Capítulo XV

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Três dias. Setenta e duas horas. Quatro mil trezentos e vinte minutos. Duzentos e cinquenta e nove mil e duzentos segundos. Eu contei cada momento em que fiquei sem ela, hoje tenho certeza que foram os dias mais longos e dolorosos da minha vida. Evitar contato direto com Bea foi o único jeito que encontrei para não acabar cedendo ao meu desejo de agarrá-la e dizer o quanto a amava... Sentia como se estivesse no fundo do oceano, preso a uma âncora, prendendo a respiração até não aguentar mais. Além do trabalho não existia mais vida, se eu ficasse desocupado por apenas um minuto minha mente se enchia de lembranças e vontades todas elas a envolvendo. Bea não estava facilitando nada para ambos, enviou dezenas de e-mails e mensagens, me ligava em seu tempo livre, principalmente à noite, mas eu sempre fingia não ver.

Sexta-feira, 07:45 da manhã acordei para trabalhar, mas estava indisposto devido aos fatos decorrentes. Só me restavam mais alguns dias de paz, a chegada de Melissa era próxima. Optei por chegar um pouco mais tarde no trabalho, afinal não perdia absolutamente nada. Saí da cama lentamente, escovei os dentes e desci ainda de pijamas pra tomar o café em casa após dias sem fazê-lo. Torradas quentinhas, ovos benedict com prosciutto di Parma... Magnífico! Em contra partida meu macchiato... Eca! Depois de degustar o que a Bea costumava fazer pra mim nunca mais consegui beber outro que não fosse o dela, só um café expresso estava de bom tamanho.

Quis assistir um pouco de TV, segui para minha sala escura especial com um home theater e um televisor 3D de cinquenta polegadas. Precisava de um pouco de ação, esportes, violência! Qualquer coisa que fizesse eu me distrair do romantismo e melancolia de cada dia. Olhei a hora, 10:57. Hora de me arrumar. Voltei ao meu quarto sem pressa, aproveitei um banho de banheira demorado, fiz a barba, arrumei impecavelmente meu visual como sempre fizera, só então liguei para que Steven viesse me buscar. Com isso tudo o relógio já marcava 12: 48, por acaso foi a hora em que cheguei lá.

Desci do carro e com meu andar indômito segui até minha sala apenas acenando com a cabeça aos milhares de "bom dia" que surgiam pelo caminho. Enquanto eu não a via meus pensamentos continuavam no lugar e assim eu era apenas o bom e clássico Nicolas Hans. Um homem rigorosamente de negócios. Abri a porta para ingressar novamente em meu universo particular. Sofri um breve ataque cardíaco.

-O que está fazendo aqui, mãe?- Disse estupefato.

-Isso não é jeito de falar com a sua mãe!- Ela se levantou do meu sofá.

-Não estava viajando?- Recompus minha sanidade e caminhei até minha mesa.

-Sim, mas resolvi tirar um tempo para dedicar ao meu filho favorito.- Revirei os olhos.

-Sou seu único filho.- Disse seriamente me sentando- Sei bem que você é como Melissa, só me procuram quando querem algo. Por isso se dão tão bem. Diga o que quer!

Mesmo anos depois e eu ainda não era capaz de superar a desgraça que minha mãe auxiliou a deixar acontecer em minha vida.

-Fiquei sabendo sobre o bebê, estou muito orgulhosa de você.- Quanta animação.

-Como sabe sobre isso?- Semicerrei os olhos.

-Melissa me contou, já que parece que você não tem mãe e não me conta nada sobre a sua vida.- Óbvio.

-Não sabemos se é verdade.- Fiquei sério.

-Claro que é querido. Vocês são casados há tanto tempo, não há do que sentir vergonha. Ter um filho é tão natural.- Ela se levantou- E convenhamos, já passou da hora de me dar uns netos.

-Não é natural quando o casal nunca transou.- Franzi a testa. Minha mãe riu.

-Não precisa ter vergonha da sua mãe.- Balançou a cabeça negativamente- Na verdade eu tenho alguns assuntos pra cuidar por aqui, gostaria de almoçar com você hoje, querido.

Just be Mine | Livro I | Série "Mine"Onde as histórias ganham vida. Descobre agora