Capítulo 5: Bomba-relógio

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Eu já começara a me acostumar com a rotina de aulas e pensava sobre a aula anterior enquanto olhava a noite se espalhar pelo céu. Eu sorri levemente pensando na roupa que eu vestia e o quanto confortável ela era. Passei as mãos sobre minha calça jeans, peça que eu achava sensacional. Percebi o quanto eu odiava usar aqueles vestidos apertados e calorentos. O tênis bonito e confortável em meus pés, o vento em meu rosto, uma sensação de liberdade me consumindo.

- Fico perguntando-me... - A voz calou meus pensamentos confusos. - Quando eu tinha a metade da idade que tenho hoje, eu imaginava que agora eu estaria em um lugar completamente diferente do que me encontro. - Seus dedos tamborilavam no copo que estava em suas mãos. Seus olhos focados no líquido dentro dele, sua expressão concentrada e seus olhos distantes. - Agora penso que daqui a alguns anos vou estar em um determinado lugar, mas quem me garante que daqui a esses "alguns anos" eu não vou estar em outro completamente diferente? Que eu não vou conseguir de novo aquilo que eu quero? Parece que estar no controle de sua própria vida é uma utopia. - Ela disse e olhou-me pela primeira vez desde que sentara. - Desculpe-me, fiquei jogando pensamentos sem sentido em cima de você do nada. - Ela sorriu, um sorriso contido - É o café, ele me deixa inspirada. - Ela levantou o copo como apresentando-o para mim e logo em seguida bebeu do conteúdo mais uma vez.

-Você sempre está inspirada, então. - Ela sorriu.

-Touché.

- Porém, eu entendo, de verdade. -Ela sorriu sem mostrar os dentes. - E gosto de suas divagações, você me faz confortável sobre as coisas e principalmente sobre as coisas que eu não entendo.

- Você me faz confortável também. - Nós sorrimos por alguns instantes até ficar levemente desconfortável. - Mas então, onde estão suas perguntas inspiradoras dos meus discursos filosóficos?

- Eu... Eu não sei, na verdade. Eu não sei sobre nada. Eu não sei nem onde estou. - Ela riu levemente.

- Já está fazendo piada, ótimo! - Ela riu mais uma vez. - Faz um mês desde seu desmaio e eu estaria preocupada se eu não achasse tão adorável sua confusão e animação sobre as coisas mais simples. - Abaixei a cabeça sentindo o rubor em minhas bochechas sem saber o que responder.

Nos dias que se passaram desde a minha mudança de época, eu aprendi incontáveis coisas novas e me maravilhava com todas elas. As novidades eram diárias e minha antiga realidade parecia um passado cada vez mais distante. Me vi sozinha na minha cidade, mas que agora era total e completamente diferente, com pessoas que eu nunca conhecera, mas eu não me sentia deslocada como eu acho que deveria. Não me sentia sozinha. Não sentia saudades de casa e eu sei que deveria. Não sentia pânico sobre minha inacreditável realidade e eu sei que deveria. E todos os dias eu só pensava: aquele Velho sabe mesmo o que faz.

- Parece que você vai conhecer a Marie hoje. - Ela disse tirando-me novamente de meus pensamentos confusos.

- Sério? Eu estava tão ansiosa para conhecê-la, você e a Lindsay falam tanto dela.

- É uma pena que ela não faça faculdade conosco. -Concordei.

- É por isso que Lindsay acordou tão animada.

- Falando nisso, como vão suas aulas? Você está se adaptando bem? - Ela bebericava seu café como fazia de costume.

- Ah sim! Estou tão animada sobre as aulas. É tudo tão fantástico, eu sempre fui apaixonada pela arte e estou aprendendo todos os aspectos e a história da arte e como tudo está tão conectado. - A empolgação crescente dentro de mim, intensificada pela forma adorável que ela sempre sorria, seus olhos incrivelmente verdes brilhando sobre seu rosto bonito.

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