nem com os netos que vamo arrumar pra ele. Mas a gente tem que fazer isso sem sacrifício. Se não der certo, a gente cata as coisas, enfia na mala e volta pra cá.

Ela riu.

— Mas é muita maldade com seu pai, sabia...? — essa é a minha esposa na essência...

Apesar de tudo que dr. Alberto aprontou com a Camila, ela ainda conseguia ter consideração por ele.

— Além disso, tem sua mãe também. Ela não merece pagar pelo erros do seu pai.

— Não, linda... Não merece.

— E ela tá sofrendo, que eu sei.

— Eu sei também. Mas não tem outro jeito. É isso ou doutor não dá paz pra gente. Pra mim principalmente.

Ele me olhava de soslaio.

— Eu preciso provar pra mim que posso viver longe da aba dele.

— Eu sei... — e suspirou murcho. — Sei que, no fim, é isso que você busca com a viagem. E tenho certeza que vai conseguir.

— Vamo nessa então?

— Nem precisa perguntar duas vezes.

Trocamos outro beijo gostoso.

Tudo que eu precisava era do apoio dela. E isso eu tinha. Então, não faltava mais nada.

— Que acha da gente dar um rolê por aí? Chamar os caras...? Tomar uma...? — eu ia apelar pra qualquer coisa pra ver minha esposa animada.

— Ainda tenho três malas pra arrumar.

— Não tem problema. Eu peço pra dona Cleusa.

— Não dá, Kiko! Sou eu que preciso escolher as roupas, pegar casacos, as...

— Mila... Dona Cleusa se encarrega disso. Se faltar qualquer coisa, eu compro pra você lá. Prometo... Agora vamo comigo pro bar, pra gente sair daqui um pouco, se distrair, esfriar a cabeça...

Ela ria enquanto esfregava a cara, mas não reagia.

— Vou ver se o Bola tá na área, o Cabeça. Tenta falar com as suas amigas também.

Ainda sem reação.

— Vem, linda! — já que ela não ressoava, levantei do colchão e arrastei minha esposa pela mão pra sumir com ela daquele quarto.

— Calma, gatinho! Deixa eu trocar de roupa pelo menos.

— Não precisa. É só a gente.

— Cinco minutos, vai...

— Três...

Ela sorriu me ignorando completamente e foi direto pro armário.

Meia-hora mais tarde e já estávamos no bar do lado de casa, que eu sempre vou com os caras.

Ligando de um em um, mesmo de última hora, ainda juntamos uns dez por lá. Fora um ou outro que ficou de dar uma passada mais tarde.

A turma mais animada do planeta de longe é a nossa. Sem entregar os pontos, enchemos a cara, literalmente, como se não houvesse amanhã...

Saímos de lá no começo da madrugada, tropeçando no próprio pé. Chico e Joel tiveram que dar uma força pra gente e pros remanescentes, que nos acompanharam até o último gole da saideira...

(COMPLETO) Meu mundo é dela! - A história da Mila e do Kiko...Onde as histórias ganham vida. Descobre agora