Capítulo XIX

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Seria muita burrice da minha parte insistir para fazer o exame toxicológico que eu pedira equivocado que Bea marcasse para mim. Se Melissa havia mesmo utilizado alguma substância em meu uísque que me fizera dormir, o que tenho quase certeza que aconteceu, meu corpo já deveria ter expelido semanas atrás. Bom, pelo menos não teria mais agulhas me perfurando, o que eu odeio por um trauma de infância em que enfermeiras incompetentes não conseguiram localizar com precisão a veia de um menino de sete anos e por esse motivo fui espetado doze vezes com agulhas diversas. Ainda sinto meu braço latejar cada vez que me lembro.

Rolei na cama pelos menos umas cinco vezes lutando pra não levantar, pensando em como seriam meus dias dali pra frente. Sabia que a palavra-chave era "estressante". Melissa perceberia se eu continuasse dormindo fora continuamente, logo não me deixaria em paz fazendo perguntas e acusações, assim não poderia passar muito tempo fora do escritório nem dormir com Bea, então ela ficaria muito infeliz, o que me deixaria infeliz também. Por isso minha conclusão foi que a minha vida era um pesadelo.

Desci para tomar o café após o banho e tudo já se encontrava servido e inclusive o estorvo da Melissa. Revirei meus olhos ao vê-la e caminhei diretamente para a outra ponta da mesa.

-Ansioso?- Ela me encarou sorrindo. Eu já deveria esperar alguma provocação de sua parte, Melissa sempre perde as chances de ouro de ficar calada.

-Me poupe.- Não me sentei, pois não queria lhe fazer companhia. Apenas peguei um pão francês e uma xícara de café os devorando de pé mesmo.

-Sua mãe estará lá nos esperando.- Limpou seus lábios com um guardanapo de pano.

-Por que?- A olhei entediado.

-Ela quer saber sobre o futuro neto.- Disse cinicamente acariciando a barriga- É um direito dela.

-Venhalogo, então.- Dei as costas à Melissa e andei arrogante até o carro que estava esperando na frente da casa.

Sentei no banco da frente, ficando longe de Melissa e não deixei que Steven fosse abrir a porta para ela, aquela mulher não merecia nem uma gota da educação de ninguém.

-Dá próxima vez que não abrir a porta do carro já pode começar a procurar outro emprego, Alfred.- Melissa disse do modo grosseiro.

-Me perdoe, senho...

-Não.- O interrompi- Em primeiro lugar, o nome dele é Steven e em segundo, é um funcionário meu e não está aqui para servi-la, se não está satisfeita sugiro que desça do carro imediatamente e vá andando até a clínica, pois não vai tocar em nenhum dos meus preciosos carros.

Melissa me olhou boquiaberta e notei o esforço que Steven fez para não rir, ninguém daquela casa gostava dela. Durante a viagem senti meu celular vibrar no bolso do terno, não esperava, mas recebi uma mensagem de Bea.

"Esse lugar não é o mesmo sem você."

Sorri encarando o visor do celular. Alguém finalmente conseguiu me fazer sentir bem naquele momento bizarro de tensão.

"Sinto sua ausência. Mas logo teremos muito o que fazer juntos, e não falo apenas sobre o trabalho."

Respondi ainda com aquele sorriso bobo sem perceber.

-Boas notícias, Nicolas?- Melissa perguntou.

-Sim.- E o mau humor voltara.

-Sobre o que?- Ela se inclinou para tentar, mas eu o aguardei.

-Negócios. Você não entenderia. É um assunto que vai além de bolsas caras e cirurgias plásticas.-Olhei para frente.

-Grosso.- A vi franzir a testa.

Just be Mine | Livro I | Série "Mine"Onde as histórias ganham vida. Descobre agora