Eu suspirei; enquanto decidia, recebi outra chamada. Era o meu pai.

- Espera, eu já volto. O meu pai está me ligando!

Ansiosa, deixei Homero na espera e atendi o meu pai.

- Papai! – cumprimentei-o, talvez eufórica demais. A minha voz saiu esganiçada e fina. Que ótimo jeito de disfarçar o nervosismo, Elizabeth. Parabéns!

- Oi, meu amor. Por acaso você já se alimentou hoje?

Pensei nas duas xícaras de café. A única coisa que o meu estômago tinha recebido pela manhã

- Sim, pai. – respondi obediente com a já costumeira culpa se instalando no meu peito. – Como você está? Alguma novidade? – inclinei-me para frente, ansiosa. Era a chance que ele tinha de me contar. Por que esconderia de mim que viria para Nova York? Ele nunca fizera isso antes.

- Ah, está tudo ótimo por aqui. Não, nenhuma novidade. O mesmo de sempre. A sua avó está mandando lembranças.

Mordi o lábio. O que papai estava aprontando? Eu conhecia o seu tom de voz, estava contornando a conversa, meio nervoso.

- Pai, você está bem?

Ele ficou em silêncio, hesitando.

- Claro que está! Por que não estaria... Por acaso você anda aprontando aí em Nova York, Lizzie? – o seu tom foi brincalhão mas mesmo assim eu empalideci.

Forcei-me a rir também.

- Há, há! É claro que não, está tudo tão tranquilo que é quase entediante. – fiquei chocada com a desenvoltura que consegui fingir uma voz de tédio, quando na verdade estava uma pilha de nervos. Comecei a amassar papéis antigos e jogá-los na cesta de lixo, a atividade me ajudou a desacelerar a respiração.

Papai pareceu satisfeito por eu lhe garantir que não ando sendo presa, causando acidentes ou colocando fogo em laboratórios de Professores de Química, quintais de vizinhos aleatórios...

- Que bom, princesa. Fico feliz em ouvir isso. Mas e o seu coração? Sei que o término do namoro deve ter sido difícil. Scarlett ficou preocupada...

- Ah, estou superando. – peguei-me pensando na noite anterior, no jantar com Homero. Eu estava superando de melhor maneira possível. Mais tarde eu me repreendi por esse pensamento maldito, no entanto naquele exato momento eu estava sorrindo. Voltei a realidade, o sorriso substituído por uma careta. - Scarlett esteve aí em casa? Quando?

- Ela sempre está aqui. Ás vezes vem pegar uma peça de roupa sua, comer com a sua avô... – ele tossiu de novo, era sempre o sinal de que queria mudar de assunto. – Mas, se está tudo certo, eu vou desligar. O professor de História faltou de novo e  não temos um substituto. Vou ter que assumir todas as turmas hoje.

Mentiroso. Ele deveria estar em casa, arrumando suas malas. A passagem fora para comprada para hoje mesmo. Eu decidi fingir que acreditava em sua mentira.

- Oh, pobres adolescentes. – lamentei pelos alunos do meu pai. Ele era um ótimo professor, mas acho que a sua fama de diretor poderia intimidar um pouco os alunos. A carranca que papai assumia quando estava na escola ajudava a potencializar minha teoria.

- Não seja boba, eles vão adorar. Não se lembra de quando eu fui seu professor?

Atividades de vinte páginas, intermináveis lições orais... Eu era tão boa em história por causa do papai que era como se tivesse feito uma secunda faculdade nesse curso.

- Sim, eles vão. – papai não captou a minha ironia e riu com gosto. – Tchau, pai. Boa aula! Não os assuste muito.

Papai deu uma gargalhada maléfica.

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