08. PRELÚDIO DE DESASTRE

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PEDRO

As aulas na faculdade e as fugas das investidas de minha ex-namorada começam a roubar o meu tempo e acabo demorando a reencontrar Alexandra. Depois de tê-la pego espionando minha conversa com Agatha e se lançando no chão de seu quarto de madrugada, só volto a ver minha vizinha no estacionamento do colégio em que ela e minha irmã estudam, mas nós dois não trocamos uma palavra sequer. Primeiro porque sou abordado por Ariana, a garota que conheci enquanto esperava Mariana no estacionamento certa vez, e depois porque ela está ocupada conversando com um rapaz.

Quando ocorre de nós dois finalmente conversarmos, é porque Alexandra inesperadamente me chama. Hoje, de modo incomum, estou dedilhando o meu violão na entrada de casa, o que pode ou não ter sido uma estratégia de fingir indiferença apenas para vê-la chegar em casa. Mas acaba que Alexandra me aborda.

Vestindo o uniforme extremamente vermelho da Fernão Moreira, com uma mochila pendendo em um dos ombros e os cabelos castanho-claros soltos na cascata de sempre, Alexandra cruza os braços e me encara com seus olhos castanhos esverdeados e o nariz arrebitado.

—Nós dois podemos conversar?

Apesar da postura passivo-agressiva, Alexandra parece nervosa ao fazer essa pergunta, o que me chama especial atenção. Com um assovio de mal presságio, deixo o meu violão de lado e arqueio uma sobrancelha ao olhá-la de volta.

—Conversar sobre o quê? — Questiono, tentando fingir desinteresse. —Caso você não tenha notado, Alexandra, eu estou um pouco ocupado no momento —, indico o meu violão.

—Não se preocupe—, ela retruca. — Eu só quero te pedir uma coisa. Basta aceitar e a conversa se encerra num minuto.

Saber disso só amplia a minha curiosidade.

—Que coisa? — Mando o meu desinteresse fingido para longe.

Como se estivesse prestes a me pedir algo muito secreto, Alexandra atravessa a pouca distância que nos separa e se senta no mesmo degrau que eu, voltando-se para me encarar de perto.

—Talvez soe estranho ou constrangedor, mas eu quero que guarde segredo sobre ter me visto com alguém no estacionamento e não conte para o meu irmão.

Ela parece um tanto desesperada enquanto me olha à espera de uma resposta, o que sustenta que o seu pedido é sério, mas não consigo tratá-lo dessa forma e acabo rindo.

—Quantos anos você tem? — Indago —Nove?

—Talvez essa seja mesmo a minha idade para o Anderson. — Ela retruca. — Caso você ainda não tenha notado, o que acho difícil, o meu irmão é superprotetor. Portanto, você deve se manter quieto. —Seu tom é exigente demais para alguém fazendo um pedido, coisa que ela deve perceber, pois acrescenta: —Por favor, Pedro.

Quase cedo de primeira e assinto em concordância, mas conhecendo a minha vizinha e sabendo o quanto ela adora me evitar, decido usar o trunfo que consegui como uma maneira de mantê-la por perto.

—Infelizmente, eu não sei se posso fazer isso, Alexandra.

Se torna difícil evitar um sorrisinho quando a vejo se enfurecer diante de mim. Primeiro o seu nariz se franze, depois ela cerra os punhos e então Alexandra se põe de pé e me encara de cima:

—Por que não?

—Porque também sou irmão mais velho e gostaria que me avisassem se a Mari estivesse aos cochichos com um estranho, sozinha. Além disso, sou amigo do Anderson, como bem sabe.

FOGO ENCONTRA GASOLINA [COMPLETO]Where stories live. Discover now