03. FUTURO NAMORADO

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ALEXANDRA

A noite anterior volta à minha mente tão logo aceito que não posso mais atrasar o meu despertador pela quarta vez por cinco minutos, se quiser chegar no colégio no horário.

Depois de me levar para o Ártemis, Pedro me trouxe para casa e nós nos despedimos de forma breve e um tanto robótica. A verdade é que, apesar de ele ter me salvo sem ao menos me conhecer e de ter sido gentil, eu mal o conheço. Simplesmente não tinha como não ser estranho.

Sento-me na cama, sabendo que não posso mais ficar procrastinando. Sem querer, olho pela varanda na direção da casa ao lado por um momento, perguntando-me se Pedro chegou sem problemas da calçada até o seu quarto, mas balanço a cabeça em negação para espantar o pensamento.

Uma das poucas sortes da noite anterior que tive foi não ter sido pega no flagra por Ramona. Sinceramente, se isso ainda houvesse acontecido depois de todo o martírio causado pelo nojento do Marcos...

Levo um susto repentino quando alguém bate na porta do meu quarto com força.

—Anda logo, Alex! — A voz de Ramona soa do corredor. — Desse jeito, nós duas vamos chegar atrasadas, só que quem corre o risco de perder o emprego sou eu!

Acabo revirando os olhos. No quesito drama, a minha irmã só perde mesmo para a Charlotte.

—Já estou indo!

Ainda tenho quase meia-hora de resto antes de ficar atrasada de verdade quando termino de me arrumar para o primeiro dia. Banho, dentes escovados, uniforme vermelho e brega da Fernão Moreira, All Star gasto.... Não tenho tempo para tentar esconder as minhas olheiras pela noite mal dormida, então apenas as ignoro. Prendo o cabelo em um rabo de cavalo lateral, pego a minha mochila e então saio rumo ao andar térreo da casa.

—Pronto, nós já podemos ir—, eu encontro Ramona na cozinha. — Onde está o Anderson? Ele ainda não acordou?

—Lá fora, com uns amigos—, ela me joga uma maçã ao passar por mim para colocar sua xícara de café na pia. — Nada de sair sem café-da-manhã. Sabe que só pode tomar o seu remédio se comer, — ela me adverte em tom maternal. —Aliás, você não se esqueceu de colocar o remédio na mochila, né?

—Mesmo se eu me esquecer, a madrinha sempre anda com uma caixa. É só eu ir fazer uma visitinha à diretora do colégio—, sorrio de modo diabólico, apenas para provocá-la.

—Por favor, não —, minha irmã pega sua bolsa sobre a cadeira e então passa a me empurrar em direção à saída.

—Chata!

—Boba!

Ramona e eu saímos de casa e não demoramos a avistar Anderson na calçada, junto de um cara que logo reconheço como sendo Pedro, e isso me faz simplesmente estancar. O que esses dois estão fazendo juntos? O vizinho não está apenas me entregando depois de tudo, está? Logo agora que estava certa de ter conseguido me safar pela fuga para a festa...

—Anderson, nós já estamos indo! — Ramona grita, chamando a atenção dos dois rapazes.

No momento em que os olhos castanhos de Pedro encontram os meus, eu quase entro em parafuso. Há um alerta vermelho na minha cabeça que me manda correr; fugir da situação complicada que, até agora, só existe na minha cabeça. Entretanto, minhas pernas não obedecem. Eu fico estancada no mesmo lugar.

Sinceramente, se Anderson fosse como um bom irmão ele apenas acenaria e nos deixaria ir embora facilmente, mas não: ele tinha que se aproximar de Ramona e eu, trazendo em seu encalço o Pedro.

FOGO ENCONTRA GASOLINA [COMPLETO]Where stories live. Discover now