Capítulo I

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Já faz onze anos que meu pai faleceu. Onze anos na frente da Auto Hans Co. Onze anos da pior época da minha vida. Quando me sento em meu escritório e penso nisso sinto vontade voltar ao passado e renunciar o que fiz. Eu queria a empresa, mas não queria me casar. Pelo menos não com Melissa. Se não fosse pelo meu pai... Lembro me daquele dia como se acontecesse todas as noites antes de dormir.

Eu ainda estava com vinte e um anos, concluindo minha graduação em economia, foi como se tudo já estivesse arquitetado minha vida inteira. Thomas Hans, meu pai, adoeceu por conta de um câncer que destruiu seus pulmões. Não foi por falta de aviso, por conta do estresse ele soltava fumaça mais que uma chaminé. Estava fraco, quase perdendo sua lucidez e com seus dias literalmente contados. Minha mãe, Dra. Ellen Hans, pediu que eu fosse visitá-lo pois nós dois precisaríamos ter essa conversa cedo ou tarde. Sobre os negócios da empresa.

Assim fiz, apesar de ainda acreditar que tudo ficaria bem e meu pai se recuperaria. Eu não me sentia ainda pronto para cuidar de todos os negócios da família, mas ele dependia de mim. Quando entrei no quarto senti o coração apertar ao ver meu pai entristecido ligado aos aparelhos olhando vagamente pela janela de seu quarto. Bati levemente na porta para não assustá-lo.

-Filho!?- Ele disse sem virar o rosto.

-Como sabia que era eu?- Me aproximei de sua cama.

-Eu sempre sei quando se trata de você.- Pude ver seu sorriso enfraquecido.

-Minha mãe disse que queria me ver. Aconteceu alguma coisa?- Preferi fingir não saber.

-Você sabe que eu tenho pouco tempo, filho.- Sua fala era quase fúnebre de tão vagarosa- Nicolas, você é o único com quem posso contar para continuar com aquela empresa. Não confio em ninguém que não seja você, então me prometa que não irá deixar ninguém derrubar o que construímos sozinhos.

-Pai, eu...

-Shh...- Ele me interrompeu segurando minha mão- EU sei melhor que qualquer outra pessoa que você está mais do que pronto para assumir o meu lugar, Nicolas. Nós o criamos pra isso. Confio piamente em seu potencial.

Aquelas belas palavras de meu pai me tocaram, naquela época acho que ainda tinha um pouco de sentimentalismo dentro de mim, eu não podia dizer não e acabar com todo o esforço e luta de meu pai para erguer a empresa por medo meu.

-Tudo bem, pai. Pode contar comi...- Fui interrompido.

-Não é só isso, Nicolas.

-Como assim?- Franzi a testa.

-Um velho como eu só quer ter garantias que a nossa linhagem não vai acabar em você, não é mesmo filho!?- Thomas apertou os olhos como se estivesse sorrindo- Quero que se case primeiro, antes de assumir a empresa.

-O quê!?- De repente me senti sufocado.

-Você já é um adulto. Está na hora de se casar e começar sua própria família. É meu último desejo antes de partir.

-Mas, pai...

-Não.- Ele levantou o indicador- Apenas pense nisso, depois conversaremos mais.

-O horário de visitas acabou.- Uma enfermeira entrou no quarto.

Voltei para minha casa com a cabeça fora do lugar. Achei um absurdo o pedido dele, eu pensava "como vou achar uma noiva tão rápido?". Decidi então compartilhar minha indignação com a minha mãe, o que acabou não sendo uma boa ideia. Ela já tinha tudo planejado com meu pai, caso eu aceitasse a proposta. Ultrajante é a palavra que melhor define aquele dia. "Um casamento arranjado? Por favor! Em que século acha que estamos?". Enfim, foi uma discussão terrível que tive com ela. Mas depois de tudo minha mãe ainda conseguiu virar o jogo e fazer eu me sentir culpado.

Just be Mine | Livro I | Série "Mine"Onde as histórias ganham vida. Descobre agora