Mostre, não conte.Nenhum dos conselhos de escrita é tão dado e tão pouco compreendido e seguido. As ambições por trás desse mote (que parece simples) são não deixar a narrativa soar artificial e facilitar a imersão do leitor.
Nas palavras de Robert Mckee: "Nunca force palavras nas bocas das personagens para contar ao público sobre o mundo, a história ou as pessoas. Ao invés disso, mostre-nos cenas honestas e naturais nas quais os seres humanos conversam e se comportam de maneira honesta e natural (...). Em outras palavras: dramatize a exposição."
Por dramatização da exposição, entende-se dar todas as informações necessárias para o bom entendimento da história indiretamente, através de ações ou diálogos. Isso deixa a cena mais suave e elimina "barreiras" à imersão. Sutileza é a palavra-chave.
E como estamos tratando de mostrar, e não dizer, vamos à demonstração:
Cena "dita":
Augusto e Cristina não se viam há muito tempo. Desde que terminaram o seu namoro, quase um ano atrás. Ele fica confuso e envergonhado ao ver que ela continua mexendo com o seu coração.
Cena "mostrada":
Augusto passa o olhar pelas pessoas que andam pela rua. Encara por alguns segundos um careca de terno impecável. Depois muda para uma velha corcunda. E depois numa loira de vestido colado.
- Augusto? – ela diz.
Ele encara a loira. Boca aberta. A voz não vem.
Ela se aproxima e beija as bochechas dele.
- Sou eu. Cristina. Vai falar que não se lembra de mim! – Coloca as mãos na cintura. – Não faz nem um ano que a gente... você sabe...
Ele sorri.
- Lógico que lembro de você lind... quer dizer... eu lembro de você Cristina.
Ela sorri. Ele enrubesce.
Conclusão
É muito mais rápido (nesse caso 3x mais) e fácil contar alguma coisa. É exposição pura e simples. Mas a dramatização é mais envolvente. Traz o leitor mais para perto. O faz imaginar.
Existe ainda uma consequência secundária da dramatização. Conforme você vai criando detalhes para preencher as lacunas necessárias, você conhece melhor os seus personagens. Trejeitos, escolhas de palavras, tiques nervosos são criados a partir de detalhes mínimos.
Contraindicação
Como tudo na vida, existe trade off. Nem sempre é ideal dramatizar partes com pouca importância para a história. Se uma informação é necessária e mostrá-la desacelera a cena a ponto de prejudicá-la, pense em realocar essa informação em outra parte da história ou mesmo em deixar o leitor sem ela. Como última opção, e só como última, pense em contá-la.
Às vezes é a melhor opção, mas não conte só por preguiça.
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GUIA do Escritor de Ficção
Rejtély / Thriller[conheça a Campanha de apoio ao Guia do Escritor de Ficção no Catarse] www.catarse.me/guiadoescritor Há três anos, coloquei o último ponto final no meu primeiro romance O Segundo Caçador. Esse foi um marco importante que permitiu me enxergar pela pr...