05. VISITA INESPERADA

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ALEXANDRA

—Não entendo o porquê de ter que voltar a fazer isso—, reclamo, olhando a diretora Bárbara pelo canto do olho enquanto ela dirige. — Tenho quase dezoito anos. Já sou uma adulta.

Minha madrinha parece estar se controlando para não me dar mais um sermão como o de mais cedo, quando fui levada para a diretoria após quase quebrar o nariz da Ariana. Em minha defesa, declaro que foi ela quem começou a me provocar e que eu nunca pretendi bater com tanta força. Foi um completo acidente.

—Se fosse uma adulta mesmo, não agiria feito uma selvagem—, Bárbara retruca, ainda soando muito mais como a diretora do colégio que como a minha madrinha. Ao contrário do que Charlotte parece achar, ela sabe dividir bem os papéis.

Decido assim que não vale a pena tentar argumentar com ela e fico em silêncio até chegarmos ao nosso destino: um prédio de fachada em tons pastéis e janelas de vidro fumê.

—Boa tarde, Eliza—, Bárbara cumprimenta uma das secretárias assim que nos aproximamos do balcão de atendimento. Quando Eliza sorri ao nos ver, isso destaca as covinhas no rosto redondo dela.

—Boa tarde, Bárbara. Alexandra—, ela fala.

Mas eu me limito a acenar, murmurando um singelo "oi" com um sorriso para lá de forçado. Não por não estar feliz em vê-la, mas por não estar feliz em vê-la na atual circunstância.

—Horário das duas às três com a psicóloga Deise, certo? —, Eliza questiona.

—Isso mesmo—, Bárbara assente, já abrindo a sua carteira para gastar dinheiro à toa comigo.

Sério, eu simplesmente não suporto essa ideia na minha família de que sempre preciso voltar para cá se sair da linha, mesmo que seja por um acidente. Faz parecer que tomo remédios por diversão e não porque quero evitar justamente isso:

—Pode entrar, então. É na sala de número sete—, Eliza fala, abrindo um sorriso mais prático do que verdadeiro agora. — A Deise já lhe aguarda por lá.

Quero revirar os olhos, mas, ao invés disso, apenas lanço um olhar descontente para minha madrinha e sigo para o corredor das salas de atendimento até encontrar a de número sete.

Ao invés de abri-la de imediato, porém, hesito um pouco e até cogito seriamente apenas ficar no corredor. Eu odeio muito tudo isso. Odeio fazer terapia, acima de qualquer outra coisa. Não suporto ter os meus pensamentos avaliados por outra pessoa e tampouco reviver coisas que me magoam apenas para que os meus atos ganhem sentido. É exaustivo. Eu sempre saio dessa sala com a sensação de que corri uma intensa maratona.

Respiro fundo. Dez vezes.

Por pura ironia, quem me ensinou a ficar quieta e fazer isso quando os meus pensamentos são um turbilhão foi a própria pessoa que não quero encontrar agora mesmo.

De súbito, abaixo a maçaneta e empurro a porta, entrando. O consultório não tem nada do glamour hollywoodiano do que é fazer terapia nos filmes e séries. Para ser honesta, há apenas uma mesa, a cadeira alta na qual Deise está sentada e uma cadeira vazia, para que eu ocupe.

Quando me sento, encaro o sorriso da minha psicóloga há quase seis anos. Ela é, basicamente, uma mulher baixinha, de cabelos castanhos granulados com alguns fios grisalhos; seus olhos são grandes e muito azuis por debaixo da extravagante armação púrpura dos seus óculos. Ela também tem bochechas gordinhas e algumas rugas.

—Olá, Alexandra. Há quanto tempo—, enfim, Deise decide parar de esperar por mim e dá início à sessão.

—Seis meses e oito dias, mais especificamente.

FOGO ENCONTRA GASOLINA [COMPLETO]Where stories live. Discover now