Capítulo 6: Maybe we do

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- Eliza – Minha mãe chamou, tirando-me de meus próprios pensamentos. -, os desmaios, as convulsões, os esquecimentos... Só vão piorar. Outros sintomas vão aparecer também. Você precisa do tratamento, você vai passar por isso, vai ficar tudo bem no final.

- Mas eu não vou poder sair do hospital, não é?

- Por algum tempo não, mas logo você vai.

- Mas ainda assim, eu não vou poder voltar pra faculdade. - Eu disse, eles se olharam por alguns segundos.

- Você vai sim, mas...

- Mas?

- Não imediatamente.

- Eu não sei quanto tempo eu tenho aqui. Talvez seja perda de tempo. - Pensei alto.

- O tratamento? - Assenti. Minha mãe negou avidamente. - Não, querida, pelo contrário! - Ela colocou suas mãos em meu rosto, o seu próximo do meu me fazendo enxergar o desespero em seus olhos, o medo em sua voz, eu respirei fundo. - Os médicos, eles vão sentar e avaliar o melhor para você. Eles vão fazer o melhor e você vai ter todas as chances que puder. Não é perda de tempo, é apenas uma etapa necessária para que você possa ter uma longa vida.

- Nada disso é garantia. - Eu falei, avaliando a situação. - Eu posso estar aqui, como posso não estar. Eu posso deitar para dormir e amanhã não acordar. Eu não posso desperdiçar meu tempo em um hospital sendo sujeita a procedimentos dolorosos. Eu não posso.

- Isso é para um bem maior! - Papai disse apoiando-a. Minha mãe soltou meu rosto e segurou minha mão, meu pai colocando sua mão junto a nossa em seguida. Eu respirei fundo.

- Eu amo vocês. Em qualquer lugar do espaço, do tempo e do universo. Vocês sabem disso, certo?

- É claro, querida.

- Nós te amamos também. - Papai complementou.

- Eu preciso pensar melhor sobre isso, tudo bem? Me deem uma semana para eu tomar uma decisão.

- Mas... - Minha mãe tentou, mas eu a interrompi.

- Por favor! - Meu pai colocou sua mão livre no ombro da minha mãe e intensificou o aperto em nossas mãos.

- Tudo bem. - Ele disse. - Qualquer coisa, venha nos visitar em casa. Lá sempre vai ser seu lar.

- Obrigada. - Falei e nós nos abraçamos novamente.

...

Acordei cedo na manhã seguinte. Eu tive que ficar no hospital e meus pais dormiram comigo. Eu tive um sonho estranho, eu estava de volta à 1848. Alycia estava lá também e usava um belo vestido, podia dizer que ela era de boa classe pelo porte se suas joias e pela costura bem feita no tecido de ceda. Seus cabelos estavam presos e um chapéus delicado pendia em sua cabeça. Ela conversava animadamente com Marie, eu quase podia ouvir o som da gargalhada de ambas. Alycia passou a mão pelo rosto de Marie e a mesma olhou para os lados com receio, pegando a mão que estava em seu rosto. Eu me aproximei delas e elas se afastaram depressa. Cumprimentei Marie, mas ela não me reconheceu, nem mesmo Alycia. Elas saíram apressadamente e me deixaram sozinha no meio das ruas do centro de Porto Alegre. Acordei sentindo uma angustia crescente dentro de mim, com uma sensação de formigamento em minhas pernas. Meus pais se despediram cedo, pois ambos tinham uma reunião nessa empresa que aparentemente eles tinham. Eu estava deixando o hospital quando ouvi a voz atrás de mim.

- Eu achei que eu poderia te acompanhar até o quarto. - Me virei e ela sorriu timidamente. Me aproximei e ela jogou os braços em volta de mim em um abraço apertado. Me assustei de início, mas retribui de bom grado e me senti confortável e segura, do mesmo jeito que me senti minutos antes com meus pais. - Desculpa por não ter me despedido ontem, eles não me deixaram entrar e eu imaginei que seus pais passariam a noite contigo. - Ela disse quando nos afastamos.

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