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[revisado]


L e t í c i a

Acordei com a visão de um quarto vazio e silencioso, minha cabeça estava um pouco confusa, até meu pai aparecer rapidamente na memória, me levantei e fui até o seu quarto.

- Pai? - eu o chamei.

Seu quarto estava vazio, a cama perfeitamente arrumada, parecia apenas mais um quarto esperando um paciente novo. Sai do quarto e perguntei sobre ele para uma enfermeira, a mesma apenas negou dizendo que não sabia de nada, olhei para o começo do corredor e vi Gustavo sentado com a mão no rosto.

- Gustavo? - ele me encarou. - o que aconteceu? - seus olhos estavam vermelhos. - cadê o meu pai? - ele me abraçou forte. - Gustavo, me responde, onde está o meu pai?

- Eu sinto muito, Letícia. - ele disse com a voz falhando.

- Sente muito pelo que? - ele me encarou.

- Seu pai, enquanto você estava descansando.. - engoli em seco.

- Não, ele não.. - respirei fundo.

- Ele teve uma parada cardíaca, os médicos tentaram fazer alguma coisa, mas..

- Mas o que, o que aconteceu?

- Eles não conseguiram, seu pai faleceu.

- Não, não, não. - eu ri. - ele, ele, não, eu.. - comecei a gaguejar. - não pode ser, Gustavo, ele não.. - meus olhos encheram d'água.

Ele me apertou em seus braços e beijou minha cabeça, parecia que tudo isso era um pesadelo, eu fechava os olhos a todo momento, desejando acordar e ver que tudo isso não passava de um pesadelo.

×

Todos estávamos de preto, tinha em torno de 40 pessoas ali, o caixão do meu pai estava prestes a ser soterrado, minha mãe estava agarrada ao meu irmão, eu estava tentando mostrar que era forte o bastante pra aguentar tudo aquilo, mas no fundo eu sabia que não era e nunca seria.

- Eu to aqui com você. - Gustavo acariciou minha mão.

Peguei o pequeno papel no meu bolso e respirei fundo, todos estavam me olhando, engoli em seco e olhei para a folha na minha frente, era a hora de se despedir.

- É engraçado como as pessoas passam rápido por nossas vidas e nos deixam marcas tão profundas, foi assim com o meu pai. Ele era meu amigo, meu companheiro, meu confidente, sempre estava com um sorriso no rosto, estava disposto a me ouvir e ajudar não importava a situação em que eu me metia. - olhei para o caixão. - sabemos que há tempo para tudo, que há tempo de nascer e de morrer, mas eu digo que nunca estamos preparados pra perder alguém que amamos. - limpei minhas lágrimas. - sentirei saudades eternas, talvez do que poderia ter feito e não fiz, das palavras que deveriam ter falado e não falei, algumas atitudes que deveria ter tido e não tive, mas eu sei que se tivesse feito tudo, o tudo ainda não seria suficiente. Somos todos assim, despreparados para a perda e impacientes com o tempo, o qual deixamos responsável por apagar o nosso sofrimento. Sou muito grata a Deus por ele ter feito do senhor o meu pai. - fui até o caixão. - eu te perdoou, me desculpe por não dizer isso antes, eu vou te amar sempre, pai. - sussurrei e depositei minha rosa sobre o caixão.

- Uma vez ele me disse uma coisa que no momento eu não entendi, mas hoje eu entendo. - meu irmão chegou perto. - superar é preciso, seguir em frente é essencial. - sorri. - ele sabia falar muito bem.

- Ele viu isso em um livro ou em um filme, papai gostava de dizer que as frases importantes eram dele. - sorrimos. - Eu vou sentir falta dele.

- Eu também vou. - meu irmão me abraçou.

| O Melhor Amigo Do Meu Irmão | parte IWhere stories live. Discover now