19. SUSTO

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PEDRO

Sei que as coisas mudaram quando Agatha passa por mim durante o intervalo entre as aulas e finge não me conhecer, mas aceito bem a nossa nova situação. Apesar de ser tarde para evitar mais estragos da sua presença na minha vida, porque Alexandra parece ter ficado mais irritada do que já era comigo após ver o beijo entre nós, fico aliviado de que minha ex-namorada esteja voluntariamente se afastando.

—Para dois ex-namorados, vocês realmente agem como se nunca tivessem se visto na vida. — Leandro acaba comentando.

Apesar de ele não me conhecer quando eu namorava Agatha, falei para ele e os outros caras o que rolou entre nós depois de ela ter me procurado na casa do Anderson há semanas.

—E, para mim, isso é ótimo. —Dou de ombros.

Não falei para ninguém sobre a última que ela aprontou comigo, já que eles também não sabem que alguma coisa estava acontecendo entre Alexandra e eu desde o meu aniversário, por motivos óbvios de: Anderson é ciumento pra caralho.

—É isso aí, Pedro. —Gustavo estende a mão para que troquemos um soquinho. —Se ex fosse bom não era ex.

Restam apenas cinco minutos do intervalo antes da última aula e nós estamos ocupando um dos bancos do largo da faculdade. Enquanto termino um picolé, porque Horizonte do Norte deu para ser uma cidade extremamente quente da noite para o dia, Gustavo e Leandro esperam por Anderson, que foi à cantina para comprar salgados.

—Do jeito que tá demorando, estou achando que foi ele mesmo fabricar os salgados. —Gustavo reclama, impaciente.

—Por que a gente não vai até lá? —Sempre pacificador, Leandro propõe.

Jogo o palito do picolé no lixo e decido ir com eles, mas, na verdade, nem sequer precisamos ir até a cantina para encontrar Anderson na frente do bloco dois, com o papel pardo dos salgados pendendo em mão enquanto a outra segura o celular na orelha.

—Ah, lá, o mané! Aposto que está perdendo tempo com alguma garota. —Guga volta a reclamar. —Ô Anderson!

Diferente do que Gustavo pensa, mesmo de longe consigo notar uma agitação incomum em Anderson e, quando nos aproximamos e começamos a ouvir o que ele diz para a outra pessoa ao telefone, entendo o porquê.

—Alex, cala a boca e me escuta! —Diz ele. —Quando você desligar, chame a Bárbara e peça para ela ir te encontrar no hospital. Com uma adulta aí, eles certamente dirão o que está acontecendo.

Eu, Leandro e Gustavo trocamos olhares confusos, embora seja óbvio que se trata de alguma coisa séria.

—Eu vou encontrar vocês, mas fica calma. —Continua Anderson, passando uma mão pelos cachos do cabelo preso com uma bandana. —Só fica calma, está bem? —Depois disso ele encerra a chamada e enfim nota a nossa presença. Parece estar tentando se conter para não parecer muito agoniado. —Desculpem, eu comprei os salgados, mas a Alex me ligou com uma emergência. —Ele entrega o papel pardo para Guga, que, de repente, parece envergonhado de ter se zangado com a demora.

—Deixa pra lá. —Gustavo encolhe os ombros, preocupado.

—Por acaso aconteceu alguma coisa com a Alexandra? —Não consigo conter a pergunta.

Anderson me olha com um pouco de curiosidade. É um olhar que ele anda me lançando desde cedo, quando encontramos sua irmã caçula na cozinha e ela me encarou como se quisesse me incinerar. 

—A Alex está bem, mas parece que a Ramona passou mal. —Anderson explica. — Ninguém disse nada para a Alex sobre o que ela tem, então preciso ir encontrar as duas no hospital. Tem como algum de vocês me dar uma carona até lá?

FOGO ENCONTRA GASOLINA [COMPLETO]Where stories live. Discover now