Um Segredo Revelado

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Na manha seguinte foi concebida alta a Selena. A enfermeira Lúcia passou no seu quarto e ajudou-a a vestir-se. Selena sentia-se substancialmente melhor. As dores no corpo tinham desaparecido e já não sentia que a sua cabeça ia explodir. Tinha, no entanto, a sensação de um vazio dentro de si, como se uma parte do seu ser tivesse desaparecido, e Selena tinha razão. O facto de não se lembrar dos acontecimentos recentes estava a dar com ela em doida. Sempre fora da natureza de Selena querer saber tudo o que acontecia, não importava o quão desinteressante pudesse ser. Antes de Selena abandonar o quarto, Bill, o médico responsável por ela, receitou-lhe uma lista de medicamentos para ajudar a sua recuperação e para não fazer esforços. No fim brincou com a queda de Selena na noite anterior e aconselhou-a a ter cuidado para não aparecer novamente tão cedo naquele hospital. Selena estava finalmente libertada da prisão onde tinha mergulhado nos últimos dias. Chegou a pensar que a alta seria adiada tendo em conta o que sucedera na noite anterior mas o Dr.Bill era um homem sensato. Antes de se dirigir para o exterior do Hospital, decidira visitar este sítio. Selena nunca ouvira falar deste hospital, nunca o tinha visto e passara por esta morada várias vezes, o que fazia Selena se questionar como teria ido lá parar. Estava a preparar-se para dizer adeus a este hospital quando um braço lhe trava o caminho. - Menina Duncan- chamou o homem que apertava o braço dela- Vai se embora e nem cumprimenta o diretor do Hospital? - Desculpe. Mas é que eu nem sei quem é o raio do homem... que vou lá eu fazer?- dito isto, desprende-se com toda a força e tentou arredar pé para fora do hospital.

Suspirando de alívio, Selena dirigiu-se até ao táxi mais próximo, mas sem antes, olhar dos dois lados para verificar se o estranho a seguira. Após ter a certeza de que tal não acontecia, entrou dentro do táxi e ordenou o motorista a ir em direção a Middle Street, onde estava a sua casa. No entanto, o taxista mantem-se sereno e calmo e sem intenções de avançar. Desesperada e ainda receosa de o encontro de ao bocado, Selena grita-lhe para se despachar. Quando ela vê que o condutor do táxi é o segurança que a pouco a tentara obrigar a ir cumprimentar o diretor do hospital, Selena desespera, emitindo gritos e esbracejando velozmente mas sabia que nada disso iria atrair a atenção das pessoas. Para contrastar com o desespero de Selena, Damian, o taxista, continuava pálido e sereno. Ao ver a situação de Selena descontrolar-se, Damian tenta explicar a jovem que é enviado do Mensageiro. Irrequieta, Selena manifesta a sua preocupação.

- Como sei que diz a verdade? Encarando rosto de Selena através do retrovisor, Damian calmamente responde.

- Não sabe. Terá que confiar em mim.

Selena estacou por breves segundos e repetiu várias a resposta de Damian na sua mente. Confiança era algo inaceitável desde que Amanda morreu e o mundo de Selena virou de cabeça para baixo. Selena tentou abrir discretamente a porta assim que reparou que Damian já não estava de olhos fixos nela. Mas foi em vão pois as portas estavam trancadas. Quando finalmente desistiu e assumiu para si própria que não havia fuga, Damian arrancou o carro e seguiu na direção oposta a do que Selena lhe indicara.

- Para onde me vai levar? - Perguntou Selena tentando disfarçar o receio na sua voz.

- Não precisa de se preocupar. Não lhe vamos fazer mal. - Respondeu não desviando os seus olhos da estrada.

Mesmo desconfiada, Selena não fez mais perguntas. Ainda lhe passara pela cabeça tentar tomar controlo do carro mas sabia que ao fazer isso estaria a por tanto a vida de Damian como a sua em risco. O som do motor a trabalhar dissipou-se. Selena encarou um enorme muro de tijolos acompanhado das traseiras de dois humildes prédios. Confusa, Selena olhou para Damian em busca de uma resposta mas tudo o que obteve foi uma luz forte vinda do muro.

- A nossa viagem ainda não acabou Senhorita Duncan. Apavorada, Selena encostou-se banco o máximo que podia. A luz parecia querer cega-la de tao intensa ser. Silenciosamente, Damian saiu do carro e Selena não hesitou em fazer o mesmo.

- O que é que é isto? - Perguntou Selena.

- Saberá se vier comigo. - Respondeu Damian estendendo-lhe a mão.

