O delírio de Tara

23 4 0
                                    

Algumas horas tinham se passado, ou pelo menos era isso que elas achavam, desde que tinham mergulhado num autêntico cenário de um filme de terror. As palavras daquela aterradora voz ainda estavam bem presentes na cabeça de Tara.

Nos últimos dias, a vida de Tara não tinha sido das melhores. Tudo começara graças a sua curiosidade extrema, decidira investigar a fundo Thomas e implementara escutas pelo Quartel-General. Ficou a saber de diversos pontos, dos quais nem fazia ideia, mas sabia de mais.

No entanto, Thomas não estava para brincadeiras e fê-la pagar bem caro por tudo. Ela conseguira escapar a Arena, seria também capaz de escapar a este jogo doentio em que se via envolvida?

- Ainda não me explicaste como vieste cá parar, Melissa- constatou Selena, bastante curiosa

- Que queres que te diga? Estavamos a conversar, tentaram raptar-te e eu vim atrás. Foi só isso.- esclareceu Melissa

No entanto, Selena ainda não estava convencida.

- Diz-me só a verdade. És um anjo?

- Eu não mas- Melissa hesitou mas lá cedeu- a Amanda era, quer dizer, a mãe da Amanda era.

- Por essa é que não esperava- comentou Tara sarcasticamente, com o intuito de se intrometer na conversa.

No entanto, a intervenção de Tara de nada lhe serviu já que foi ignorada por ambas e que lhe foi dirigido um rígido olhar de censura pela parte de Lucy.

O confronto entre Melissa e Selena estava ainda apenas no inicio quando a voz decidiu voltar para as atormentar.

- Abre-se uma porta, fecha-se uma janela- comentou ele sarcasticamente e soltando gargalhadas diabólicas, embora, nenhuma das reféns tenha entendido nada mas nem isso a inibiu de prosseguir- Pois bem, minhas lindas, ao fim de menos de uma hora aí dentro vocês sentem que passou horas, não é? Eu só vim dizer que o meu jogo vai começar. Quem quer ser a primeira a lançar os dados- faz uma pausa diabólica e prossegue- Não precisam de escolher. Eu já escolhi a minha primeira vitima.- anuncia de forma aterradora- Não saiam daí... já me esquecia vocês não tem outro remédio- diz, sendo irónico e soltando uma gargalhada intimidante.

Após aquelas breves palavras da Voz, Tara começou a sentir-se tonta, a perder o controlo de si mesma e cada vez que tentava se encostar a parede e cerrava as pálpebras, aparecia-lhe sempre a mesma imagem... era Nair.

O medo de voltar a vislumbrar o rosto da própria filha e de ouvir qualquer palavra que ela proferia, estavam a levar Tara a não dormir nem a piscar os olhos. Lucy que estava bastante espantada com todo o cenário que estavam a enfrentar, foi a primeira a reparar na situação débil da mãe de Nair. Tentou ajudá-la mas rapidamente percebeu quem tinha sido a primeira escolha daquela pessoa que comandava este jogo macabro.

- Como te sentes, Tara?- questionou Lucy visivelmente preocupada e assustada com o facto de poder ser a próxima.

- Que pergunta estúpida Lucy. Queres o quê? Que me ponha aqui a descrever todos os meus estados de espirito? Devias te preocupar era em procurar algo que me ajude- censurou Tara

- Algo que te ajude? Como assim?

- Olha a tua volta, sua songamonga, isto está recheado de coisas. Algo deve ter para me ajudar, não achas?- retorquiu Tara, sendo desagradável para com Lucy

No entanto, Lucy estava demasiado assustada com a situação para ligar aos insultos de Tara e decidiu empenhar-se na procura de um possível antídoto ou algo que servisse para o mesmo efeito.

Revistou gavetas e mais gavetas até que encontrou uma pequena caixa de madeira em que estava inscrito "Sanitatum"(Cura em latim).

- Selena, Melissa ajudem-me aqui a abrir esta caixa- pediu Lucy, deixando escapar um desespero notável na sua tremida voz

Selena segurou na velha caixa e tentou perceber como a conseguiriam abrir. Não tinha fechadura nem nada que se parecesse. As três foram procurando o estranho mecanismo que iria abrir a caixa enquanto Tara continuava a desfalecer no canto daquele compartimento.

Ao fim de várias tentativas para abrir, soou na sala mais uma intervenção da voz.

- Aprecio muito o vosso trabalho de equipa mas tenho uma sugestão. Pensem como se fossem uma caixa e mais não digo. Até já- despediu-se, soltando uma longa gargalhada diabólica

- Acho que já entendi o que é preciso para a caixa abrir.- afirmou Melissa ostentando um sorriso vitorioso e uma postura confiante

- O quê?- perguntaram mãe e filha em uníssono

- O que ainda ninguém fez- Dito isto, Melissa atirou a caixa violentamente contra o chão, perante a expressão horrorizada de Lucy e o espanto de Selena- Assim se fazem as coisas.

Rapidamente, Lucy recolheu o conteúdo daquela caixa. Era uma seringa esquisita que continha uma espécie de líquido vermelho e amarelo. Sem hesitar, a mãe de Selena espetou a seringa no ombro de Tara.

No inicio, Tara começou a reagir normalmente e a conseguir voltar a tomar controlo de si mesma mas sem aviso prévio, uma radiação sonora invade a sua mente e começa a fazer notar-se. Tara começa a não aguentar o peso da sua cabeça, começa a sentir fortes dores no corpo e a ficar esbranquiçada.

- Que lhe fiz eu?!- questiona Lucy bastante intrigada e decepcionada consigo própria

- Acho que deu para ver que não podemos confiar nos objetos desta sala.- afirmou prontamente Selena

- E que vamos fazer agora- quis saber Melissa

- Acho que está na hora de eu atuar, por muito que me custe- afirmou Lucy

- Atuar? Como assim?- quis saber Selena

Lucy nem respondeu a filha pois, nessa altura, já ela estava a fazer uso do seu poder secundário. Ergueu as mãos em direção de Tara e das suas mãos saíram labaredas flamejantes que atingiram Tara.

- Mãeeeeeeeee.... Que foste fazer?- reagiu Selena horrorizada.

Por momentos Lucy esqueceu-se de tudo e focou-se no simples facto de pela primeira vez, desde que a voltara a ver, Selena chamara-lhe mãe mas os gritos de desespero de Selena voltaram a transporta-la para a realidade.

- Acredita em mim, eu sei o que fiz- afirmou Lucy, tentando transmitir uma mensagem de esperança já que, na verdade, nem ela tinha tanta certeza do que acabara de fazer.

Guardiões do SubsoloWhere stories live. Discover now