Selena ficou reticente. - E se aquilo modificar as minhas moléculas e eu ficar desformada?

Damian não evitou rir-se da estupidez que Selena tinha acabado de dizer, embora ela não estivesse a brincar. No entanto Damian não deu escolha a Selena e puxou-a consigo em direção a luz. A jovem tentou soltar-se mas estava em clara desvantagem e quando dera por si já não via mais nada sem ser a luz. Damian já não estava a sua beira e agora Selena sentia-se em queda livre em direção ao nada. Foi então que o seu corpo deixou de cair e embateu em algo fofo.

Olhou em sua volta e viu-se numa grande sala. Num lado da sala estavam um conjunto de computadores e uma grande tela. O mesmo cenário repetia-se no centro da sala. Selena esta em cima de um grande sofá.

- Onde é que eu estou? - Perguntou num murmúrio ainda observando a sala.

Os seus olhos pararam num corpo que agora estava a sua frente.

- Bem vinda ao Paraíso, Selena Duncan.

Franziu as sobrancelhas confusa e encarou o rapaz. - Sempre imaginei o paraíso como uma paisagem agradável e não um Quartel. Estou a alucinar não estou? Aposto que é mais um daqueles sonhos estranhos que tenho tido. - Lamento desiludi-la mas em tempos de guerra, não pode esperar uma paisagem agradável. Devia ficar contente por lhe ter sido acedido o direito de descer ao Quartel da Spero Mortius, olhe que o Blood Angel não permite esse privilégio a toda a gente.- retorquiu o rapaz, devia ter uns 20 e poucos, com loiros cabelos, baixo mas bastante forte mas com uma arrogância e altivez, que em nada agradara Selena. - Em tempos de guerra? Segundo o que sempre me constou, o Céu andava pacifico. O meu guardião era...

Selena fora interrompida pela intervenção ameaçadora do tal Blood Angel, um homem enfiado dentro de um fato vermelho parecido sair de um filme de super heróis.

- Selena, nós sabemos bem quem é o teu guardião. Ele é o causador de toda esta guerra. E é por isso que cá estas.

- Caro Anjo das cuecas rotas- Parou, quando percebeu que a sua intervenção não tinha tido o efeito desejado, quebrar o gelo- Mas como raio você sabe quem eu sou? Foi afastada daqui desde o assassinato do meu querido pai.

- Selena, eu sei tudo o que possas imaginar sobre ti... Porque eu sou o teu pai.

Por um momento, tudo deixou de fazer sentido para Selena. Tentou beliscar-se múltiplas vezes até chegar a conclusão que não era mais um sonho, era a dura realidade. A sua frente estava um homem que dizia ser seu pai, que se chamava Blood Angel e chefiava uma resistência contra Conan. Apeteceu-lhe pedir provas, mostrar-lhe que desconfiava do que ele afirmava mas preferiu alimentar a réstia de esperança, de que o pai estaria mesmo vivo. Blood Angel continuou, sempre com o seu tom de voz ameaçador e ponderado, a falar das tácticas de guerra para conquistar o poder, a convencer as pessoas a se juntarem a Spero Mortius e a alimentar o ódio que todos sentiam por Conan e os outros Anjos do poder. No final de tudo, Blood Angel dirigiu-se até a sua filha, Selena, que estava cabisbaixa e ainda surpreendida com a inesperada revelação. Um Thomas velho, desfigurado e acabado tentou afagar-lhe os longos cabelos negros mas a reação de Selena foi uma enorme repulsa, não estava preparada para aceitar carinhos do pai, antes de perceber o que levou a todas as decisões que ele tomara. Como perspicaz leitor de mentes, Thomas percebeu o que pensava a filha e preparava-se para lhe narrar tudo o que acontecera nestes 25 anos, após o seu assassinato.

- Acho que te entendo. Não é justo para ti que tenha vivido na sombra, durante estes anos todos. E que agora regresse e que exige que tu me acolhes de braços abertos, como se tivesse ido apenas numa simples viagem de trabalho. Devo te uma explicação e quero te a dar. Estarás disposta a ouvir-me?

- Pai, não há nada mais neste mundo que eu queira neste momento que não seja ouvir o que te levou a fingir te de morto em quanto fiquei a responsabilidade do teu assassino. O egoísmo que te levou a fazer isto, estou ansiosa para perceber tudo isso.

- Ainda bem. Começo então- afirmou o pai, de alivio

- Deixa-me só dizer que acho que qualquer que seja o motivo que tenhas, não será aceitável o que fizeste. Mas quero ouvir, sair da tua boca, a história de tudo.

Guardiões do SubsoloWhere stories live. Discover now